Quando a Vida Acontece - Vol 2

Capítulo 9

Um domingo preguiçoso que Ella passaria inteiro na cama, se fosse possível. Não era. Tinha que ver India Rose, que crescia desabaladamente toda vez que ela piscava os olhos e precisava planejar uma festa. O que a lembrava:

Ella pegou o celular, digitou, enviou, e logo ouviu um outro aparelho vibrando no banheiro, onde Tom se barbeava. Dali a dois segundos...

-Que porra é essa?

-Eu te incluí no grupo da festa da India Rose.

Tom parou na porta do banheiro, o rosto cheio de espuma e o barbeador na mão.

-Ela não acabou de nascer?

-É de primeiro mesversário. A princípio é só família mesmo, avós, tios e madrinha, mas achei que você poderia ir como meu acompanhante e te incluí. O tema, adivinha, é a Índia.

Tom deu uma gargalhada enquanto continuava o que estava fazendo.

-Você vai de sári, vai fazer dança do ventre e tal?

-Por que não? Ok, porque tenho dois pés esquerdos. Mas acho que vai ser divertido. Aí, no segundo mesversário, o tema vai ser rosa.

-Puta criatividade.

-O criativo aqui é você, grandão, e não eu.

-Olha, a Malu inventava muita frescura para aquelas crianças, mas você bateu o recorde.

-Tipo o quê? Tem alguma coisa que eu não sei?

-Uma vez ela me fez botar terno para fazer entrevista para um grupo de brincadeiras pra Angie e pro Tommy, os dois deviam ter uns seis meses e brincavam até comendo terra.

-Ah, será que isso é importante? Será que a Mia sabe disso? - Ella foi tomada por um súbito pânico. Tom riu e, dali a pouco, voltou para o quarto, enxugando o rosto.

-Os gêmeos têm mais ou menos a sua idade. Você teve grupo de brincadeiras?

-Está brincando? - Ella soltou uma gargalhada, esquecida do susto. - Eu vim de uma família de mineradores casca grossa. Brinquedo para mim era a caixa de ferramentas do meu pai.

-Então... E ficou bem, certo? Diria até que ficou bem para caralho – Ele se curvou, apoiando as mãos na cama, e mordeu o canto da sua boca.

-Fiquei direitinho – Ela sorriu.

-Isso – Ele ergueu o corpo e continuou, enquanto se vestia – sem falar do Barney.

-Ei! Eu cresci com o Barney!

-Porra! Isso te fez perder todos os pontos no item casca grossa!

-E o que se via na sua época e que te fez um casca grossa real? - Ella se levantou da cama e se enrolou no roupão.

-Desenhos de verdade. Tipo Tom & Jerry. Mickey.

Ella soltou uma gargalhada.

-Mickey é super durão, verdade. Super hardcore.

-Você não viu Fantasia, viu?

-Do Mickey esfregando o chão e a vassoura dançando? Claro que vi. Entre um episódio do Barney e outro.

-Tá vendo? Mickey é eterno. Meus netos vão conhecer Fantasia, mas nunca vão fazer ideia de quem era Barney.

Ella sorriu. Tom falava de uma forma leve, mas ela, com os anos, aprendeu a ver como aquele assunto era importante para ele, e aquilo a fascinava e divertia. Ele possuía tantas camadas. A princípio, era só o coroa super gato com quem fez um sexo incrível em uma festa, que reencontrou quatro anos depois e fez mais sexo incrível, e depois ela descobriu que ele era um músico fenomenal, um pai e um avô dedicados, culto apesar de falar tantos palavrões, super entendido de história e de política. Amava e odiava seu passado e tudo o que o cercava. Era por isso que sempre terminava com ele.