Estou com medo

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Ricardo

Não demora antes que uma equipe de paramedicos entrem no local, eles levam Gisele até a ambulância e começam a fazer algum tipo de exame nela, estou petrificado, fico assim pelo proximo minuto antes de me dar conta que preciso fazer algo.
pego meu celular e mando a primeira mensagem para dona Olivia, mãe de Gisele: "oi, desculpa falar assim, mas Gisele não se sentiu bem e estou indo para o hospital com ela"
tento aliviar o maximo e deixar os detalhes para dar pessoalmente, olho mais uma vez a mensagem antes de encaminhar para Sophia e seu Paulo.
Solto a respiração que até então nem havia me dado conta que estava prendendo antes de procurar o próximo contato.
"ei cara, Gisele ta mal, desmaiou no shopping do nada, não sei o que ta rolando, pode vim aqui no hospital sta.monica?"
respiro fundo antes de mandar a segunda mensagem para Henrique.
"preciso de você, estou com medo"
olho para Gisele uns instantes antes de perceber seus olhos se abrindo um pouco e sua mão se mexendo vagarosamente, a mulher ao meu lado também repara, pois, anota no mesmo instante em sua prancheta: "paciente 3, desmaiada por 23 minutos, a partir da primeira chamada".
Logo Gisele está totalmente acordada com a mão agarrada a mim e um olhar em um misto de curiosidade e temor, não demora para a paramédica a explicar o que aconteceu a ela.
-Bom dia, meu novo é Daniela, nossa equipe foi chamada hoje ao Shopping do centro pois a senhora havia desmaiado, você ficou cerca de 20 minutos desacordada e estamos indo ao hospital neste momento, enquanto isso gostaria de te fazer algumas perguntas, ta tudo bem?
Gisele olha para mim, que só aceno com a cabeça, então ela responde fracamente.
-Sim.
-Então, primeiramente, qual o seu nome?
-Gisele.
- Certo Gisele, você se lembra de algo antes do desmaio?
Gisele estreita um pouco os olhos como se obrigasse as lembranças a voltarem, então responde.
-Eu estava indo a sorveteria, mas me senti cansada e resolvi sentar um pouco primeiro, tenho trabalhado dobrada ultimamente, hoje era meu primeiro dia de folga depois de um mês de cão, iria tomar uma vitamina, mas sempre acabava esquecendo, essa é a ultima coisa que me lembro antes de acordar aqui.
-Você tem sentido alguma coisa nos ultimos dias?
-Não.
Olho feio  para ela antes de corrigir.
-Ela tem tido dores de cabeça frequentes e hoje mais cedo ficou tonta para levantar.
-Eu tenho dores de cabeça desde a adolescência e o unico motivo da tontura foi que levantei rapido com a barriga pura.
Gisele protesta como uma criança.
-Bom, ainda assim, você desmaiou, por isso toda informação vai ser importante, tem alguma chance de gravidez?
-Não! sou 100% correta com meus remédios.
confirmo a informação porque ela é literalmente a pessoa mais paranoica com remedios que existe.
-Bom faremos todos os tipos de exame.
A enfermeira da um sorriso reconfortante para nós ao dizer isso e seguimos o resto do caminho em silêncio,  somente com Gisele apartando minha mão contra a dela.
Ao chegar no hospital, eles a levam para sala de exames e eu fico na recepção aguardando por notícias, Não demora para que Henrique chegue, o que me leva a acreditar que ele estava no consultório que é bem proximo dali.
Ficamos alguns segundo parados um em frente ao outro sem dizer nada até que eu falo.
-É minha culpa.
então desabo, choro como não chorava desde criança e Henrique fica lá, olhando, esperando que eu estabilize, então, quando percebi que isso não vai acontecer ele fala.
-Não é sua culpa, do que você ta falando?
-Eu sabia que tinha algo errado, ou eu devia saber, ela estava sempre com dor de cabeça, cansada, sem fome, mas eu achava que era por causa do trabalho, como eu não percebi?
- Ninguém percebeu, Sophia vivia reclamando que ela trabalhava de mais, inclusive eu ja fui com Sophia comprar remedio para dor de cabeça para Gisele, não se culpe, você não tinha como saber, alias, você não tem o que saber, talvez seja só uma fraqueza mesmo, pare de antecipar noticias ruins, coisas ruins acontecem o tempo todo, a gente ver pessoas que procuram a morte quase todos os dias, então, acaba se tornando normal que a gente espere sempre o pior, mas não dessa vez, pessoas passam mal por um milhao de motivos e 90% desses motivos se corrigim com dois ou três dias de remedio ou no maximo uma cirurgia de 5 minutos.
Me acalmo um pouco ouvindo ele fala, mas ainda não consigo evitar que as lágrimas desçam, quando Henrique se aproxima.
-Eu sei que você ta sofrendo, mas eu preciso que você esteja estável, porque daqui a pouco, todo uma familia preocupada vai rodear você com um milhão de perguntas e você, precisa ser você para responder todo o possível, se você se desinstabilizar, todos vão.
Respiro fundo e enxugo as ultimas lagrimas em meu rosto, Henrique esta certo, preciso ser forte pela familia de Gisele e provavelmente foi só um mal estar.

Henrique

Fico mais uns minutos com Ricardo até dona Olivia e o esposo chegarem, desço ate a cafeteira quando vejo Sophia subindo as escadas, paro olhando para ela alguns segundos, ja fazia tanto tempo que não a via, ela estava linda, com uma maquiagem simples e um batom vermelho, um vestido soltinho que contornava a cintura dela de uma maneira incrível, continuo olhando sem ela me ver, até que reparo o rapaz ao seu lado, alto com cerca de 28 anos segura sua bolsa enquanto sobe com ela, o que percebo em seguida me do
dói a alma,  Sophia estava em um encontro, demora menos de quatro degraus para ela me perceber, mas quando acontece, ela para na escada, fazendo o rapaz a olhar confuso, ela me olha uns instantes e fala algo ao homem ao seu lado que continua andando enquanto nós dois estamos ali parados olhando um para o outro, ele passa por mim e acena com a cabeça.
Continuamos na mesma posição por mais alguns segundos, mas então, começamos a andar em direção ao outro.
-Você viu Ricardo? tem alguma notícia?
ela é a primeira a falar quando nos encontramos.
-Vi Ricardo, mas ainda não sei nada novo, só que ela estava com dor de cabeça, foi comprar um remedio e desmaiou por mais de vinte minutos,  estão fazendo exames.
Ela não responde nada no momento, mas de repende pula em cima de mim e me abraça, fico sem reação por um instante, mas logo corro meu braço por sua cintura, sou inebriado por seu cheiro de jasmins, por seu cabelo sedoso e sua pele macia, ficamos um tempo abraçados e vejo lagrimas molhando meu ombro.
-Vai ficar tudo bem, deve ter sido uma fraqueza, acontece, logo ela vai ta por si ditando regras e fazendo todos sorri.
-E porque é que essa sensação de que tem algo errado não sai de mim? eu estou com medo Henrique.
Ela fala ainda em meu ombro, afasto o rosto dela e seguro entre minhas mãos e me permito reparar em cada detalhe de seu rosto, meu Deus, como eu amo essa mulher.
-vai ficar tudo bem, você precisa ser forte, por ela.
ela acente com a cabeça e me abraça novamente.
-Ricardo disse que os exames não irão sair agora, vamos tomar um café comigo enquanto você se acalma um pouco?
proponho estendendo a mão para ela que logo a segura, terminamos de descer as escadas e sentamos em uma das mesas vazias.
Tenho tantas perguntas, onde ela estava? era um encontro? quem era aquele rapaz? seu namorado? a quanto tempo? Mas decido não perguntar nada disso, não tenho esse direito, então simplesmente falo.
-Estava aqui por perto?
-Não, na agência, tinha umas fotos hoje, estava no meio de umas fotos com o agente quando vi a mensagem, ele é muito amigo de Gisele então me trouxe para cá para saber notícias.
De repende solto o ar que nao havia percebido que estava prendendo, respiro aliviado.
-que bom
falo simplesmente
ficamos mais alguns minutos juntos sem falar de nada realmente importante, boa parte do tempo foi preenchido pelo silêncio, não um silêncio constrangedor, mas um silêncio comodo, bom, que trazia paz ao meu coração,  de repende Sophia solta o ar como se estivesse pronta para falar algo, mas se cala.
-Quer dizer algo?
pergunto sem saber o que pensar.
-Eu... Eu preciso subir, ver se já tem notícias.
Sei que de todas as coisas, aquilo não era o que ela iria dizer, mas ignoro meu pensamento e me levanto, pago a conta enquanto ela sai e haviam tantas coisas para dizer, mas não naquele momento, naquele momento, só a deixo ir, e ela não olha para tras.

Querido psicólogoOnde histórias criam vida. Descubra agora