31 de Outubro de 1991
"Sobriedade e Halloween"
Harry arfou na cama, ele esperava aquele desespero que sempre o atingia e o deixava zonzo, ele esperava que seus gritos cortassem a sua garganta e o deixava sem ar, esperava o sentimento da sua pele se dilacerando, junto com seus músculos, esperava ouvir o alto ranger de seus ossos crescendo e se realocando em seu pequeno corpo. Ele esperava a dor que o sucumbia a perder o controle.
Tudo aquilo veio, todo o caos, todos os barulhos e todos os sentimentos. Absolutamente tudo veio. A dor veio, mas foi em proporções tão menores no qual ele estava acostumado que ele mal as sentiu.
E quando todo o processo tinha acabado, ele saiu da cama e se apoiou em suas patas traseiras, mas seu corpo ficava meio curvado, era um pouco incômodo. Ele podia sentir o chão sobre seus pés, ouvir as madeiras rangendo enquanto ele passava, ele respirou fundo, sentindo o ar frio cortando seu pulmão como se fosse composto de vidro estilhaçado. Ele olhou em volta e andou pelo ambiente, farejando o ar como se caçasse por algo.
Harry não estava totalmente no controle, mas ele tinha uma influência grande sobre o lobo. E mesmo ele parecendo sem jeito quanto a ter consciência do que estava fazendo, mesmo sentindo o cheiro de sangue vindo do lado de fora, mesmo estando frio e a casa estar com um cheiro úmido, Harry tinha o controle.
Sua visão era estranha e ampla, mais do que ele estava acostumado a enxergar normalmente, ele ficou tonto nos primeiros momentos. Ele conseguia enxergar muito bem, mesmo o cômodo estar em um completo breu. Darius estava perto dele e sibilava algo, mas Harry não conseguia entender o que ele dizia.
Harry nunca saberia explicar como foi estar consciente pela primeira vez. Foi algo além da sua imaginação, como um sonho. O único sentimento que ele se permitiu sentir com todas as forças foi o de estar sóbrio, de ter o controle. Seu peito ardia e ele tinha se machucado em um lugar perto do peito, ele não sabia se tinha sido durante a transformação ou quando ele estava tentando entender como suas patas funcionavam.
Ele realmente não sabia. Só sabia que quando seu lobo cansou de andar, ele tentou quebrar as janelas para sair, e quando percebeu que estava dividindo a consciência com outra pessoa, ele tentou se machucar e se bater contra as paredes para afastar aquele sentimento.
Harry conseguiu o parar minutos depois de ter outro corte, dessa vez em sua cintura. Talvez ele e o lobo não fossem tão diferentes assim. Harry conseguia o sentir agitado, louco para sair daquele lugar e assustado. Estava assustado por não estar totalmente no controle. Harry achou que aquilo de disputa de dominância seria um problema no futuro, mas tentou não focar naquilo.
Ele focou no sentimento de voltar ao normal, quando a lua sumiu do céu. Ele estava sentado na poltrona abandonada. Estava exausto, machucado, zonzo, frágil e com frio. A primeira coisa que ele fez quando voltou a ser um garotinho foi se sentir em casa, como um abraço quentinho que gritava que ele era bem vindo e ele chorou. Chorou de um modo que não achava que ia novamente. Ele soluçava em busca de ar e tremia por conta do frio. Ele se encolheu, se abraçou e chorou ainda mais, escondendo o rosto em seus joelhos, como se aquilo ajudasse. Ele queria se sentir em casa para sempre, queria abraçar o sentimento de ser bem vindo e se sentir bem. Ele queria o sentimento de ter o controle.
Ele chorou porque tinha coisas para lembrar daquela noite. Ele conseguia lembrar dos cheiros, do modo como ele enxergava, dos barulhos que suas garras faziam quando eram cravadas no chão para ele se manter firme, ele lembrava de estar envolto no silencio e só conseguir ouvir o som dos seus próprios batimentos cardíacos. Ele chorou porque se lembrava de sentimentos e sensações. Chorou porque pela primeira vez sentiu algo além da dor pura e destrutiva.
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Full Moons - Primeiro Livro
ФанфикMonstro. Harry se habituou a ser chamado assim, ouviu tantas vezes que era até fácil assumir que ele realmente era um. Sanguinário, monstro, desprezível, e asqueroso. Algo sobre a força que aquelas palavras tão ásperas, e que já não tinham o efeito...