-Menos oitocentos gramas – A nutricionista disse, com um olhar confuso bem parecido com o de Loly. Havia bebido uma enormidade de água antes da consulta. Se a balança acusava oitocentos gramas a menos, então seria possível que ela havia emagrecido mais que isso? Será que conseguira perder mais que um quilo? Ela mordeu o interior das bochechas para não sorrir. - Você seguiu a dieta, Phoebe?
-Segui – Ela fez que sim com a cabeça, mentindo descaradamente. - Segui, sim. Mas eu tive uma virose semana passada. Posso ter perdido peso por causa disso.
A nutricionista pareceu em dúvida e, voltando para sua mesa, disse:
-De qualquer forma, vou passar um suplemento para você e alguns exames. Me traz na próxima consulta, tá?
-Claro.
Ela começou a escrever enquanto Loly olhava ao redor, se despedindo daquela fase da sua vida. Não haveria próxima consulta. Não retornaria lá. Tinha suas regras, seus exercícios, seus remédios e suas enzimas e não havia sentido em continuar um teatro de tratamento que não tratava nada.
Foi o momento em que Loly desistiu de vez.
Ao sair do enorme edifício comercial, ela jogou as receitas em uma lata de lixo e tomou o caminho para o metrô. Precisaria encontrar o Tommy dali a vinte minutos e já colocou o celular no "não perturbe" para que ele não tocasse nem vibrasse quando Jake mandasse recado sobre o lanche, assim não chamando a atenção do primo.
-Quer ficar com meu lanche? - Ela perguntou para uma moradora de rua próxima à estação.
-Muito obrigada, filha – A mulher respondeu.
A culpa a acompanhou por todo o trajeto, mas ela não era maior que a dor de ver suas roupas ficando justas. Que o pavor da balança subindo. Que a tristeza do seu manequim mudado. Do desconforto na cama com Jake, procurando formas de ele não notar a gorda horrível que ela era.
Uma parte sua tinha total consciência do caminho que estava tomando, do quanto chegara abaixo do peso e desnutrida aos médicos no início do tratamento. Mas ela não tinha forças para se ver engordando e não fazer nada. Podia morrer, mas morreria magra.
Assim que conseguiu sinal, ligou para a psicóloga. Disse que teria de interromper as consultas, pois precisava viajar. Não precisava mais se sentar em um consultório uma vez por semana para odiar a sua mãe. Fazia isso o tempo inteiro e em qualquer lugar.
Agora, sim, estava assumindo o controle de verdade.
À noite, Jake tinha um trabalho de grupo. Ela pensou que isso fosse livrá-la de jantar, mas ele apareceu às sete, dizendo que tinha vinte minutos e que depois sairia para encontrar os colegas de turma.
-Mas...? Por quê? - Ela perguntou, atônita.
-Porque vim jantar com você. E não ia perder a chance de ouvir sobre como foi o seu dia – Ele se serviu com uma certa pressa e sentou-se à mesa, enquanto ela começava a selecionar o que ia comer.
Loly riu. Seu namorado a sufocava, mas era uma graça.
-A Herdeira Insuportável não gostou de nada do que levamos.
-Claro, ou ela não seria Insuportável.
-Só que ela é Herdeira, o que significa que é muito rica, então temos que achar um jeito de agradá-la. Minto, ela gostou de um cachecol. Para a nossa sorte, era um Valentino de mil e quinhentas libras.
-O quê?! - Jake quase se engasgou com a comida. - Alguém paga mil e quinhentas libras por um cachecol?!
-Paga se ela for uma herdeira. Era cachemira, Jake, lindo de morrer. Vendemos o cachecol e temos de voltar lá amanhã. Foi chato e cansativo e ela é impossível. Não dá para conquistá-la. Eu e Tommy estamos investindo no perfil Dupla Adorável para conquistar todo mundo, e cobrimos todos os nossos clientes, menos a Herdeira Insuportável.
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Quando a Vida Acontece - Vol 2
RomanceCrescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Loly está de volta, vencendo fantasmas um dia de cada vez. Ella, uma modelo internacional bem sucedida, está prestes a embarcar em uma mudança que pode transformar completamente a sua vida. Dylan...