– Tá, tudo bem. Se quiser passar o recreio comigo e com os meus amigos antissociais, problema seu. – digo, tirando as mãos dele de mim. – Mas não ouse me tocar novamente. – E dou um soco na cara dele que faz seu nariz sangrar.
– Ei, linda. Eu sei que você só passa o recreio com esses garotos por causa do tal relógio. Aposto que não vai com a cara deles!
– Posso não ir com a cara deles, o que, verdadeiramente, não é da sua conta. – digo indo de encontro com os meninos no banco próximo da árvore. – Mas o nariz de nenhum deles está sangrando.
Ele corre pro banheiro e eu chego na árvore com raiva. Tanto que arranco uma folha e fico rasgando em mínimos pedaços.
– Ei, não faça isso com as plantas! Elas também são seres vivos! – diz Lucas, me repreendendo.
– Tem razão. – falo, soltando o último pedaço da folha no chão e me sentando no banco.
– Por que tanta raiva, garota? – pergunta o Nathan.
– Não quero falar sobre isso. – digo enquanto retiro o plástico do meu sanduiche de atum com alface. – Idiota! – Pego o pedaço de alface e começo a picar também.
– Ei, calma! – diz o Hugo se sentando do meu lado. – Não chame o Nathan de idiota. Ele é um cara legal.
– Não te chamei de idiota. – digo, olhando pro Nathan. – Chamei outra coisa de idiota.
– O alface? – pergunta Lucas.
– As plantas? – arrisca Hugo.
– O verde? – deduz Nathan.
Sorrio e olho para eles.
– Não é nada, sério. – digo, mordendo o primeiro pedaço do pão.
– Hm...a senhorita trouxe lanche hoje. Que bom. – diz Hugo. Mais porque não deve ter outra coisa para dizer. Sorrio.
– Sim! Eu que preparei. Querem um pedaço?
– Você que fez? Quero não...valeu. – diz Hugo.
– Obrigado, mas não! Vai que está envenenado! – diz Lucas.
– Eu trouxe um pacote de biscoito, Anna. Obrigado. – diz Nathan.
– Poxa gente... o sanduiche está gostoso, tá. – digo, parecendo chateada. – Mas enfim, vocês vão no baile esse sábado?
– Hm...acho que não. Não sou muito de ir a festas. – diz Hugo.
– Eu vou! Não perco por nada, deve ser maneiro. – fala Lucas. Sorrio. Ele vai... menos mal.
– E você, Nathan? – Lucas pergunta.
– Não vou não... – diz ele.
– Ah, bora gente! Deve ser legal! Por favorzinho! – eu digo fazendo cara de criança que pede doce.
– Ah, ok. Eu vou. – diz Hugo. – Mas só por causa de vocês.
– Ebaa! – digo feliz
– Nathan?
– Hm...ah, sei lá. Eu nem sei dançar nem nada. – fala ele.
– Eu também não! Ninguém sabe. Ah, bora! Vai ser divertido! – Lucas diz.
– Só falta você! – falo. E então eu chego mais perto dele e cochicho – Não adianta nada querer ter uma vida legal, se você não faz por onde...
– Tá legal. Eu vou! – ele diz.
– Eee! – Comemoramos como se ele tivesse finalmente aceito que 1+1 é igual a 2, e não 3.
– Tudo bem, então! Tô animada! – digo, e continuo comendo o meu sanduiche.
O fim do recreio se aproxima e eu fico triste, pois adoro conversar com eles. O recreio poderia ser eterno, mas como nem tudo é como a gente quer, nos levantamos e voltamos para a sala de aula, a espera de milhares de atividades de Filosofia. Quando marca 13h no relógio, os alunos saem da sala aos berros. Encontro Laryssa no portão e lembro que hoje temos que voltar de ônibus para casa.
– Oi, Lary. – digo. – Vamos para o ponto de ônibus?
– Oi, tá. – ela diz. E eu sigo ela até o ponto mais próximo. – E aí, como foi seu dia?
– Foi bom, e o seu?
– Bom também. Não te vejo mais com Carla e Rita... vocês pararam de se falar?
– É, mais ou menos.
– Hm... Ali, chegou o ônibus. – ela diz, e subimos naquele troço.
Fico olhando para a Lary, pois não tenho certeza do que devo fazer, e vejo que ela dá um dinheiro pro moço e passa na roleta. Ela me olha e fala:
– Vem logo, Anna.
– Hm... não trouxe dinheiro...
– AFF! – ela fala e pega na mochila uma nota de dois reais e algumas moedas e dá para o moço.
Então, passo na roleta também. Nos sentamos em umas poltronas. Eu fico na do lado da janela. Após uns 20 minutos, entram no ônibus quatro homens mascarados que pulam por cima da roleta.
– Isso é um assalto! Não se levantem nem façam barulho, ou será pior... – um deles diz, e mostra uma arma, por debaixo do casaco.
– Motorista, continue o seu trajeto normalmente, mas não pare esse ônibus. – fala o outro cara, e olha para o restante do público. – E nenhum de vocês irá sair daqui, se eu não mandar!
O motorista continua a dirigir, casualmente. Olho para minha irmã. Ela parece estar em pânico. Abraço ela, pois não sei mais o que fazer. Dois deles passam por cada pessoa com um saco, mandando por todos os seus pertences ali dentro. Os outros dois ficam no final do ônibus com a arma apontada para nada em específico, mas com o propósito de amedrontar. Olho para Lary novamente e digo baixinho:
– Apenas coloque sua mochila ali dentro, ok?
– Não posso, Anna...
– Quê? Como não pode...?
Então eles se aproximam de nós com o saco e um dos assaltantes manda:
– Joguem as mochilas aí, e nada de ruim irá acontecer com vocês, mocinhas.
Olho para a Lary e ela está agarrando a mochila. Se não fosse tão importante, ela não ficaria assim. Jogo minha mochila no saco e digo:
– Aqui está a minha. Por favor, deixe a minha irmã ficar com a dela.
– Não. Jogue logo a sua mochila aí, não temos muito tempo. Cada segundo é precioso, e se você não fazer logo isso, serei obrigado a atirar. – ele diz, apontando uma arma para minha irmã.
Entro em choque. Eu sou imortal, mas ela não. E pela cara desses sujeitos, eles não hesitariam em matá-la.
– Lary... por favor... entrega logo a mochila! – peço, suando, com o coração batendo a mil. – Por favor!
Ela me encara com os olhos lacrimejando, se vira para o cara e diz:
– Não.
E ele atira.
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A Traição - Livro 1
Teen FictionA Traição é o primeiro livro de uma trilogia, que conta com fatos da vida real, mas também é relacionado a mitologia. SINOPSE: Hannah é uma garota/Deusa que busca o respeito e reconhecimento dos demais Deuses do Olimpo, pois foi condenada a solid...