Capítulo 5

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   Chego em casa com lágrimas no rosto. Certo, eu vivo aqui por quase 730 anos e odeio esse lugar. Mas foi o meu lar. E me traz lembranças.

   Fecho a porta e adentro em meu quarto, que é decorado com diversas flores e tem um doce perfume no ar. Eu passava inúmeras horas conversando com Urânia aqui. E também, era onde minha mãe cantava canções de ninar, pra mim dormir. Enxugo as lágrimas. Não vou pensar nisso. Simplesmente, não posso.

   Abro o guarda-roupas e pego uma mala preta, a única que possuo. Não caberia todas as minhas roupas nela, e eu nem tenho muitas, por isso, escolho apenas alguns vestidos e coloco-os ali dentro. Depois vou ao banheiro e abro uma gaveta onde guardo minhas joias. Escolho minhas preferidas e coloco-as na mochila vermelha que tinha levado para a lagoa.

   Tiro a toalha da mochila e pego uma seca no armário, que guardo na mala posteriormente. Fecho a mala. Pego meus chinelos confortáveis e enfio-os em uma sacola plástica, que coloco na mochila também. Vou até a cozinha e retiro da geladeira duas barras de chocolate para a viagem. 

   É, acho que é isso.

   Rapidamente tomo um banho quente, e em seguida coloco um vestido e uma sandália. Pego a mala e a mochila e deixo-as na salinha de estar. E, enfim, pronta, decido dar uma volta pela casa, calmamente. Avisto um porta-retratos na cabeceira da minha cama. A foto que estava nele havia sido tirada quando eu tinha doze anos. Quando meus pais ainda estavam ali... meu pai, moreno, sorria e minha mãe me abraçava, na fotografia. Pego o porta-retratos e guardo na mochila. Onde quer que eu fosse, eles estariam comigo. 

   Não posso enrolar mais. Tenho que ir, ou desisto agora.  Abro a porta da casa com minhas coisas, saio e fecho-a. 

   Sigo para o salão principal do Olimpo. Não se passam nem 10 minutos e avisto o lugar. 

   De pé e com os braços cruzados, encostado em uma árvore próxima a entrada, Himeros aparentemente me aguardava sorrindo.

   – Oi senhorita! – diz ele quando me aproximo.

   – Ah, oi. – respondo, sem parar de andar em direção ao Grande salão.

   – Como vai você? – pergunta Himeros me acompanhando.

   – Bem. – digo, inquieta – E você? Novidades?

   – Para falar a verdade, tenho sim.

   – Hum...

   – Bem, sou um Deus muito bonito, sabe.

   – Isso não é novidade. Novidade seria se não fosse tão convencido...

   – Prosseguindo, er... Como sou muito bonito...

   – Bah!

   – Tenho muitos filhos.

   – E daí?

   – E daí, que coincidentemente, tenho vários no Brasil. 

   – Legal.

   – O que eu quero dizer, Hannah, se você me permitir, é claro, é que eu tenho um filho na escola para onde você está indo. Na Martin Hous. Ele é um semideus.

   – Um o quê?

   – Semideus. Ele é filho de um Deus, eu, e de um ser humano, uma mulher com que eu...

   – Tá, tá. Já entendi! E no que isso pode me ajudar?

   – Bom, eu vou mandar uma carta para ele, e vou explicar toda a situação. Ele pode te ajudar nessa missão. Vocês podem, inclusive, serem amigos.

A Traição - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora