Eu estava em uma galeria subterrânea cujo ar, pesado e viciado, remetia ao de uma sepultura. Os únicos sons que escutava, além dos meus passos nas poças de águas pardas e lamacentas, eram as batidas do meu coração.
Esse lugar era amplo e repleto de grutas menores, as quais davam em corredores estreitos, tortuosos e sombrios que, escavados na rocha em tempos imemoriais, levavam a lugares que eu jamais arriscaria conhecer.
De repente, me deparei com um paredão em cuja superfície estavam entalhados centenas de desenhos e figuras. "Quem quer que tenha esculpido essas formas não estava representando seres desse mundo", falei para mim mesmo, abismado.
Eu contemplava um pesadelo
O que esta diante de mim era um bestiário, um mural de criaturas nefastas e horrendas. Humanoides com asas membranosas e garras retorcidas, coisas robustas e disformes que rastejavam como vermes, monstros com mandíbulas e maxilares desproporcionais, feras tentaculares...
Então escutei um ruído seco de algo se partindo, eu tinha pisado em algo. Me abaixei para verificar do que se tratava e, ao iluminar o objeto, deparei-me com um osso humano, uma costela.
Havia também fêmures, tíbias, úmeros e vértebras, os quais, todavia, não pertenciam somente a um indivíduo. Eu estava em um lugar onde repousavam os restos mortais de um número muito expressivo de pessoas, um grande ossuário.
Colados nas paredes e empilhados uns sobre os outros de maneira grotesca e quase cerimonial, estavam crânios, centenas deles - ou seriam milhares? Escurecidos e deteriorados pela passagem do tempo, eles, com órbitas gastas e superfícies fissuradas, eram o pavoroso retrato do insondável, da finitude que espreita todas as criaturas que pisam sobre a terra.