Um dia.
Foi tudo o que Medusa precisou para se preparar. Agora poderia ir até o encontro de Perseu.
Sabia que estavam esperando-a, não possuía o elemento surpresa. Mas se negou a ir no dia e horário impostos pelo homem, precisava se acalmar os ânimos ou colocaria tudo à perder.
Só conseguiu dormir graças à exaustão completa de seu corpo e no dia seguinte, passou as horas pensando no que faria.
A madrugada veio fria e com nuvens carregadas. Medusa deixava sua caverna.
Enrolada em sua testa, uma das cobras que preenchiam seus cabelos fazia as vezes de uma possível venda. Se fosse necessário, o animal circundaria sua cabeça, impedindo que seus olhos fossem visíveis.
Ao atravessar sua floresta e passar pelos últimos arbustos, chegou à estrada terrosa que a separava do mundo. Respirou fundo o ar gélido da noite e começou a andar, torcendo para não ver ninguém até chegar ao Partenon, o templo de Atena.
Seu tiro saiu pela culatra quando três homens bêbados, que caminhavam aos tropeços e gritos passaram por ela. Sua cobra cobriu seus olhos e a mulher andou na penumbra, tentando não ser notada.
Tirou sua venda de seus olhos quando não pôde mais ouvir os homens. Avistou o templo, e começou a subir os largos degraus que compunham a rua que a levaria até lá.
Pôde avistar alguns guardas, mas não cobriu os olhos ou abaixou a cabeça, argueu o rosto para a construção à sua frente e determinou que não olharia para ninguém ali.
Já Cecília, algumas horas atrás, seguia incrédula com a oferta doentia que Atena fizera para ti.
— Eu não vou aceitar. Esqueça.
— Não precisamos dela, pronto! Dê a ordem e eu, junto com meus homens aniquilaremos aquele demônio, Atena! — Perseu exclamou, destemido.
— Não me disse que Medusa estava vindo? Devemos aguardá-la.
Medusa estava indo até lá? O coração de Cecília se apertou e seus olhos começavam a lacrimejar.
— Está chorando por que, garota?!
— Perseu! Já chega, deixe-me só com ela.
O homem bufou, mas Cecília pôde ouví-lo se afastar.
— Aqui, pegue. — Atena colocou um lenço de tecido fino nas mãos de Cecília — Não posso dizer que fiquei surpresa com sua reação ao saber que ela está chegando. Mas não entendo muito bem a natureza da relação entre vocês.
— E nem há nada para você entender.
— Oh, é claro que há! Cecília, veja bem. Eu explicitamente pedi sua ajuda para matá-la e você demonstrou completa repulsa pela idéia, devo considerar que têm um relacionamento, digamos, afetivo, com ela? — Atena se levantou, e começou a andar lentamente na direção de Cecília — São amigas? — chegava cada vez mais perto — Melhores amigas? — riu e então, apoiou as mãos nas coxas e se inclinou, aproximando o rosto ds Cecília — Amantes?
Cecília ergueu os braços, circundando o pescoço de Atena e se levantou, forçando a para o chão. Os guardas se agitaram e vieram para perto, mas Atena fez um gesto com as mãos, pedindo que se afastassem.
— Ela não precisa morrer, se você não quiser! — a voz de Atena saiu com certa dificuldade.
— Como é?
— Se você me ajudar, nós podemos acabar com a maldição dela sem que ela morra.
— Se tivesse como fazer isto, já teria feito, no lugar de mandar dezenas, talvez centenas de homens para matá-la! Você está mentindo! — a voz de Cecília já se alterava, enquanto seus antebraços seguravam o pescoço de Atena.
— Eu reconsiderei! — começou a engasgar.
— Por que?
— Me solte e vamos conversar...
Cecia largou a mulher, com um movimento brusco e se levantou. Atena ficou em pé logo em seguida, intacta.
— Francamente, não pensei que alguém como ela fosse se apaixonar. Ainda mais por uma mulher.
— Eu sei bem o que você pensa dela. Afinal de contas, jogou uma maldição sobre ela!
— Ela violou meu templo! — falou mais alto.
— Ela foi estuprada! — Cecília gritou.
Atena pensou em dizer algo, mas gaguejou e resolveu falar outra coisa.
— Foi por isto, que decidi reconsiderar minha decisão.
— Estava falando sobre matá-la há dois minutos.
— Veja bem, esqueça isto! Ela não vai morrer, mas não posso deixar as coisas do jeito que estão! Ela precisa parar de matar, Cecília.
— E mais uma vez, a culpa não é dela. Se deixassem-na em paz, depois de tudo que fizeram, ninguém teria de morrer!
— Mas isto pode mudar, se você nos ajudar! — Atena se sentou e bebeu um pouco d'água — Irei te fazer a oferta, escute com cuidado e considere com carinho.
Cecília bufou, mas permitiu que a Atena prosseguisse.
— Seus olhos, em troca dos dela. Você ganha o dom da visão e ela, não pode matar mais ninguém. Não parece bom?
— Os olhos dela? O que está me pedindo?
— Você é esperta, saberá o que fazer. — Atena empurrou uma faca pontuda com acabamento em ouro para Cecília, colocando-a em contato com a mão da mulher.
— Isto é loucura... — sussurrou, Atena sorriu — Como vou saber que não está mentindo, e vai me trair?
— Eu sou a deusa da sabedoria e luto pela justiça, como pode pensar algo assim de mim? — usou um tom pretensiosamente ofendido — Sei não acredita em mim, por que não resolvemos a parte do acordo que te beneficia? Venha comigo. Estou bem à sua frente. — estendeu a mão para Cecília. A mulher ignorou o gesto.
Cecília se levantou, e sem falar nada seguiu Atena, sendo acompanhada por três guardas.
Entraram numa sala e Cecília sentiu o corpo arrepiar.
— Onde estamos?!
— Vamos trazer sua visão de volta.
•••
N/A: Sextou, hein? A batata tá assando e a treta vem como? Cês tão comigo? Vambora!
A gente se vê na semana que vem, beijinhos 🖤
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Petrificar / [versão não revisada]
RomanceQuantos sentidos são necessários para poder amar alguém que não pode ser cobiçado? A besta profana do oeste grego encontrou sob a luz do luar aquela que não pode ser afetada por sua maldição. Tal criatura era a única que Medusa não poderia petrifica...