Renata tinha uma vida maravilhosa e privilegiada e tinha total consciência disso. Ela não era de reclamar à toa, recusava-se a se colocar no papel de vítima, a não ser que, claro, fosse uma, e podia se lembrar perfeitamente dos momentos em que chegou ao fundo do poço, até porque foram poucos.
-A maioria foi causada pelos filhos – Loly disse e Renata se apressou a negar, chocada:
-Não é verdade!
Mas logo se calou, porque talvez fosse mesmo.
-Filhos são difíceis. Eles dão alegria e dor de cabeça, é normal. Todo mundo se sente assim – Renata se defendeu.
-Você não aceita que a Emily tenha síndrome de Down...
-Mas quem aceitaria? Amo a Emily, mas quem fica satisfeita por ter um filho com necessidades especiais? - Renata se exaltou.
-Vamos manter o foco na Loly – Mark disse.
-Ok. Eu amo os meus filhos. Todos os três. E estou muito feliz por tê-los. Mas a Phoebe está doente, estamos aqui justamente porque ela está se tratando, e não, Phoebe, não há razão alguma para eu estar feliz com isso. E não sou só eu, mas essa doença afeta todos nós.
-Claro – Falou Mark. - Por isso eu te convidei para participar.
-Devia ter convidado o Dylan também. Ele acaba de largar uma universidade de ponta nos Estados Unidos por causa dela.
-Ele estava infeliz lá, mãe - Loly revirou os olhos.
-Estava infeliz lá porque você estava dando trabalho aqui.
-É muito fácil jogar a culpa toda em cima de mim.
-Não é o que todos vocês fazem comigo?
-Será... - Mark interrompeu quando Renata e Loly ficaram em silêncio, ambas de braços e pernas cruzados, caras trancadas, sem olhar uma para outra – Que o que vocês jogam na cara uma da outra não sejam coisas que vocês têm em comum?
Elas olharam para ele, boquiabertas e chocadas.
-Eu como a minha comida! - Renata falou.
-Eu não tenho vergonha dos meus filhos! Aliás, nem tenho filhos! Mas não teria se tivesse!
-Estou falando sobre a mania de controle – Ele explicou. - A síndrome de Down da Emily foi algo que saiu do controle da Renata. Assim como a mudança do Dylan e o transtorno da Loly. E Loly, controle está intimamente ligado ao seu distúrbio. O que você não pode controlar na sua vida, você controla na sua comida. Como as suas regras.
-Que regras? - Renata perguntou, interessada porque ninguém estava fazendo dela a pior pessoa do mundo.
-Eu faço regras – Loly resmungou. - Mas em que isso me ajuda?
-Se conhecer te ajuda em tudo! E você é filha da sua mãe. Se conhecer passa por ela também.
Nossa, que mau humor. E Loly tentou mesmo procurar coisas em comum com sua mãe. Pensou que era um remédio bem amargo, mas, se estava disposta a ficar curada, tinha de tomá-lo. Mais tarde, com Tommy e Emily, enquanto escolhia bolsas da grife da irmã para oferecer a uma cliente em potencial, narrou o problema.
-Vocês têm esse cabelo lindo! - Emily falou.
-Obrigada, Em, mas acho que não é esse tipo de traços em comum que o médico tinha em mente. Acho que é mais no sentido da ansiedade quando as coisas não saem do jeito que a gente quer.
-Vocês duas são bem focadas no trabalho, o que não é defeito!
-A mamãe trabalha demais – Emily fez uma careta.
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Quando a Vida Acontece - Vol 2
RomanceCrescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Loly está de volta, vencendo fantasmas um dia de cada vez. Ella, uma modelo internacional bem sucedida, está prestes a embarcar em uma mudança que pode transformar completamente a sua vida. Dylan...