Capítulo 16

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Mais semanas se passaram e Cecília estava nas nuvens. Sua relação com Medusa evoluia à cada dia mais.

Não tinham adotado nenhum rótulo, mas Cecília possuía certo gosto em provocar Medusa, chamando-a de namorada.

Medusa estava deitada em sua cama, havia acabado de comer e tomar banho, quando sentiu o colchão ao seu lado afundar. Abriu um sorriso preguiçoso.

— Estou empanturrada! — Cecília atirou-se ali, abrindo os braços para cima de Medusa.

— Que pesada! Sai de cima!— a mulher reclamou.

— Mal posso me mexer...

— Só se for para ficar em cima de mim, não é? — usou o dedo médio para dar um peteleco na testa de Cecília.

— Há exceções. — esta segurou a mão de Medusa e beijou-lhe o dorso.

Ficaram um tempo curto apenas curtindo a companhia.

Medusa estava com os olhos fechados, aproveitando o sono que se apossava de seu corpo, quando ouviu Cecília quebrar o silêncio.

Μέλι, você conhece as Moiras?

— Já ouvi lendas sobre elas.

— O que elas fazem, mesmo?

— Basicamente, decidem o destino de todos.

— Será que elas podem mudar o destino ou, não sei, talvez alterar algo nas vidas das pessoas?

— Que conversa é esta?

— Não é nada demais, só estava sonhando alto.

— Você pensa em coisas tão aleatórias, Cecília.

— Se pudesse pedir algo à elas, o que seria?

— Ah, por favor...

— É apenas uma hipótese, vamos!

— Bom, talvez para que tirassem minha maldição.

— É claro, óbvio. Eu pediria para voltar a enxergar. Agora que somos namoradas, não ver nada têm me incomodado mais do que o normal — soltou um riso — Somos tão previsíveis!

— É fácil saber o que desejaria, quando você tem um esconjuro tão notável quanto os nossos.

— Tem razão. Alguém já tentou procurar por estas tais Moiras?

— Com certeza. — ficou em silêncio novamente e sentiu Cecília se sentar — Espere, não! Você não vai fazer isto?

— Eu, não! Nós! — Cecília sorriu — Podemos ir até elas e resolver nossas vidas!

— Isto está fora de cogitação.

— Ahn? Por que?

— Não vê como é perigoso, Cecília? Não percebe que teremos que pagar um preço alto, se sequer cogitarmos fazer algo assim?! — o tom de voz subiu e o sorriso de Cecília sumiu.

— Eu pagaria qualquer preço para ter minha visão de volta. Para poder olhar no rosto daquela que não faria o mesmo.

— Cecília! — Medusa a chamou, quando a mulher se levantou e começou a andar até a saída — Você não entende! Eu tenho medo de...

— E este é o problema! Você tem medo, e é isto que lhe impede. Não a sua maldição, o seu medo.

E então, Cecília virou as costas e voltou a andar.

— Aonde é que você vai?!

— Vou dar uma volta! Por que? Está com medo de que minha caminhada te prejudique? — gritou, saindo da caverna de vez.

Medusa sentiu o coração doer. As palavras ecoando em sua mente.

Pensou em ir atrás de Cecília, mas reconheceu que a mulher talvez precisasse de um tempo sozinha, para pôr a cabeça no lugar, assim como ela mesma.

Passou poucos minutos na cama e se levantou. Andou um pouco, tentando espairecer.

Cecília ficou horas lá fora e começava a escurecer, então Medusa começou a preparar uma torta de frutas. Nada conquistava Cecília tão bem quanto a comida de Medusa, por isso fez questão de caprichar.

Sorria enquanto decorava a massa feita de ingredientes alternativos. Estava prestes a colocar para assar em seu forno velho, quando ouviu um assovio familiar, que fez sua espinha se arrepiar.

O assovio estava longe, mas as serpentes ficaram em alerta.

— Medusa! — e então, a voz. Aquela voz que esperava não ter que ouvir nunca mais — Venha ver o que eu achei!

Medusa correu até a saída da caverna e observou a cena. Cerca de dez homens se escondiam atrás de escudos de madeira, formando um meio círculo, juntamente com tochas e ao meio, Cecília encontrava-se amarrada, servindo de escudo humano para um homem. Este, que assiviara outrora, voltou a falar, aos berros.

— Vamos fazer uma troca?

Medusa não respondeu nada, apenas respirava de forma ofegante, enquanto observava as mãos daquele homem sustentando o corpo, provavelmente inconscientemente, de Cecília, enquanto não tinha coragem de olhar para ela de frente.

— Eu encontrei este belíssimo — enfatizou a palavra e os homens fizeram algum barulho — espécime perambulando por aqui. Está bem vestida, bem cuidada e caninha livremente pela floresta. Não deve ser uma refém, não é? O que foi? Finalmente encontrou uma espécie de meretiz para se divertir?

Os punhos de Medusa se fecharam fortemente, fazendo seus braços tremerem. Ela apoiou os braços contra as costas da estatua logo à frente de sua fachada. Um dos comandantes militares mais respeitáveis e um dos primeiros a tentar lhe enfrentar. Jogou a estátua ladeira à baixo, observando-a espatifar próximo à formação dos homens.

— Não? Muito bem. Eu e minha... — riu ironicamente — convidada, estaremos esperando você. Naquele lugar que você conhece bem. Faremos a troca, é você por ela. Espero você à vinte horas. Homens, movam-se.

E todos sumiram, selva à dentro. Mantinham seus  escudos virados para Medusa, que observou Cecília sumindo, junto com sua calma.

Quando não podia mais enxergar as luzes das tochas, mas sim, pequenos arbustos começando a queimar, Medusa não aguentou.

Sua voz saiu rasgando a garganta e seus joelhos se feriram contra o chão de pedra. O som das serpentes já não era mais ouvido quando o grito animalesco ecoou pela floresta.

— Perseu!

•••

N/A: Boa noite????? E aí gente, desculpa o atrasinho, tá?
A gente se vê na quarta, fiquem com esse capítulo tranquilinho pra começar a semana.
Até quarta, beijinhos 🖤

*Μέλι: Querida. | Fala da Cecília*

Petrificar / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora