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Você é a morte ou o paraíso?
No time to die - Billie Elish

Quando somos quebrados, tudo o que conhecemos sobre nós mesmos é destruído

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Quando somos quebrados, tudo o que conhecemos sobre nós mesmos é destruído. Nos tornamos um emaranhado de cacos, ruínas de quem um dia fomos; e apesar de sermos fortes o suficiente para sobreviver ao trauma, ainda temos uma tarefa pela frente: juntar os caquinhos, reconstruir todas as paredes do nosso ser até nós tornarmos alguém inteiro novamente. Essa tarefa pode levar dias, meses, anos, às vezes nunca acontece. Às vezes simplesmente desistimos e nos contentamos em levar a vida como pessoas quebradas, desistimos de montar o quebra cabeça completo que um dia fomos.

Damon Carter é esse tipo de pessoa, o tipo que desistiu de se concertar a muito tempo e se contenta a usar uma máscara. Sua confiança exagerada, sua arrogância, seus sorrisinhos sujos e seus olhares carregados de luxúria não passam disso, uma máscara, muito bem colocada por sinal. Mas não é preciso muito esforço para ver através dela.

Damon está do outro lado do campus, sentado em uma mesa de piquenique com os caras do hóquei, perto o bastante para que eu veja seu rosto bem esculpido. O bastante para que eu o observe com atenção, o suficiente para que eu perceba que Damon nunca sorri, não de verdade. Seus sorrisos são forçados, usados estrategicamente para seduzir garotas ou para ser sarcástico, como sempre faz comigo. Mas ele nunca gargalha, como se não existisse razão boa o bastante para fazê-lo. Apesar do time de hóquei rir alto o bastante para que eu escute de onde estou, Damon continua sério, o único resquício de emoção é enviado a Dylan por um retorcer de lábios mas nunca, nunca, uma risada ou um sorriso completo.

Dentro desses quarenta e cinco minutos, que passei o observando, o peguei vagando pelo menos cinco vezes. Como se sua mente estivesse em um lugar muito, muito distante. São nesses momentos que o francês franze as sobrancelhas ou fecha os olhos com força, tentando afastar o que lhe assombra. São nesses momentos que flashes de dor ganham seu rosto e são nesses momentos que percebi em mim, uma vontade imensa de abraçá-lo.

Parece besteira mas quando Tim morreu, eu também fui quebrada, assim como Damon. Houve ocasiões em que eu me esquecia de que eu podia voltar a ser eu, às vezes eu ainda me esqueço de que meu coração ainda pode se curar. Eram nesses momentos de esquecimento que mamãe me abraçava, tão forte que meus caquinhos se juntavam dentro do meu peito e eu me sentia alguém de novo, eram esses abraços que me lembravam que eu sou mais que o trauma, sou mais que um coração quebrado. Me pergunto se Damon tem alguém para lembrá-lo disso, lembrá-lo de que ele é mais do que a sua infância fodida, lembrá-lo de que a culpa não é dele. Um não gigante e intuitivo pipoca em minha mente e a única coisa que consigo desejar é poder fazer isso por ele.

Mas ao mesmo tempo, as palavras ditas pelo francês ontem a noite, pipocam em minha memória e uma onda de raiva me atinge. Eu sempre soube que Damon era do tipo mulherengo, o tipo de cara que dorme com várias garotas e nem mesmo se lembra do nome delas no dia seguinte. Apesar de ser irritante, extremamente convencido e me meter em confusão na maioria das vezes, ele me protegia, e uma parte idiota de mim acreditou que ele se importava comigo. E depois de ouvi-lo contando suas histórias, depois de sentir todas aquelas cicatrizes sob meus dedos, não foi difícil começar a me importar com ele também. Agora, não consigo deixar de me perguntar se toda aquela preocupação comigo era apenas mais uma de suas máscaras. Era só mais uma mentira, Damon?

DAMON | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora