"Posso dormir aqui hoje?", perguntou Álvaro.
O pedido dele não era sem motivo. Uma chuva torrencial caía sobre a cidade e começavam a chegar pelas redes sociais relatos de alagamentos e desabamentos de árvores em vários pontos da cidade, além de engarrafamentos.
"Claro, sem problema", respondi.
Mais tarde, quando percebi que ele estava com sono, arrumei a cama e o levei até o quarto. Ele agradeceu, mas não entendeu quando eu, com um travesseiro e um cobertor embaixo do braço, saí do cômodo.
"Para onde está indo?", perguntou.
"Para a sala, vou dormir no sofá"
"Por quê? Está com medo de dividir a cama comigo? Eu não tenho pulgas, Gautier"
"Não é nada isso!", respondi constrangido.
"Sua cama é espaçosa o suficiente para nós dois, logo você não tem motivo para dormir no sofá"
"Eu sempre ofereço meu quarto para as visitas, já que não tenho quarto de hóspedes", justifiquei.
"Não gosto disso, sinto que estou incomodando em tirar você do seu lugar, não acho certo"
"Bobagem..."
"Vamos, volte para a sua cama, eu que durmo no sofá"