Capítulo 13

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Lily esperou que o celular caísse na caixa postal ou que desligassem assim que identificassem seu nome. Para seu prazer e horror, a ligação foi atendida logo na primeira vez que telefonou. Não sabia o que estava acontecendo com o mundo, apenas que não tinha ideia do que esperar dele.

-Mateus? - Ela perguntou, achando que de repente o celular havia sido roubado e na verdade ela falava com um meliante qualquer.

-Oi, Lily – Ela ouviu a voz dele. Havia tantas coisas maravilhosas na voz dele. A voz em si, a forma como pronunciava o nome dela, o português, um português de verdade, não o arrevesado da sua família. Uma sensação de lar. De estar em casa simplesmente através de um "oi, Lily".

Tudo bem que não era um "oi, Lily" empolgado.

Nem mesmo um "oi, Lily" medianamente satisfeito.

-Oi, Mateus. Tudo bem? - Ela perguntou, correta.

-Tudo, e você? - Ele respondeu, também correto.

-Tudo. Achei que você tivesse bloqueado meu telefone.

-Eu não tinha por que fazer isso.

É, não tinha, exceto pela trágica história do Jamie, mas talvez estivessem brincando de serem muito adultos e muito acima de bobagens como dormir com babacas irmãos dos amigos do ex. Droga, Lily conseguia sentir seu rosto da cor de um tomate e só podia agradecer a Deus por Mateus não a ver naquele momento.

-Eu estou me mudando do nosso apartamento hoje – Ela disse, resolvendo ser objetiva. - Como eu soube que você ainda está procurando um lugar para morar, achei que de repente você podia querer ficar aqui.

-Acho que não, mas obrigado por lembrar de mim – Ele respondeu, ridiculamente educado.

Ah, merda. Que merda. Ele sabia perfeitamente que ela havia dormido com Jamie lá, e por isso não queria voltar. Ou talvez estivesse se dando muita importância e Mateus achasse o aluguel caro para uma pessoa, o que ele era mesmo. Ou vai ver ainda que ela soubesse desde o início que ele não iria para lá, ou que talvez nem estivesse interessada, só queria ouvir a sua voz. Mas é que dava um desespero enorme não fazer parte da vida dele. Não saber quais eram seus planos para o dia, não jantar com ele, não decidir juntos o que iam assistir na Netflix, não tocarem juntos... Era de enlouquecer.

-De nada. Se mudar de ideia, ainda faltam três semanas para vencer o contrato. Eu só estou saindo antes porque... estou saindo antes. Vou dividir o apartamento com a Matti.

-Ok. Boa sorte.

-Obrigada – E, sem ter o que dizer, ela desligou o telefone, sentindo um vazio do tamanho do mundo.

-Ela está ótima - Tom dizia. - Está tocando a vida. Vai se mudar e tudo, tá vendo? Ótima.

Ele já havia bebido mais da metade de uma caneca gigantesca de café, o que significava que estava em pleno funcionamento, o que não o impedia de proferir uma quantidade bem razoável de abobrinhas.

-Se ela está tão bem, Freud, Jung, ou sei lá o nome do psicólogo que estudava essas coisas – Disse Ella, colocando queijo cottage sobre uma torrada. - Por que ela está se mudando?

-As pessoas se mudam. Faz parte da vida. Elas seguem adiante.

Ella deu uma gargalhada.

-O que foi? - Ele perguntou, um sorriso divertido em um dos cantos da boca de quem já desconfiava que a piada era ele.

-Você fecha os olhos para todos os seus filhos ou é só para proteger a sua garotinha?

-Eu não faço isso – Tom protestou.

Quando a Vida Acontece - Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora