Quando a Vida Acontece - Vol 2

Capítulo 1

-Tim-tim!

-Iuhuu!

As taças de margarita chocaram-se umas contra as outras. Tommy e Baby deram um gole nas suas, enquanto Loly deu um gole na sua água, colocou a garrafinha sobre a mesa e tirou um celular de uma pequena bolsa de festa.

-Selfie, gente! Tem de ter selfie. E depois tem de ter discurso!

Tommy e Baby se entreolharam:

-Discurso?

-Sim! Meu discurso – E acrescentou, tímida: - Para vocês.

-Tá, então vamos fazer logo essa selfie que estou louca para ouvir isso – Baby juntou a cabeça com a do Tommy e se preparou para a foto.

Loly se colocou na fotografia também e deu um sorriso radiante. Não era sempre que estava tão feliz, mas aquele era um desses momentos. Sabia que havia sido a fonte de inspiração da nova coleção da estilista Anna McCallen, também conhecida como Baby, e aquela era uma honra muito maior do que podia sequer começar a imaginar.

-E esse discurso, como é? - Perguntou Tommy, dando mais um gole na sua margarita.

Loly pigarreou. Tinha decorado um lindo texto, mas agora ele começava a se embolar na sua cabeça e ela não tinha mais muita certeza como começava, então resolveu apenas procurar no coração o que tinha para dizer, e foi o que fez:

-Quando você falou sobre essa coleção, Baby, eu fiquei muito preocupada. Achei que era sobre uma doença, sabe? Mas não foi, foi sobre a vida. Eu não sei se estou muito preparada para absorver tudo o que você tinha para me mostrar, mas estou muito feliz que você esteja disposta a me ensinar e a ensinar um monte de meninas como eu. Foi o máximo. E teve uma época na minha vida que uma das pouquíssimas coisas boas que eu tinha era o meu trabalho com o Tommy. Ele me deu dignidade e ajudou a salvar um pouco da minha autoestima. Obrigada pela oportunidade, Tommy.

-Ah, garota, dá um abraço - Baby largou sua margarita e envolveu Loly em seus braços.

-Há, derreteu o coração da ogra – Tommy brincou.

-Vem cá você também, bicha maldita – Baby também o incluiu em um abraço triplo.

Era mesmo uma coleção incrível e um desfile espetacular, com modelos de todos os tipos físicos e raças mostrando que a diversidade estava mais na moda que se matar de fome em busca de um ideal de beleza. Se matar como Loly havia chegado bem perto de fazer. Não dava para dizer que aqueles dias estavam para trás; afinal, eles eram muito recentes. Nem que Baby revolucionaria a moda: ela ainda era uma gota no oceano. Mas apontavam um caminho. E isso, no momento, era tudo que Loly e tantas outras como ela precisavam.

-Por falar em oportunidades – Tommy disse, quando se soltou das duas. - Minha sogra estava no desfile e disse que quer um de cada. Dindim!

-As roupas são meio jovens para ela. E não são cafonas – Loly falou, na dúvida, enquanto Baby parecia um pouco insultada por ter sido elogiada pela sem gosto da Patricia.

-Eu sei, mas ela quer gastar, ela vai pagar, quem se importa?!

-A Patricia é como você, Tommy, só que com dinheiro!

-Eu sei! A ricaça brega é meu espírito animal!

Loly se desgarrou da dupla e foi andar pela boate lotada. Passou pela pista de dança, pela piscina com caixas de som onde algumas pessoas dançavam sentadas nos ombros umas das outras, as caras roupas de festa molhadas e coladas ao corpo, e pensou que um dia queria ser assim, tão desprendida que chegaria a arruinar uma boa roupa simplesmente para se divertir sem se preocupar se seu corpo estava marcando ou não. Não parou no bar, agarrada à sua garrafinha d'água, e chegou a uma mesa à qual Jake estava sentado. O fato de ele estar ali havia aquecido seu coração, pois ele era fã de livros e videogames, não de desfiles e boates, mas quis ver a homenagem que haviam feito a ela em primeira mão. Loly se aproximou e se sentou sobre sua perna e ele deu um beijo em seu ombro. Do seu outro lado, Allison, amiga deles e vestindo um lindo vestido azul marinho larguinho e curto que Loly a havia ajudado a escolher e comprar especialmente para a ocasião, reclamava: