Também havia algo diferente em sua fisionomia, no modo como sorria, nos seus maneirismo, algo como artificialidade, performance e caricatura, mas o que consolidou essa percepção foi a metamorfose grotesca que testemunhei em seguida.
Sua pele começou a mudar de cor, passando do branco ao vermelho, e adquiriu uma consistência gélida e pegajosa. Sua mandíbula e seu maxilar cresceram e se projetaram para a frente, deformando seu rosto, que adquiriu uma feição animalesca.
O que estava sobre mim não era Álvaro, era uma besta, uma criatura que, usando a 'casca' do meu amigo, me enganara. De repente, suas garras se cravaram como ganchos em meus músculos, penetrando até os ossos e estraçalhando meus nervos.
E então eu acordei e compreendi que tudo não havia passado de um pesadelo, mais uma vez.
O dia acabara de amanhecer e um vento úmido soprava do oceano. Vindos de fora da barraca, eu escutava os passos e os murmúrios de nossos colegas de acampamento, que também haviam acabado de despertar. Era hora de preparar o café-da-manhã.
Álvaro - o verdadeiro, não o tarado e monstruoso que me visitara durante o sono - estava deitado comigo embaixo dos cobertores, os cabelos claros despenteados, os braços ainda enlaçados ao redor da minha cintura em um abraço protetor.