Capítulo 20

2.6K 375 99
                                    

O chão, que outrora possuía um revestimento em tons de marfim, tinha sua limpeza impecável corrompida pelo carmim berrante que provinha do sangue esguichado, após o golpe proferido por Cecília.

A adaga desceu em câmera lenta, aos olhos de todos ali, e o sorriso no rosto de Perseu se desfez, ao reparar o destino do punhal.

A lâmina brilhou sob a luz do lustre, enquanto perfurava, de forma violenta, o olho esquerdo de Cecília, que gritou de dor ao sentir a córnea ser rompida e completamente destruída.

Medusa também gritou, ao mesmo tempo que tentou avançar para Cecília. Um dos homens de Perseu a impediu.

A mulher, que sangrava, removeu o objeto cortante de seu olho, caindo ajoelhada ao chão. E então, fez o mesmo com o lado direito.

Em seguida, levantou o rosto e, aos prantos, pôde ver Medusa e sua expressão desesperada, assustada. Ela se desvencilhou do homem e correu até si.

— Cecília! O que foi isto?! Seus olhos... — usou parte de seu vestido para limpar o sangue que encharcava o rosto dela.

— Eu não quero! Não quero os olhos e não quero fazer parte disto!

— Do que está falando? Precisamos de ajuda, tem tanto sangue!

— Levem-na daqui! — Atena grita e um homem vêm ao auxílio de Cecília, se preparando para pegá-la no colo.

— Medusa, me escute. — colocou a não no rosto úmido da mulher — Eu nunca faria isto com você, jamais!

— Isto o quê?

— O acordo está desfeito! — Cecília gritou para Atena — Eu sinto tanto, minha linda...

— Está delirando, Cecília... — mais confusa do que nunca, Medusa assistiu sua namorada ser levada para receber os cuidados necessários. Se virou, com a cabeça baixa e as mãos ensanguentadas, tal como a barra de seu vestido — Alguém vai me explicar o que foi isto? — a voz saiu trêmula e grave, estava por um fio.

— Deixe-me seguir com o plano, Atena. — Perseu voltava a cercar Medusa com seus homens. Foi ignorado, por hora.

— Fiz um acordo com Cecília. — Atena se levanta — Os olhos dela, em troca dos seus. Acabaria com a maldição, mas você sobreviveria e vocês poderiam voltar para aquele fim de mundo. Juntas e felizes.

— Isto não faz o seu feitio. — continuou com a vista baixa, enquanto a deusa se aproximava lentamente.

—Eu deveria ter imaginado que Cecília faria algo assim. É uma pena, os olhos estavam lindos nela. — Atena suspirou — Deve estar confusa, abalada e furiosa, não é? Como iria imaginar que sua amada aceitaria uma proposta como esta? Quero dizer, mesmo que no fim, ela tenha se deixado levar, ela ainda aceitou meu acordo, num primeiro instante.

— Não a conhece.

— Oh, você — deu ênfase aqui — não a conhece. E agora que ela não cumpriu sua parte do acordo, não vejo por quê honrar a minha. Perseu. — o chamou e empurrou Medusa para o meio da sala, saindo em seguida, ouvindo-a chamar seu nome, com raiva.

— Agora estamos entre amigos. — Perseu riu — Eu gostaria de dizer que vou te matar bem vagarosamente, mas não. Ah, não...

Medusa se virou, lentamente e não fez questão de tapar os olhos. Percebia que os dois soldados estavam mais próximos e os tiraria do caminho, antes de matar aquele homem irritante.

E assim fez.

Estralou as juntas dos dedos e avançou para cima do homem mais corpulento e agarrou seu pescoço. De sua garganta, um sibilado alto saía, em comunhão com suas cobras, todos mantendo seus olhos no fundo das íris apavoradas do homem, que acabou causando alguns hematomas e arranhões em Medusa.

Petrificar / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora