Capítulo 18

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Era uma recepção como todas as outras, sóbria e impessoal, com grandes sofás e poltronas beges e mais ninguém lá esperando além deles, nem mesmo uma recepcionista. Provavelmente psiquiatras incrivelmente renomados fossem assim mesmo, o que não deixava de criar um certo nervoso de expectativa em Loly e um desconforto em Jake de que talvez estivessem no lugar errado. Havia uma caixa de som tocando, bem baixinho, uma música de elevador genérica e algumas revistas que, por incrível que pareça, eram recentes. Loly absorveu o fato e disse:

-Isso deve custar uma fortuna, Jake.

-O tio Eddie disse que era para a gente não se preocupar.

-Mas...

-Então não se preocupa, tá? - Ele segurou o rosto dela e o virou para ele. - As pessoas querem cuidar de você, então deixa. É legal.

Loly assentiu, desconfortável. Olhou para a porta onde o médico estava e tentou ouvir algo da outra sessão. Nenhum ruído chegava a ela. Escondeu sua mão pequena na mão grande do Jake, se perguntando por que se sentia assim. Era um médico como outro qualquer. Era como a psicóloga inútil.

Enfim, a porta se abriu e um homem baixo, moreno e de barba, por volta de quarenta anos e roupas sociais saiu acompanhando uma mulher muito bem-vestida. Os dois deram um sorrisinho que mal deu a entender que haviam visto Jake e Loly sentados na recepção, e o homem abriu a porta de saída e apertou a mão da mulher.

-Nos vemos semana que vem, então?

-Sim, boa semana.

-Boa semana.

Assim que fechou a porta, o psiquiatra deu um sorriso largo para Loly:

-Você é a Phoebe?

-Sim – Ela respondeu, sem largar a mão de Jake. - Mas todos me chamam de Loly.

-Muito prazer, Loly – Ele estendeu a mão e a menina teve de largar a de Jake para apertá-la. - Sou o Dr. White, mas todos me chamam de Mark. E você é?

-Jake – Ele se levantou e também apertou a mão de Mark. - Sou namorado da Loly.

-Ótimo! Quer participar também? Você gostaria que ele participasse, Loly?

Pegos de surpresa pela pergunta, os dois se entreolharam e ela finalmente fez que sim com a cabeça.

-Ok – Com um gesto da mão, Mark os conduziu à outra porta.

Não passava som por ela porque, na verdade, eram duas. Havia a porta branca que dava na sala de espera e uma bege, mais pesada, que Mark fechou também. Loly podia se sentir aprisionada, mas na verdade teve uma sensação de segurança, que a fulana ou beltrana que viessem depois dela jamais saberiam os seus segredos. Era uma sala pintada em cores quentes, mas suaves, com um tapete dando ar de casa ao invés de consultório. Loly imaginou que a poltrona confortável ao lado da escrivaninha era do Mark. Era ele que passava a maior parte do tempo sentado e merecia o lugar mais ergonômico. Também havia uma outra poltrona e um sofá, e foi no último que Loly e Jake se sentaram.

-Querem água, café, chá?

Jake e Loly recusaram e agradeceram, se perguntando de onde viriam as ofertas, já que não tinha recepcionista para prepará-los. Então Mark sentou-se na sua poltrona (embora "esparramou-se" fosse um verbo mais apropriado) e pediu:

-Então, Loly, me conte a sua história.

-Tá - Ela disse, com um pouco do nervosismo sumindo. Ela já havia feito isso um milhão de vezes, mas resolveu ser mais clara, até por se sentir mais à vontade. - Eu tenho tendência para engordar. Sempre fui gorda. Uma criança gorda, uma adolescente gorda, uma adulta gorda – Ela achou que o Mark fosse interrompê-la nesse pedaço, pois todos o faziam, mas quem fez isso foi Jake.

Quando a Vida Acontece - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora