Epílogo

1.8K 158 33
                                    

Cinco anos depois;

A chama laranja dançava em minha frente.

O vento beijando meu rosto bagunçando os fios pretos do meu cabelo. O sol aquecendo minha pele, o cigarro acesso entre meus dedos.

Sentada com as pernas esticadas, sentia a grama do jardim pinicar minhas coxas, porém. Mantive-me quieta, observando minha família, um filme rápido passando diante meus olhos, a forma que os conheci, o que já passamos, o quanto já os protegi e o quanto já fui protegida por eles. Tudo passando como um filme louco.

Que família mais fodida.

Observei Enrico correndo com meus cachorros, os cabelos tão negros que pareciam terem sidos forjados pelo mais puro petróleo. Sorri, ao ver Will ir até ele, erguendo ele nos braços e dando algumas voltas, os pés de Enrico giravam no ar, a gargalhada de meu irmão aqueceu meu coração e me fez entender que tudo tinha válido apena, tudo foi necessário para hoje estarmos aqui.

Quando retornamos da missão a cinco anos atrás, a primeira coisa que fizemos foi investigar sobre o passado de Enrico. Descobrimos que ele era brasileiro, filho único de um casal de traficantes do Rio de Janeiro, ambos haviam sido assassinados por polícias, o garoto vivia nas ruas e tinha sido levado para o México apenas para ser escravizado. Junto com todas aquelas outras mulheres que havíamos resgatado na missão. Enrico era órfão assim como nós, não tinha nenhum familiar vivo. Estava sozinho até aparecermos!

Will foi quem tomou a iniciativa de adota-lo, porém. O moleque se infiltrou em nossos sistemas e hoje era nosso caçula, ele não nos chamava de pais e sim irmãos. Logo que ele recebeu nossos sobrenomes se tornando oficialmente; Enrico Del Luca Fontana Mancini. O levamos até uma psicóloga, as coisas que ele passou e presenciou quando estava no cativeiro gerou traumas e ele precisou fazer terapia, anos depois ele já estava bem, psicologicamente falando. Nós, treinavamos ele, dávamos a ele um pouco de cada um de nós, afinal. Ele estava sendo criado por quatro assassinos cruéis e o líder de uma máfia.

Charles assumiu a presidência do império de Paul a três anos atrás e conheceu Kaylon a dois anos atrás, hoje estavam noivos, recebi a notícia e comemorei feliz em saber que meu amigo tinha encontrado finalmente alguém que o amava, que o aceitava e que lutaria por ele, exatamente como ele merecia.

Paul estava vivendo viajando pelo mundo e colecionando carros importados, bem e totalmente curado do que minha mãe fez a ele.

- La mia anima, o que tanto você pensa?

Valentino questiona olhando para mim, meus irmãs me observam. Balançando a cabeça dispensando a pergunta levanto. Caminhando até os braços dos meus homens. Will pega Enrico no colo e senta com ele no colo, sento na perna direita de Valentino e pego uma cerveja encima da mesa. Meus cachorros vem correndo e sentam em meus pés, acaricio as cabeças dele e volto a olhar para as pessoas mais importantes da minha vida.

Will, Enrico, Gian, Valentino e Giovanni.

Aperto as bochechas de Enrico e ele faz careta. O garoto é o herdeiro de cinco impérios de sangue, porém. Ele é livre para tomar as suas próprias decisões, se ele quisesse seguir o caminho que nós seguimos ele tinha nosso apoio, se ele resolvesse seguir outro caminho. Teria nosso apoio também. Ele tem as rédeas de sua própria vida, e aceitaríamos a decisão que ele tomar. Seja ela qual for.

Dou um gole em minha cerveja, Valentino beija meu ombro e pega uma cerveja bebendo logo em seguida. Incentivo meus irmãos a fazer o mesmo, Enrico ficando com o suco.

- Eu amo vocês... Infinitamente!

Começo olhando para todos eles com sinceridade, abrindo meu coração e sorrio.

