Capítulo 18

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Um dia.

Foi tudo o que Medusa precisou para se preparar. Agora poderia ir até o encontro de Perseu.

Sabia que estavam esperando-a, não possuía o elemento surpresa. Mas se negou a ir no dia e horário impostos pelo homem, precisava se acalmar os ânimos ou colocaria tudo à perder.

Só conseguiu dormir graças à exaustão completa de seu corpo e no dia seguinte, passou as horas pensando no que faria.

A madrugada veio fria e com nuvens carregadas. Medusa deixava sua caverna.

Enrolada em sua testa, uma das cobras que preenchiam seus cabelos fazia as vezes de uma possível venda. Se fosse necessário, o animal circundaria sua cabeça, impedindo que seus olhos fossem visíveis.

Ao atravessar sua floresta e passar pelos últimos arbustos, chegou à estrada terrosa que a separava do mundo. Respirou fundo o ar gélido da noite e começou a andar, torcendo para não ver ninguém até chegar ao Partenon, o templo de Atena.

Seu tiro saiu pela culatra quando três homens bêbados, que caminhavam aos tropeços e gritos passaram por ela. Sua cobra cobriu seus olhos e a mulher andou na penumbra, tentando não ser notada.

Tirou sua venda de seus olhos quando não pôde mais ouvir os homens. Avistou o templo, e começou a subir os largos degraus que compunham a rua que a levaria até lá.

Pôde avistar alguns guardas, mas não cobriu os olhos ou abaixou a cabeça, argueu o rosto para a construção à sua frente e determinou que não olharia para ninguém ali.

Já Cecília, algumas horas atrás, seguia incrédula com a oferta doentia que Atena fizera para ti.

— Eu não vou aceitar. Esqueça.

— Não precisamos dela, pronto! Dê a ordem e eu, junto com meus homens aniquilaremos aquele demônio, Atena! — Perseu exclamou, destemido.

— Não me disse que Medusa estava vindo? Devemos aguardá-la.

Medusa estava indo até lá? O coração de Cecília se apertou e seus olhos começavam a lacrimejar.

— Está chorando por que, garota?!

— Perseu! Já chega, deixe-me só com ela.

O homem bufou, mas Cecília pôde ouví-lo se afastar.

— Aqui, pegue. — Atena colocou um lenço de tecido fino nas mãos de Cecília — Não posso dizer que fiquei surpresa com sua reação ao saber que ela está chegando. Mas não entendo muito bem a natureza da relação entre vocês.

— E nem há nada para você entender.

— Oh, é claro que há! Cecília, veja bem. Eu explicitamente pedi sua ajuda para matá-la e você demonstrou completa repulsa pela idéia, devo considerar que têm um relacionamento, digamos, afetivo, com ela? — Atena se levantou, e começou a andar lentamente na direção de Cecília — São amigas? — chegava cada vez mais perto — Melhores amigas? — riu e então, apoiou as mãos nas coxas e se inclinou, aproximando o rosto ds Cecília — Amantes?

Cecília ergueu os braços, circundando o pescoço de Atena e se levantou, forçando a para o chão. Os guardas se agitaram e vieram para perto, mas Atena fez um gesto com as mãos, pedindo que se afastassem.

— Ela não precisa morrer, se você não quiser! — a voz de Atena saiu com certa dificuldade.

— Como é?

— Se você me ajudar, nós podemos acabar com a maldição dela sem que ela morra.

— Se tivesse como fazer isto, já teria feito, no lugar de mandar dezenas, talvez centenas de homens para matá-la! Você está mentindo! — a voz de Cecília já se alterava, enquanto seus antebraços seguravam o pescoço de Atena.

— Eu reconsiderei! — começou a engasgar.

— Por que?

— Me solte e vamos conversar...

Cecia largou a mulher, com um movimento brusco e se levantou. Atena ficou em pé logo em seguida, intacta.

— Francamente, não pensei que alguém como ela fosse se apaixonar. Ainda mais por uma mulher.

— Eu sei bem o que você pensa dela. Afinal de contas, jogou uma maldição sobre ela!

— Ela violou meu templo! — falou mais alto.

— Ela foi estuprada! — Cecília gritou.

Atena pensou em dizer algo, mas gaguejou e resolveu falar outra coisa.

— Foi por isto, que decidi reconsiderar minha decisão.

— Estava falando sobre matá-la há dois minutos.

— Veja bem, esqueça isto! Ela não vai morrer, mas não posso deixar as coisas do jeito que estão! Ela precisa parar de matar, Cecília.

— E mais uma vez, a culpa não é dela. Se deixassem-na em paz, depois de tudo que fizeram, ninguém teria de morrer!

— Mas isto pode mudar, se você nos ajudar! — Atena se sentou e bebeu um pouco d'água — Irei te fazer a oferta, escute com cuidado e considere com carinho.

Cecília bufou, mas permitiu que a Atena prosseguisse.

— Seus olhos, em troca dos dela. Você ganha o dom da visão e ela, não pode matar mais ninguém. Não parece bom?

— Os olhos dela? O que está me pedindo?

— Você é esperta, saberá o que fazer. — Atena empurrou uma faca pontuda com acabamento em ouro para Cecília, colocando-a em contato com a mão da mulher.

— Isto é loucura... — sussurrou, Atena sorriu — Como vou saber que não está mentindo, e vai me trair?

— Eu sou a deusa da sabedoria e luto pela justiça, como pode pensar algo assim de mim? — usou um tom pretensiosamente ofendido — Sei não acredita em mim, por que não resolvemos a parte do acordo que te beneficia? Venha comigo. Estou bem à sua frente. — estendeu a mão para Cecília. A mulher ignorou o gesto.

Cecília se levantou, e sem falar nada seguiu Atena, sendo acompanhada por três guardas.

Entraram numa sala e Cecília sentiu o corpo arrepiar.

— Onde estamos?!

— Vamos trazer sua visão de volta.

•••

N/A: Sextou, hein? A batata tá assando e a treta vem como? Cês tão comigo? Vambora!
A gente se vê na semana que vem, beijinhos 🖤

Petrificar / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora