Capítulo 8

3.5K 544 180
                                    

Após algumas semanas vivendo juntas, Cecília e Medusa já conheciam um pouco mais uma sobre a outra.

Medusa conseguiu ficar um tanto menos desconfiada de que a mulher que agora morava consigo, era alguém enviada para prejudicá-la. Mas ainda tinha algumas suspeitas, sua paranóia não conseguia se dissipar por completo.

Já Cecília, aprendeu que a personalidade solitária e fechada de Medusa levaria tempo para se acostumar com sua presença. Passou a fazer de tudo para contribuir com a mulher em atividades domésticas o quanto pôde.

Com muito custo, convenceu-a à deixar participar de suas rondas diárias. Desta forma, passou a conhecer a floresta em que a montanha onde viviam, estava localizada.

Ainda não se sentia confiante para sair por aí sozinha, mas gostava de passear e conversar com Medusa. Bem, as conversas eram quase monólogos, mas era legal ter alguém ali com ela.

Naquele dia, após jantarem um ensopado que Cecília fizera, estavam deitadas. Medusa em sua cama e a outra, no sofá. O clima estava ameno e uma brisa levemente gélida irrompia pela extensão da caverna.

— Eu acho que me arrependi. — Cecília pontuou.

— Do que está falando?

— De tocá-la. Gostaria de saber como você é.

— Nunca disse que poderia tocar em mim, você que pediu.

— Disse. Quando me falou que seu cabelo era feito de cobras, perguntou se eu queria encostar! — se levantou, ficando sentada no sofá.

Medusa lembrou-se do dia em que contou sua história para Cecília.

— Uma pena que recusou.

— Mas eu me arrependi, eu quero sim!

— Tarde demais.

— Medusa, por favor! — começava a usar o tom de voz particularmente engraçado, que fazia Medusa segurar levemente o riso. — Se me deixar te ver, eu nunca mais te peço nada!

— Me ver?

Cecília se levantou e com o auxílio de sua bengala — que agora era feita de um galho leve, porém resistente de árvore —, foi até a cama de Medusa, que se sentou, quando a viu chegar.

— Até agora não faço ideia de como sua aparência seja, e isto está me incomodando. Não consigo sequer criar uma imagem mental de você!

— Isso não tem importância nenhuma, Cecília.

— É claro que tem! Você consegue me ver, sabe como eu sou. É injusto que eu não possa ter o mesmo de você.

Medusa revirou os olhos. Cecília se aproximou dela na cama, sentando de pernas cruzadas e ficando de frente.

— Me conta como é sua aparência. — ouviu a outra suspirar — Vamos! Tudo que sei é que você é um pouco mais alta que eu, que tem um quadril largo e braços fortes.

— Meu quadril?!

— É, eu esbarrei em você algumas vezes e senti. — usou o dedo indicador para cutucar a cintura de Medusa, descendo um pouco até as ancas — Bem aqui.

— Sai! — Medusa se assustou e se encolheu, fazendo Cecília gargalhar — Não põe a mão em mim.

— Pensei que já podia! Desculpa, você está

— Só me assustei.

— Você tem que se acostumar com toque humano, mulher! E se eu quiser te abraçar?

Petrificar / [versão não revisada]Onde histórias criam vida. Descubra agora