- Vocês são minha família. Minha força, obrigada por terem estado do meu lado, por todo o apoio que me deram. Por terem acreditado na minha força quando nem eu acreditava, obrigada por não terem desistido de mim quando eu desisti.

Levanto minha garrafa em um brinde

- Lá fora somos monstros. Pessoas nos consideram sem corações, sem sentimentos. E é isso que somos para eles, é isso que damos a ele. Mas aqui dentro, sabemos que nada disso é verdade, sabemos que sim existem sentimentos dentro de nós. Que somos humanos como eles; Choramos, sorrimos, sofremos e lutamos. Amamos e somos amados! Eu agradeço por tudo, e espero que vocês saibam que sempre lutarei por vocês. Morreria e mataria por vocês, vocês são meus motivos para viver assim como também são meus motivos para morrer. Vocês são meus para sempre! A única parte boa existente em mim.

Pisco afastando as lágrimas em meus olhos e coloco minha mão encima da mesa, cada um deles colocam suas mãos encima da minha.

- Você é nossa para cuidar e proteger, agradeço por ter me enxergado quando mais ninguém enxergou, por ter visto potencial em mim quando nem eu mesmo via. Obrigado por ter me aceitado em sua vida, sou grato por ter você como irmã!

Will diz com a voz embargada sorrindo

- Eu agradeço por ter nos dado valor quando não mereciamos. Por ter mostrado como era bom viver no inferno, nos ajudado a enxergar o poder que tínhamos. Obrigado!

Giovanni diz com lágrimas nos olhos

- Obrigado, monstrinha, obrigado por ter mostrado que nem todo toque doía. Por ter me ensinando que a solidão nem sempre é ruim. Obrigado por ter me aceitado e amado, obrigado por ter lutado por mim!

Engulo o nó em minha garganta

- La mia anima. Sou grato por ter você em minha vida, por ter a honra de te ter como minha mulher. Como minha rainha, obrigado por ter me aceitado em sua vida! Por me fazer a porra do homem mais feliz do mundo. Agradeço por tudo!

Pego o medalhão do meu pescoço e beijo o material dourado com a foto de meu pai.

Obrigada por ter me amado tanto, papai!

Lágrimas escorre de meus olhos, lágrimas de alegria e gratidão. Lágrimas tão doces que faziam meu coração se encher de paz.

- Obrigado por terem me aceitado, mesmo que eu estivesse tão sujo e quebrado!

A voz baixinha de Enrico e os olhos castanhos que olhava de um rosto para outro fez eu entender que corações quebrados podiam se unir. Foi exatamente o que fizemos, estávamos quebrados, cada um com seus pedaços faltando. Mas nos abraçamos, nos aceitamos, lutamos uns pelos outros e nos concertamos.

Éramos uma só alma em vários corpos.

Éramos uma família!

Fizemos um brinde em silêncio. Meus cachorros latiram e pularam como se quisessem dizer algo. Enrico pulou da cadeira e começou a correr, os diabinhos aceitariam o convite e foram atrás deles, eu rir pegando um pedaço de torta de cima da mesa e jogando na cabeça de Will que me olhou incrédulo.

- Você está ferrada!

Desatei a correr descalça, pisando na grama do jardim. Rindo tanto que minha barriga doía, os quatro corriam uns atrás dos outros. Eu parei, olhando eles sorrindo e brincando, fechei os olhos e respirei fundo me sentindo aliviada.

- Família?

Gritei e eles pararam olhando para mim, com o maior sorriso que já dei na vida eu disse:

- O jogo acabou... Hoje é o começo do resto de nossas vidas. E porra, será foda!

O jogo acabou e nós vencemos.

- Nós vencemos todas as dores e demônios.

Eu disse ainda sorrindo e Will gritou:

- BOBINHA, NÓS SOMOS OS DEMÔNIOS!

Sim, os mais sortudos dos demônios.

Gölge Onde histórias criam vida. Descubra agora