Medusa esperava tudo, menos aquela reação.
Tocá-la? Por que Cecília queria tocá-la?!
Quando voltou a si, a mão úmida estava esticada e Cecília aguardava que Medusa aproximasse sua face, para que pudesse apalpá-la.
— Se você já terminou de se banhar, podemos sair. — segurou o pulso e Cecília acenou com a cabeça.
— Eu já acabei.
— Ótimo.
Dali em diante, as mulheres fizeram tudo em absoluto silêncio. Medusa voltou a fazer os cuidados nos membros machucados de Cecília.
Assim que terminou, deixou-a sentada e foi até sua fogueira, acendendo-a.
— Não está machucada? — a voz de Cecília saiu tímida.
— Nada demais.
— Talvez deva dar uma olhada, pode ter se ferido.
— Cecília, por que está aqui?
— O quê? — assustou-se com o tom de Medusa. — Eu já lhe disse, eu...
— Por que é que você ainda está aqui? — se aproximou, observando a mulher. Por que não fugiu ainda?
— Você foi boa comigo, por que eu fugiria?
— Você já sabe da minha história. — parou à frente dela — Você já sabe o que eu sou, o que eu fiz. Sabe das pessoas que qmatei. Não te assusta?
— É claro que assusta! — falou um pouco mais alto — Saber que você teve de fazer essas coisas para se defender! E que si homens saem da cidade para virem até aqui, só para tentar matá-la! Você é inocente, Medusa. Você não me dá medo.
— Eu não sou inocente. Matei mais do que você imagina, não só para me defender.
— Aquele homem que matou antes. Por quê? Ele estava indo embora, por que o matou?
— Não queria deixar testemunhas.
— E no entanto eu estou aqui, não é? — não podia ver, mas sabia que estava desconcertando Medusa — Você me salvou dele, mesmo que ele não estivesse te atacando mais.
— Isso não vem ao caso e também não responde à pergunta que te fiz. Teve chance de ir embora, mais de uma vez, e ainda continua aqui.
— Em breve eu conseguirei andar normalmente, então posso...
— Você está fugindo, não é?
Cecília ficou em silêncio.
— Não está? — Medusa continuou — Não vejo outra razão para ter ido para tão longe de tudo.
— Não é assim...
— Eu sei que sim. Foi o que eu fiz. Fugi para o lugar mais longe de tudo e todos. — suspirou quando Cecília abaixou a cabeça — Não esperava que algo como eu estivesse aqui.
— Posso ficar aqui?
— Você pode achar outro lugar? — falaram ao mesmo tempo, mas medusa se espantou — Não! Eu fico sozinha.
— Eu também, mas a gente pode ficar sozinhas no mesmo lugar! — se Medusa não estivesse surpresa, teria rido do argumento — Eu posso ser útil!
— Como? — deu corda.
— Para qualquer coisa!
— Você não enxerga, com o que poderia me ajudar?
A mulher permaneceu em silêncio. Medusa não sabia se estava ofendida ou não.
— Escute, apenas vá embora. É melhor para nós duas. Mais seguro para você.
— Seguro? — Cecília riu — Querida, eu sou imune ao seu super poder!
— Meu super poder?
— E eu posso ser uma boa amiga, sei fazer comidas gostosas e não vou virar uma estátua de pedra para atrapalhar você!
Um grande sorriso preenchia o rosto de Cecília e Medusa suspirou.
— Eu não acho uma boa ideia.
— Ah, por favor! — se levantou e esbarrou o joelho na mesa de cabeceira — De novo!
— Está vendo? Você é um desastre! Em uma semana terá destruído minha casa e a si mesma!
— Eu só precisa só de algo para me guiar, como uma bengala!
— Você tem um jeito para qualquer coisa, então?
— Quando você perde um dos sentidos, tem que aprender a se virar!
— Você não nasceu assim?
— O que?
— Seus olhos. Não nasceu sem a visão?
— Eu... — o estômago dela roncou — Estou com fome.
— Ah... É como ter um filho. — bufou — Vamos fazer um acordo. — escorou o quadril no pilar da cama que sustentava o docel — Se ser completamente sincera comigo e me obedecer, eu deixo você ficar por um tempo.
— Ah...
— Você teve seu tempo para me fazer perguntas, agora é a minha vez. Temos um acordo? — estendeu a mão e, dando um pequeno sorriso, voltou a falar — Minha mão está estendida à sua frente.
— Oh, sim, é claro. — alcançou a mão de Medusa e a apertou.
— Então vamos comer.
Cecília, que havia se sentado novamente, se levantou devagar, com os braços esticados, como sempre, procurando o caminho até Medusa. Encontrou o corpo dela, que enrigeceu-se quando sentiu o toque em seu quadril.
— Podemos ir? — Cecília estava perto, invadindo o espaço pessoal de Medusa, deixando-a desconfortável.
A mulher bufou mais uma vez. Haja paciência.
•••
N/A: Olá, família! Muito obrigada pelos parabéns e por entender a falta de capítulos ontem! Hoje temos logo dois, e o primeiro está em mãos. A gente se vê mais tarde, beleza? Até loguinho 🖤
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Petrificar / [versão não revisada]
RomanceQuantos sentidos são necessários para poder amar alguém que não pode ser cobiçado? A besta profana do oeste grego encontrou sob a luz do luar aquela que não pode ser afetada por sua maldição. Tal criatura era a única que Medusa não poderia petrifica...