Boa jogada e crise

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Observar,

As vezes é bom observar o jogo em que você estar e qual é o seu adversário,

Dou um sorriso de lado quando ergo os olhos e vejo uma marca de nascença, minúscula no pescoço de Aaron, a marca é parecida a um boomerang e está servindo de foice para o desenho de ceifador da morte que ele tem tatuado na lateral do pescoço.

Boa jogada.

Relaxo o corpo ao lado dele e volto minha atenção aos idiotas a minha frente, meu rosto uma máscara de calma e diversão

- Sim, a última vez que nos vimos você estava usando uma algema como acessório

Bille o garoto que adquiriu meu ranço fala, ele tem os cabelos loiros escuros e olhos castanhos é alto e musculoso, bonito. Porém, babaca!
E não há beleza no mundo que faça eu odiar ele menos.

Não volto a olhar para o rosto de Aaron mas sinto os músculosas do corpo dele ficar tensos

- É isso que você lembra? As imagens daquele dia para mim são tão borradas.

Aaron fala com um pesar obviamente falso

- Eu lembro das minhas roupas sujas de sangue, mas não consigo lembrar se o sangue era seu ou do Daniel.

Não estou olhando para Aaron mas tenho certeza de ele está exibindo um sorriso, olho para Charles e ele está nervoso olhando de nós para o grupo de atletas a nossa frente

- Mas eu me lembro bem de outros fatos interessantes, como. A forma nojenta que vocês fazem sexo!

Bille dá um paço para frente apertando as mãos em punhos, mas não passou despercebido por mim a forma que ele lançou um olhar para Charles para ver a reação dele.

Bille deu outro paço seu rosto vermelho e sua mandíbula travada, seus olhos soltando faíscas de ódio em direção a Aaron, o garoto que ainda está com os braços ao redor do meu ombro continua parado, esperando a reação,

Mas é quando Bille vira em minha direção despejando todo o ódio encima de mim, é quando eu me preparo para enfim quebrar a cara dele em três que Aaron reage e entra em minha frente, servindo de escudo entre mim e Bille. Aperto os dentes irritada por ter sido interrompida de fazer o que eu anseio fazer 

- Eu fiquei atrás das grades por um maldito ano, não me importo de ir passar o resto da minha vida lá dentro por ter matado você.

Aaron ameaça baixo e calmo com um braço esticado para traz a mão erguida na minha frente como se podesse me segurar no lugar

Dou um paço e fico ao lado dele com um sorriso arrogante nos lábios, tentando esconder o medo Bille dá meia volta e sai andando como um maldito atleta famoso

- Eu não preciso de proteção.

Disparo olhando diretamente para Aaron

Eu queria ver a cor do sangue de Bille. Inferno!

Aaron me analisa de cima a baixo, passa a ponta da língua nos lábios e sorrir malicioso

- Eu não estava protegendo você, eu estava me protegendo.

Ele passa a mão no cabelo e os anéis prateados brilham com o movimento, dá um paço em minha direção sem desviar os olhos dos meus e eu permaneço firme no lugar

Quem sabe eu não possa usar minha frustração por Bille e soque a cara de Aaron?

Ele inclina o corpo em minha direção e eu sinto meu corpo ficar mais quente, o perfume amadeirado e levemente picante dele, junto ao cheiro do cigarro e ao leve toque de menta chegam até mim no exato momento em que ele sussurra baixinho em meu ouvido;

- Eu vi você lutando ontem e se eu visse você de forma tão sexy hoje de novo, eu acho que os professores não iriam ficar muito felizes de me ver com o pau duro.

Ele dá uma leve mordida em meu pescoço e eu prendo o caralho do fôlego, quando ele estava prestes a se afastar meu celular vibra no bolso, seguro na jaqueta de couro dele e o puxo para mais perto de mim, ele olha em minha direção

Eu prendo meus olhos nos dele e falo;

- Se eu consigo uma ereção sua sem ao menos te tocar, tenho medo do que irá acontecer com seu corpo no dia que eu chegar realmente perto.

Me afasto e mordo o canto da minha boca, meu celular vibra no bolso da calça novamente, pego o aparelho e o nome de Will brilha

Franzo o cenho olhando para o aparelho enquanto ele vibra em minha mão

Will nunca me liga.

Deslizo o dedo na tela para atender, levo o celular até meu ouvido e escuto a respiração pesada e curta do meu amigo

- Rai...

Will começa mas não completa a palavra, barulho de coisas quebrando faz eu afastar o celular um pouco do ouvido, porra Will.

- Nos vemos por aí raposinha!

Escuto Aaron dizer e sinto ele se afastar, mas não olho para confirmar.

- Ei, o que aconteceu?

Mantenho a voz serena e delicada, olho em direção a Charles indicando o celular e ele acena concordando. Não espero mais e começo a me afastar das pessoas para ter privacidade

- Está acontecendo... De novo!

Fecho os olhos quando escuto a voz dele tão vulnerável e tensa, ele está falando de forma entre cortada o que significa que ele está apertando a mandíbula com força

Will foi diagnosticado com T.E.I -  Transtorno Explosivo Intermitente.

Até um ano atrás sempre que ele tinha uma crise ele se afastava de todos e aparecia tempos depois com vários machucados, mas aí no ano passado eu entrei no quarto dele enquanto ele estava destruindo tudo.

Nós dois lutamos por horas, sem reservas ou cuidados. Estávamos numa guerra real, até que nossos corpos perdessem para o cansaço, desde então ele me considera a linha que o controla e sempre que ele sente que irá explodir ele me procura.

- Respira, vai ficar tudo bem!

Início usando a voz carinhosa que quase nunca uso, serena como o canto de uma sereia

Entro em uma quadra coberta que parece ser usada para jogos de basquete, me sento em uma das arquibancadas e converso com Will

Tentando fazer ele relaxar, esquecer o que está sentindo. Ignoro o sinal avisando que já está no horário de voltar para as aulas e continuo sentada ajudando meu amigo,

Ficamos assim por horas até que ele finalmente dá uma risada e diz que passou. Nos despedimos com a promessa que conversaremos hoje a noite e eu suspiro aliviada por ele estar melhor,

Ele é meu para cuidar e proteger!


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