Mirar e atirar

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Em 17 anos,

Barulho nenhum me agradou tanto quanto o barulho de meus saltos batendo contra o piso de porcelana enquanto caminho em direção ao palco improvisado em que haverá os discursos.

Como já havia sido instruído eu fico do lado direito de Paul enquanto Charles fica ao lado direito de Kayla, uma forma de demonstrar a todos que mesmo não tendo o mesmo sangue nos consideramos uma família.

Grande teatro do caralho!

Alguém apareceu e entregou a Kayla um microfone branco e então ela começou o discurso falando sobre como está feliz em fazer parte dessa família que o casamento com Paul foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida, que considera e ama Charles como um filho e que esse ano a comemoração é ainda mais especial pois sua filha está presente,

Nesse momento eu apenas aceno com a cabeça e ela continua vomitando palavras bonitas

Seus olhos pousam encima de mim por vários segundos e vejo lágrimas banhar seu rosto, franzo o cenho quando ela soluça, ainda me olhando ela abre e fecha a boca várias vezes

- Há menos de uma semana eu recebi uma notícia muito triste, a notícia da morte de uma pessoa muito importante para mim.

Aperto as mãos em punhos olhando o choro dela, pela minha capacidade em leitura corporal o choro e a dor evidente em seus olhos não é falsa, ela realmente está sentindo.

- Eu o amava e tudo que sou hoje devo a ele, por isso em um dia tão feliz para mim, um dia que significa muitas realizações de sonhos eu peço uma salva de palmas para ele, aquele que sempre confiou e me apoiou

Abro um sorriso de asco sentindo a raiva aflorar e fazer meu sangue correr mais rápido

- Trevor Marquez.

O seu cúmplice no assassinato do meu pai.

Lágrimas escorrem de meus olhos, mas diferente das dela são lágrimas de ódio.

Charles sai do lado dela e vem até mim, os olhos azuis dele me avaliam atentamente antes de abrir os braços e me puxar contra ele, meu corpo treme de raiva, uma raiva perigosa, sinto o controle sair de meu corpo aos poucos.

Arranque o coração dela.

Mate todos presentes.

Faça o sangue dela manchar esse chão...

Fecho os olhos com força e mordo meus lábios, eu preciso de dor, a dor me controla.

Sinto meu celular vibrar dentro da bolsa e minha respiração ficar descontrolada, Charles me aperta ainda mais em seus braços mas não está adiantando, eu preciso de mais, preciso matar alguém, sentir a vida se esvair do corpo.

- Raika!?

Afasto minha cabeça do peito de Charles, minha mãos caem tremendo ao redor de meu corpo, puxo o ar com força em meus pulmões

- Está tudo bem.

Minto em um sussurro cortado pois meu controle está se esvaindo de meu corpo.

Com a visão embasada vejo a hora que minha mãe se afasta de Paul e vem até mim, dou um passo para trás pois se ela encostar o dedo em mim eu mato ela na frente de todo mundo,

- Há Há, família perfeita? Que piada. 

A voz grave e computadorizada ecoa pelo local, vejo o rosto de Paul ir de preocupação, confusão e então raiva.

- Vejam de primeira mão quem é a verdadeira Kayla Cooler!

A voz continua falando e então mais risadas

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