"Álvaro", falei tentando manter a serenidade. "Eu posso fazer de conta que nada disso aconteceu, mas primeiro você precisa pedir desculpas e prometer nunca mais falar comigo dessa forma"
Quando terminei de fazer essa observação, meu rosto estava banhado em lágrimas - suas palavras me machucavam, eu não entendia o que estava acontecendo, o que havia de errado com ele?
"Ei, não chore", disse ele sentando ao meu lado. "Eu posso ter passado um pouco dos limites sim, mas não se preocupe, não vai acontecer de novo", continuou enquanto me enxugava as bochechas. Em seguida, segurou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo.
Eu esperava há muito por esse momento, mas as circunstâncias em que tudo se passava quebraram completamente o encanto. Eu não sentia nenhuma satisfação, seus lábios não tinham frescor, eram insípidos, estranhos, quase mórbidos.
Eu não me sentia beijando uma pessoa, não a pessoa que eu amava.
Por um momento, me perguntei, angustiado, se havia me apaixonado por alguém que não existia. Estaria ele desde o começo interpretando um personagem? Não passaria de um embuste a pessoa carinhosa, amigável e companheira que eu conhecia?