Falemos um tanto sobre o jeito como Medusa expressava suas emoções.
A mulher, que há tempos havia adotado uma postura rígida e que se acostumara a não demostrar muitas emoções, encontrava-se em parafuso com aquele tornado que era Cecília.
Sua recém conhecida definitivamente tinha um dom. Conseguia desconsertar Medusa como ninguém.
Desde o primeiro momento em que colocou os olhos naquela mulher, sua rotina virou de pernas para o ar.
Neste exato momento, estava à frente de Medusa, encurralando-a contra uma pedra grande.
Se já não bastasse o arrepio causado pela brisa que assolava seu corpo nu e úmido, encarava aquele rosto corado de bem perto.
Os olhos eram uma característica interessante na face de Cecília. Eram como uma grande tela em branco, misteriosa e incisiva.
Sabia que não estava lhe enxergando, mas de repente se sentia tímida em sua nudez. Com uma frequência assombrosa, via-se ressabiada com a postura e presença de Cecília.
Agora, lhe questionava o que era necessário para que obtivesse sua confiança, ao mesmo tempo em que seus corpos quase se fundem.
Será que ela, além de não enxergar, não possuía noção nenhuma de espaço?
— É... apenas questão de tempo! — lutou para não gaguejar, mas esgueirou-se para o lado.
Olhou para Cecília e viu o pequeno sorriso no rosto dela, que estava virado para baixo. Ela meneou com a cabeça e começou a andar.
— Entendi. Eu vou... deixar você à vontade. — ao passar ao lado de Medusa, usou um tom mais baixo — Apesar de ser fofo quando você fica acanhada. — e riu, saindo de forma não tão desajeitada quanto sempre faz. Espremeu a barra de seu vestido, deixando à mostra boa parte das coxas, fazendo com que Medusa pressionasse a ponte de seu nariz e suspirasse, com os olhos apertados.
Assim que saiu do cômodo, Cecília riu baixinho para si mesma, sentindo-se atrevida.
Era adorável provocar Medusa. Oras, queria que ela se sentisse mais solta na sua presença, que pudesse divertí-la.
Deu alguns passos assim que chegou à parte superior, já não batia mais a bengala em nenhum móvel, apenas no chão. Até tinha uma das mãos livres, que usava para colocar sua venda novamente. Ouviu um barulho metálico e aguçou os ouvidos, parando no lugar.
Fora o barulho longínquo da cascata de onde viera, não poderia ouvir nada do lado de fora da caverna. Então o barulho era ali dentro.
Moveu-se com cautela, indo para onde sabia que conseguiria esconder-se. Foi chegando perto do grande corredor que levaria à entrada e ali ouviu passos.
Não poderia dizer com exatidão, mas eram cerca de três ou quatro pessoas. Cochichavam entre si.
Eram homens.
"De novo?!", foi o que pensou, assustada.
— Acha que isto dará certo? — um dos homens falou, parecia velho.
— Foi uma boa estratégia. Se der errado, saberão e poderão tentar algo diferente. — o segundo respondeu.
— Como foi que ninguém pensou nisto antes? É incrivelmente óbvio.
Do que estavam falando? O que estava acontecendo?!
Seu coração batia numa velocidade preocupante e sentia os pelos da nuca se arrepiarem.
Acompanhava os passos dos estranhos de trás. Mas sua vontade era sair correndo para a cascata.
— Deixa eu... — o homem deu um riso e fez um barulho com a boca, como quem aprova algo — é, tô bonitão para matar aquilo lá.
— Talvez ela queira saber se está bonita também, não é? — e eles gargalharam, meio sussurrando.
E então, o calor. O corpo gelado de Cecília recebeu uma carga de quentura e em seguida, seus olhos se arregalaram. Parou de andar.
— Segure esta droga direito, estamos chegando. Tem luz ali. Estão prontos? Fiquem em formação, não se separem. Vamos começar por aqui. — ouviu o fargalhar de tecidos, deduziu que estavam no quarto.
— Cacete! Tem uma casa toda aqui dentro?
Assim que percebeu que estavam longe dela, correu o mais silenciosamente que pôde até o acesso para onde Medusa estava.
Ao chegar lá, parou e tentou ouvir alguma coisa além da queda d'água. Os passos que conhecia tão bem estavam se distanciando na direção oposta de onde estava.
— Medusa! — tentou chamar, baixinho, mas de forma que fosse possível ouvir ali dentro. Não obteve resposta alguma então, andou um pouco mais rápido.
Subiu o caminho de pedras e assim que sentiu a presença dela à sua frente colocou as mãos atrás do pescoço e agiu rápido.
Medusa, que estava um tanto pensativa, nem viu de onde veio tamanha brusquidão. Sentiu os braços finos de Cecília agarrarem sua barriga e algo circundando sua cabeça, na altura dos olhos.
No mesmo instante, ouviu coisas em seu quarto serem mexidas.
O corpo foi para trás a antes que pudesse fazer algo mais do que suspirar em surpresa, a mão delicada de Cecília tapou sua boca.
Foi trazida de volta para de onde estava vindo, ouviu risadas.
— Ela está ali! — um homem gritou.
Estava encostada na parede, num vão entre algumas pedras, praticamente não havia espaço. O corpo baixo de Cecília estava colado ao seu, mas não havia espaço para reações de vergonha ou coisas do tipo. As palavras de Cecília a amedrontaram.
— Trouxeram espelhos!
•••
N/A: Muitíssimo boa noite pra todo mundo! Chegamos ao décimo capítulo do nosso rolê aqui e eu tô muito feliz que vocês estão acompanhando tudo. Já tem pouco mais de 1k de leituras, então muuuuito obrigada por isso, cês são inacreditáveis.
Boa madrugada de sexta e bom final de semana, segunda feira a gente se vê! 🖤
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Petrificar / [versão não revisada]
RomanceQuantos sentidos são necessários para poder amar alguém que não pode ser cobiçado? A besta profana do oeste grego encontrou sob a luz do luar aquela que não pode ser afetada por sua maldição. Tal criatura era a única que Medusa não poderia petrifica...