Capítulo 22

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Assim que sentiu alguém se aproximar, Cecilia prendeu a respiração, sentindo seus braços serem castigados pelo aperto amedrontado de Aécio.

Só podia ser uma pessoa.

Esticou os dedos até tentar encostar na face de Medusa, mas sua voz a parou.

— Solte-a.

Aécio tremia e respirava de forma ofegante atrás de si. Começou a andar para trás, aos tropeços.

— Nós vamos embora! — ele gritou — Isto não é necessário!

— Aécio me largue! — Cecília se contorcia, em agonia de estar sendo arrastada para longe novamente.

— Cale a boca, sua vadia! Já causou danos o suficiente!

Medusa suspirou, impaciente e se aproximou. Colocou suas mãos sobre as de Aécio e forçou suas unhas contra os dedos dele, fazendo com que suas falanges se partissem e Cecília pudesse sair de seu aperto.

O homem chorava e começava a gritar. Cecília ficou encolhida num canto, ouvindo algo que, imaginou que a fosse perturbar como os outros sons de homens morrendo que já ouvira, mas apenas o deleite passeou por suas entranhas ao saber que Medusa o faria se calar para sempre.

A mulher usou uma das mãos para segurar o rosto do homem, chegando a abrir feridas em suas bochechas, com as unhas pontudas. O forçou a olhar para ela e o observou virar pedra. Com a mesma mão, apertou cada vez mais, encarando a face eternizada no sofrimento, até finalmente quebrar. Machucou os dedos, mas aquela estátua sem cabeça sinalizava o fim do tormento de Cecília.

Procurou pela mulher com os olhos e assim que se virou, a agarrou. Em seus braços, Cecília soluçava, aos prantos. Mas Medusa só sabia apertá-la com força.

— Me perdoa. — sussurrou contra os ofídios escamados, que estavam silenciosos — Eu não queria!

— Shh... — acariciou os cabelos dela — Eu sei.

— Seja lá o que ela tenha te dito...

— Eu jamais escolheria acreditar em alguém como ela. Você teve suas razões.

— Eu queria te ver. — Cecília levantou a cabeça.

— Como sabia que não se transformaria em pedra?

— Era parte do plano de Atena, então os olhos eram encantados. Ou melhor, amaldiçoados.

Medusa suspirou, ainda com a imagem de Cecília perguntando os próprios olhos passeando em sua mente.

— O que vamos fazer agora? Eles podem voltar à te caçar.

— Perseu está morto. Espero que entendam o recado.

— Como foi que tudo aconteceu? Eu pensei que estivesse morta.

— Eu vou te contar tudo, mas quando estivermos tomando um banho bem quente. Vamos embora.

As mulheres saíram dali, uma ajudando a outra a permanecer em pé, andando devagar enquanto as estrelas pontilhavam o céu escuro.

Quando chegaram até a floresta, já não aguentavam mais andar e Cecília teve uma ideia.

Pegou a mão de Medusa e seguiu um caminho que conhecia muito bem. Ao começar a se aproximar da clareira, Cecília começou a se despir.

Sentiu dor nos braços e nas costas, então Medusa se aproximou e a auxiliou, tomando cuidado com os hematomas. Cecília se virou e fez o mesmo por ela, ambas em absoluto silêncio.

Ainda de mãos dadas, entraram na água fria.

— Como se lembra do caminho até aqui? — Medusa questionou, sentindo o corpo tensionar em arrepios.

Petrificar / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora