Capítulo 21

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Texturas, cheiros, sabores e sons. Eram tudo o que Cecília precisava para sentir o mundo ao seu redor.

De novo.

Soube que estava consciente, pois conseguia sentir o acolchoado confortável debaixo de si e a venda sob seus olhos, um gosto amargo impregnar-lhe o paladar e um cheiro forte a invadir o olfato.

— Cecília? — e então, o som. Reconheu a voz de Atena e as memórias retornaram.

Se sentou, rapidamente e sentou e a cabeça girou. Não tinha tempo para isto!

— Onde ela está?

— Tem de se acalmar.

— Eu quero saber de Medusa! Quero saber se ela está bem!

— Ela está com Perseu, no salão! O que você achou que fosse acontecer? — a mulher já estava irritada com esta história toda, queria que tudo se resolvesse logo — Você me traiu, Cecília. Acabou para ela.

— Não, ela... — a mulher assimilava as palavras, enquanto tentava se levantar, as pernas perdendo a força com frequência. Estava caída no chão, quando Atena se agaixou ao lado dela.

— Não sabe como me chateou, quando você se mutilou. — Cecília estava sob remédios naturais, para que não sentisse a dor descomunal nos olhos, que tiveram o feitiço removido, mas ainda sim, possuiria a sensação física do apunhalamento, ao menos por um tempo. Começou a se arrastar pelo chão, tentando sair daquele cômodo, Atena a segurou pelos cabelos, assim que atingiu o corredor  — Você não me entendeu? Acabou, Cecília! Este silêncio... Não notou?

— Não! — ela chorava, soluçando — Eu vou até ela! — gritou — Medusa!

— Suas preocupações deveriam ser outras, criança! — segurava o couro cabeludo da mulher com força, erguendo-a, para que ficasse em pé e então, à segurou pelos braços, sentindo o peso do corpo, que queria ceder ao chão — Eu soube que você têm alguém. Alguém que vai zelar por você e sua condição. Aécio, não é? Ele já está aqui, e você poderá seguir com sua vida.

E o corpo da mulher caiu. Ficou parada, com a cabeça baixa e os joelhos doloridos.

Não podia acreditar que tudo estava desmoronando àquele ponto. Ouviu passos atrás de si e um arrepio assolou o corpo frágil de Cecília.

— Oh! É você? — Atena cumprimentou o homem — Como pode ver, é realmente ela. Fico feliz que pôde vir buscá-la.

— Eu peço perdão por chegar já tão depois do pôr do sol.

— Contanto que possa levá-la.

— Com toda certeza. — Cecília estava longe, no final do corredor, arrastando-se para onde conseguiu alcançar, mas Aécio a deteu — Você já causou problemas demais, ande logo. — e, relembrando o passado dolorido de Cecília, a segurou por um dos braços, de modo que a fizesse andar aos tropeços ao lado dele — Ela não irá mais lhe incomodar. — sentiu quando ele fez uma reverência para Atena.

— Acompanharei vocês até a saída, sim?

E, com o rosto marcado por lágrimas silenciosas, o braço dolorido e as pernas fracas, Cecília sentiu o ar da noite ricochetear em seus cabelos. Seu coração foi apertando cada vez mais e seus soluços saíam cada vez mais alto, irritando os dois presentes.

— É aqui que me despeço de vocês. Cecília, foi um prazer e uma pena ter conhecido você. Tenha uma boa vida. — se aproximou da mulher, sussurrando no ouvido dela — E faça escolhas melhores, não vai querer que outra namorada morra por sua causa, não é?

— Atena! — alguém gritou e o som reverberou pelas paredes do templo.

A deusa não se atreveu a olhar para trás, apenas suspirou, encarando o céu, enquanto ouvia passos pesados se aproximando, junto com uma respiração ofegante e entrecortada.

— Medusa...? — Cecília sussurrou, questionando a própria sanidade.

— O que é is-... — Aécio não conseguiu continuar a frase, Atena o empurrou escada abaixo, com Cecília sendo segurada pelas mãos dele. Ambos tiveram membros machucados e o homem olhou confuso para a deusa.

Atrás dela, uma criatura aterrorizante surgia. Tinha a pele esverdeada, cheia de escamas coloridas a se arrepiar por seu corpo, os cabelos eram serpentes diversas, com tamanhos comparados à braços infantis. As roupas eram trapos, rasgados, que mal vestiam a pele da mulher, e estavam cobertos de poeira e sangue.

E seus olhos.

Os olhos podiam ser vistos à longa distância, tamanha intensidade de seu brilho. Tanto os da mulher, quanto das cobras, que endurecidas, olhavam para todos os lados, petrificabdo por conta própria, os guardas que tentavam se aproximar.

Quando as escadas eram banhadas por algumas estátuas de pedra. Atena resolveu se virar.

Olhava para o chão, apenas por precaução. Observou as pernas nuas de Medusa, que possuíam arranhões, hematomas e sangue seco por toda parte.

Estava prestes a falar, quando algo foi jogado aos seus pés.

Assistiu com os olhos vidrados e estatelados, a cabeça de seu irmão rolar lentamente pelo chão, até parar, com os rosto sem vida olhando para o infinito.

O pescoço, que fora cortado de forma limpa por uma espada, ainda pingava um pouco se sangue, assim como os cabelos encaracolados.

Assustou-se com o barulho metálico e observou que Medusa havia jogado a espada de um de seus soldados e ao chão, ensanguentada.

— Tem alguma coisa para me dizer? — a voz arrastada, rouca e sibilada, que parecia pertencer à mais de uma pessoa, como se houvessem milhares de cobras dentro de Medusa, soou.

Atena abaixou-se, recolhendo o que tinha de seu irmão, junto com a espada que tirara sua vida e, fechou os olhos. Ainda agaixada, sentiu lágrimas quentes e fracas saindo de seus olhos, salgando-lhe a face.

— Eu peço perdão...

Medusa se ajoelhou e segurou o rosto de Atena, sem encará-la. Arrastou algo para perto das duas. Aegis.

— Quero que me veja pela última vez. No escudo onde planejava me ter.  — e encarou a superfície espelhada do escudo, olhando para a deusa através dele. Atena abriu os olhos e olhou para sua antiga sacerdotisa.

Um monstro.

— Isto foi o que você fez comigo. Abdicou de suas convicções e princípios, como deusa da justiça e sentenciou à danação e sofrimento eterno uma inocente. — Atena não tirava os olhos do escudo, sentindo-se desmoronar por dentro, havia falhado — Quero que se lembre para sempre de meu rosto, juntamente com o fato de que você perdeu. E seu irmão também.

E então, Medusa se levantou e começou a descer às escadas, indo em direção à Aécio, que, apavorado, usava Cecília como escudo. Assim como o covarde que matara em sua casa.

Estava cansada de ver aquela cena. Um homem assustado, usando seu amor como proteção, tendo seu rosto bonito com traços de dor e cansaço e seus membros, machucados e trêmulos.

Medusa estava por um triz, mas tinha forças para tirar Cecília dos braços daquele que a fez sofrer tanto.

•••

N/A: Sextamos? Boa noite, gente!

Fiz uma mini confusão nas notas do capítulo passado, mas já conversei e já tá tudo certo, temos capítulo hoje sim!

Infelizmente, aqui eu anuncio que a história tá pegando o rumo pra chegar ao fim, mas ainda tem um tempinho com esse casal pra gente boiolar (e sofrer, que eu sei q tá difícil KKKKKperdaoKKKKKK).

Então, a gente se vê na segunda, beijinhos 🖤

Petrificar / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora