Quando a Vida Acontece - Vol 2

Capítulo 37

O vento agitava os cabelos de Loly. Ainda estava muito frio para ficar ali, mas agora o lugar carregava um pouco de misticismo e ela queria simplesmente se debruçar por sobre o quintal e imaginar toda a família quebrando a lei naquele lugar. Sua mãe havia falado tanto do que a madrinha tinha passado, e do que a Renata havia passado por causa da madrinha, que ela pensou que todos houvessem criado o mesmo horror a drogas que ela.

-Você já usou outras coisas? - Ela se virou para o Dylan. - Outras drogas, tipo cocaína, heroína, crack...

-Não, Loly! - Ele riu. - Eu fumei um baseado uma vez, esqueceu?

-E os outros? Você acha que eles usam?

Dylan se encostou na amurada, as mãos nos bolsos, pensativo.

-Talvez alguns deles.

-Quem? - Os olhos de Loly ficaram do tamanho de um pires.

-A Lily e o Luca. Talvez o Tommy.

Ela ficou boquiaberta, chocada.

-Eles são viciados?

-Não, maninha, eles tomam doce de vez em quando, quando vão a alguma festa – E, como ela continuasse olhando para ele, confusa, ele explicou: - Droga sintética. Mas não vai comentar isso com ninguém, principalmente com a Emily. Se ela sabe que eles não fumam só um baseado...

-A Emily sabe? - Loly perguntou, horrorizada. - Até ela sabe que as pessoas vêm aqui fumar?

Dylan encolheu os ombros, sem graça. E então, para distrai-la daquele assunto obsessivo, falou:

-Vou ao cinema com a Daisy hoje.

-Legal, quem é Daisy? - Loly perguntou, absorta.

-A colega de apartamento da Allie.

-O quê...?! Como assim...?! - Loly se virou para ele, parecendo mais surpresa do que quando descobriu que aparentemente pertencia a uma família de drogados. - Por que você faria uma coisa dessas?

-Porque ela é gente boa, é bonita, gosta das mesmas coisas que eu, também está na área de TI.

-Dylan, a Allie odeia a Daisy! Você está fazendo isso só para dar o troco?

-Claro que não, Loly! Vou sair com ela porque rolou uma química legal e a Allie não está interessada.

-Você não sabe se não está mesmo – Ela respondeu, ressentida. Sabia, no fundo, que Dylan tinha razão. Se Allison tinha tanto pavor de um relacionamento com ele que agora fugia dele como o diabo da cruz, seu irmão estava certo em sair com outras pessoas. Só era uma ironia do destino ridícula que essa outra pessoa fosse justamente a odiada companheira de apartamento.

É claro que, no seu sonho cor de rosa de princesa, Allie namoraria Dylan e os dois sairiam com ela e Jake e seriam padrinhos um do casamento do outro, mas não era possível ter tudo na vida.

-Será que não seria melhor você falar com a Allie antes?

-Pedir a autorização dela? Porque um cara em quem ela não tá interessada quer sair com uma garota de quem ela não gosta?

-É... colocando assim, não faz muito sentido.

Os dois desceram as escadas porque estava ventando, frio demais para fazer qualquer coisa no terraço do loft que não fosse escondido. Enquanto se encaminhavam para o jardim, Dylan contava para a irmã sobre a festa da Daisy, que foi até bem decente, que eles provavelmente teriam ficado naquela noite se ela não estivesse bem bêbada, mas que ela ligou no dia seguinte para se desculpar e daí surgiu a ideia do cinema. Estavam nisso quando viram a Malu arrastando aquele horroroso andador na direção deles.