Capítulo 15

25 11 3
                                    


-Menos oitocentos gramas – A nutricionista disse, com um olhar confuso bem parecido com o de Loly. Havia bebido uma enormidade de água antes da consulta. Se a balança acusava oitocentos gramas a menos, então seria possível que ela havia emagrecido mais que isso? Será que conseguira perder mais que um quilo? Ela mordeu o interior das bochechas para não sorrir. - Você seguiu a dieta, Phoebe?

-Segui – Ela fez que sim com a cabeça, mentindo descaradamente. - Segui, sim. Mas eu tive uma virose semana passada. Posso ter perdido peso por causa disso.

A nutricionista pareceu em dúvida e, voltando para sua mesa, disse:

-De qualquer forma, vou passar um suplemento para você e alguns exames. Me traz na próxima consulta, tá?

-Claro.

Ela começou a escrever enquanto Loly olhava ao redor, se despedindo daquela fase da sua vida. Não haveria próxima consulta. Não retornaria lá. Tinha suas regras, seus exercícios, seus remédios e suas enzimas e não havia sentido em continuar um teatro de tratamento que não tratava nada.

Foi o momento em que Loly desistiu de vez.

Ao sair do enorme edifício comercial, ela jogou as receitas em uma lata de lixo e tomou o caminho para o metrô. Precisaria encontrar o Tommy dali a vinte minutos e já colocou o celular no "não perturbe" para que ele não tocasse nem vibrasse quando Jake mandasse recado sobre o lanche, assim não chamando a atenção do primo.

-Quer ficar com meu lanche? - Ela perguntou para uma moradora de rua próxima à estação.

-Muito obrigada, filha – A mulher respondeu.

A culpa a acompanhou por todo o trajeto, mas ela não era maior que a dor de ver suas roupas ficando justas. Que o pavor da balança subindo. Que a tristeza do seu manequim mudado. Do desconforto na cama com Jake, procurando formas de ele não notar a gorda horrível que ela era.

Uma parte sua tinha total consciência do caminho que estava tomando, do quanto chegara abaixo do peso e desnutrida aos médicos no início do tratamento. Mas ela não tinha forças para se ver engordando e não fazer nada. Podia morrer, mas morreria magra.

Assim que conseguiu sinal, ligou para a psicóloga. Disse que teria de interromper as consultas, pois precisava viajar. Não precisava mais se sentar em um consultório uma vez por semana para odiar a sua mãe. Fazia isso o tempo inteiro e em qualquer lugar.

Agora, sim, estava assumindo o controle de verdade.

À noite, Jake tinha um trabalho de grupo. Ela pensou que isso fosse livrá-la de jantar, mas ele apareceu às sete, dizendo que tinha vinte minutos e que depois sairia para encontrar os colegas de turma.

-Mas...? Por quê? - Ela perguntou, atônita.

-Porque vim jantar com você. E não ia perder a chance de ouvir sobre como foi o seu dia – Ele se serviu com uma certa pressa e sentou-se à mesa, enquanto ela começava a selecionar o que ia comer.

Loly riu. Seu namorado a sufocava, mas era uma graça.

-A Herdeira Insuportável não gostou de nada do que levamos.

-Claro, ou ela não seria Insuportável.

-Só que ela é Herdeira, o que significa que é muito rica, então temos que achar um jeito de agradá-la. Minto, ela gostou de um cachecol. Para a nossa sorte, era um Valentino de mil e quinhentas libras.

-O quê?! - Jake quase se engasgou com a comida. - Alguém paga mil e quinhentas libras por um cachecol?!

-Paga se ela for uma herdeira. Era cachemira, Jake, lindo de morrer. Vendemos o cachecol e temos de voltar lá amanhã. Foi chato e cansativo e ela é impossível. Não dá para conquistá-la. Eu e Tommy estamos investindo no perfil Dupla Adorável para conquistar todo mundo, e cobrimos todos os nossos clientes, menos a Herdeira Insuportável.

Quando a Vida Acontece - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora