34. Emma Swan, a garota de Boston.

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(Boston, anos atrás)

“Chegando assim, mil dias antes de te conhecer...*”

A garota de nove anos olhou para a rua mais uma vez, na esperança de ver um Mercedes azul estacionar em frente à Biblioteca Pública de Boston. Depois, suspirou aborrecida. Infelizmente não tinha sido daquela vez que seu pai chegara para buscá-la.

Em seu walkman, tocava “The Lady In My Life” pela terceira vez, e, mesmo amando as composições de Michael Jackson, escutar várias vezes seguidas a mesma fita, com as mesmas dez canções do artista já a entendiava mais do que distraía.

 A pequena bufou, chutando para longe uma pedrinha, percebendo como ela rolava escadaria abaixo. Se ao menos a biblioteca ainda estivesse aberta, poderia ficar ali, andando pelos corredores, esperando o tempo passar. Mas, para sua infelicidade, era domingo, o que significava que ao meio-dia em ponto as portas do local tinham sido fechadas, fazendo com que os visitantes fossem obrigados a sair.

Estava há mais de uma hora esperando o pai e, tirando alguns estudantes que aguardavam os ônibus de excursão, além de um garoto que permanecia sentado no último degrau da escadaria, não tinha mais ninguém ali. Cansada de esperar sozinha, já exausta da mesma trilha sonora, a menina decidiu se aproximar do garoto que parecia muito empenhado escrevendo alguma coisa em seu caderno.

Seus pais sempre lhe aconselhavam a não falar ou aceitar ajuda de estranhos, como também a andar com um apito no bolso, para usá-lo em qualquer situação de risco, mas algo lhe dizia que aquele garoto era tão inofensivo quanto ela mesma e que seria melhor estar perto dele do que sozinha em um lugar que ficava cada vez mais vazio.

Ao se aproximar, Regina esticou o pescoço e conseguiu ver o lápis grafite deslizando pela folha de papel. Ele estava desenhado, dando vida a uma personagem que parecia ser uma heroína moderna. O desenho lembrava muito os quadrinhos dos X-Men. A menina sorriu, pois aquela sempre fora sua HQ preferida.

O garoto se assustou ao sentir alguém se aproximando sorrateiramente por trás e girou o pescoço, permitindo que a menina visse seu rosto pela primeira vez. Regina percebeu que ele tinha traços suaves, olhos verdes azulados um tanto melancólicos, cabelos ondulados e meio compridos.

A garota sorriu sem jeito por ter sido pega em flagrante, mas ele não sorriu de volta. Mesmo assim, a pequena não se acanhou.

— Oi! — disse amistosa, acenando com uma das mãos.

— Oi! — respondeu tímido, voltando a olhar para a folha em suas mãos, dando a entender que não estava muito interessado em companhia ou não era muito sociável.

O problema é que Regina era bastante curiosa e depois que viu o que ele fazia, não estava disposta a ser ignorada.

— O que você ‘tá desenhando aí? — perguntou sem constrangimentos.

— Uma história em quadrinhos. — respondeu sem se virar novamente.

— Você que criou? Como se chama? — Insistiu sem dar espaço para as respostas.

O garoto suspirou impaciente percebendo que ela não pretendia deixá-lo em paz. Gostava de ir até a biblioteca porque lá podia se manter distante da curiosidade dos pais e dos irmãos, dando asas à imaginação e criando seu próprio mundo, onde uma garota combatia o crime pelas ruas de Boston, trazendo harmonia e justiça para uma sociedade caótica. Mas, agora, com a chegada da pequena abelhuda, sua tranquilidade estava seriamente comprometida.

Ele olhou ao redor. Antes, por estar tão concentrado em sua história, não tinha se dado conta que, além dele e da criança impertinente, só havia um grupo de estudantes em frente à biblioteca.

The Lady In My Life [SwanQueen]Onde histórias criam vida. Descubra agora