DAMON | +18

?

A garota sorri para o uber, agradece pelos serviços e se despede. Os saltos de suas botas fazem barulho ao se chocarem contra os bloquetes na rua escura de Dijon. Ela aperta o casaco pesado contra o corpo e esboça um pequeno sorriso ao olhar em volta, encantada com cada traço da cidade. Sua admiração paira sobre os prédios históricos, sobre os desenhos que decoram as paredes de uma casa, nos batentes arredondados e bem esculpidos nas portas.

Ela está bem no centro de Dijon, atravessa uma praça e se encanta pelas luzes que decoram as árvores. Em outra hora, o ponto turístico estaria bem mais agitado, com crianças correndo, casais jovens registrando momentos entre si e os mais velhos estariam apenas apreciando o momento. Mas agora, o relógio de pêndulo da cidade exibe o horário 23:45 e os franceses, pelo menos os dessa pequena cidade, parecem adormecer cedo e as ruas estão quase que completamente vazias. A garota pensa que o lugar fica ainda mais bonito assim, com o ar de mistério pairando sobre as casas e o silêncio beijando suas estruturas.

Ela poderia ter pedido para que o Uber, um homem gentil de pelo menos sessenta e cinco anos, a levasse na porta do hotel aconchegante em que ela e o namorado se hospedaram. Não teria que andar tanto e as botas de salto luxuosas não estariam machucando seus pés como acontece agora. Mesmo assim, ela aceita a dor, porque admirar esta cidade é incrível.

A garota sorri de forma apaixonada quando seu celular vibra, no visor, o apelido carinhoso que ela deu ao namorado pisca. Ela lhe envia uma selfie, com as luzes amarelas da cidade beijando sua pele alva e dourando ainda mais seus fios de cabelo. Lhe envia um áudio dizendo o quão apaixonada está por Dijon. Ele promete que vão fazer um passeio antes de ir embora, porque tudo o que ele quer na vida é fazer essa mulher feliz. O coração da garota bate mais forte com a promessa porque ela ama a ideia.

A garota está virando a última rua necessária para chegar ao hotel quando eles finalmente se despedem. Ele pede que ela tenha cuidado e vá para casa, ela diz que está fazendo exatamente isso.

Ela guarda o celular no bolso do jeans, ainda está sorrindo quando ouve passos que não são seus. Se vira por precaução, sentindo um arrepio estranho na coluna e é neste momento que algo pesado atinge sua cabeça.

Ela cai, desacordada.

Ela não percebeu que o homem a seguia desde que deixou o apartamento de sua mais nova família.

Algo dentro dela diz que precisa ligar para ele, para o francês que ela ama, porque a garota sabe que ele enfrentaria o próprio diabo se ousassem tocar em um fio de seu cabelo. Mesmo assim, ela não tem forças o suficiente para fazer qualquer coisa e tudo o que pode fazer é se desesperar internamente enquanto é arrastada pelas ruas da cidade que a dez segundos atrás era um paraíso em sua mente.

Ela se entrega a escuridão, a dor é demais para que consiga manter os olhos abertos. Á sua frente, o homem assustador sorri, gargalha e se alegra.

Ele sabe que venceu.