Capítulo 35

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Uma leve brisa agitava as cortinas e trazia o som do tráfego lá fora. Do lado de dentro, Loly estava deitada, confortável e quentinha, na cama, a cabeça na curva do braço do Jake enquanto ele passava os dedos pelos cabelos dela em um delicioso cafuné.

-Jake?

-Hmm? - Foi a resposta, preguiçosa. Os olhos dele estavam fechados e, se não fosse pelos movimentos da sua mão, ele poderia muito bem estar dormindo.

-Você já fumou maconha no loft da casa da madrinha?

-Você não? - Ele perguntou, um pouco divertido, um pouco surpreso.

-Não! Vocês são todos... maconheiros?

Ele soltou uma risadinha.

-Não sou maconheiro.

Loly ficou em um silêncio ressentido, pois mais uma vez havia ficado de fora de algo que sua família inteira participava. Tudo bem que nunca tivera a menor curiosidade de subir ao terraço do loft. Aliás, não sabia nem que aquilo era algo que as pessoas faziam. E definitivamente não se interessava em fumar maconha. Ainda assim, podiam tê-la convidado.

-Você ficou chateada, Loly? - Jake abriu os olhos e perguntou, pois já estavam chegando em um estágio em que ele conseguia ler o que ela pensava.

-Eu só estou me sentindo como se tivesse perdido um ritual de passagem importante.

-É... - Ele ficou em um silêncio pensativo, para em seguida acrescentar: - Mas se te serve de consolo, eu não fumei meu primeiro baseado no terraço do loft.

-Não? Como foi?

-Com a minha mãe.

-O quê?! - Loly se sentou.

Jake, embora acostumado àquele tipo de reação, riu do espanto da namorada e jogou mais um item na confusão:

-Na minha família é como uma tradição. Minha mãe fumou com os meus avós.

-Você está brincando! - Ela gaguejou.

Jake se sentou e ajeitou os travesseiros contra as costas para ficar mais confortável.

-Segundo a minha mãe, não tem nada a ver não legalizarem a maconha, já que eu posso a qualquer hora comprar uma garrafa de tequila, encher a cara, me matar ou matar alguém.

-Mas drogas viciam.

-Álcool também, se você tiver predisposição pra isso. Também segundo ela, esse tipo de coisa tem de ser feito às claras e com orientação, senão acontece o que aconteceu com a tia Malu, que cresceu sem poder fazer nada e aí, quando fez, fez errado. E, se você for pensar bem, até que faz sentido.

Fazia, mas Loly cresceu ouvindo histórias de terror sobre como a madrinha teve uma overdose e quase morreu e como o padrinho foi ressuscitado com uma injeção de adrenalina no coração e muito a espantava que a sua geração, ao invés de fugir das drogas, lidasse com ela de forma tão natural. E como eles não se preocupavam com a perda do controle sobre o que pensavam, o que sentiam, como agiam. Loly tinha pavor de não ter controle sobre o próprio corpo. Nem beber ela bebia mais.

-Ok, mas vamos combinar uma coisa? - Ela perguntou. - Se a gente tiver filhos, eles não vão passar pelo seu ritual de família. A tradição termina com você, a não ser que o Oyekunle queira continuar, mas aí é problema dele.

Jake abriu uma delícia de sorriso, mas, no momento em que ia responder, o telefone tocou.

-Oi, Allie – Loly disse, depois de ver o número na tela.

-Oi, vamos sair?

-Mas eu tenho aula amanhã de manhã! Não posso bombar, já distribuí meu convite de formatura – Ela sorriu.

Quando a Vida Acontece - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora