Encaro a folha sem acreditar que eu tenha entendido certo. Então, quer dizer que...não. Não pode ser.... Então... A minha irmã não quis dar a mochila porque estava com o relógio...? Por minha causa ela morreu... E, as máscaras, Lucas... Nossa! O Lucas era um dos assaltantes? É sério? Não. Não pode ser sério... Não. Ele não faria isso... Não mataria ela. Não mataria a minha irmã. Refaço a cena do ônibus na minha cabeça... os olhos que eu reconheci... a luta... ela diz na folha que ele é um Deus. Então, por isso, que ele pareceu não sentir dor com o tiro...
E então lembro que foi estranho ele aparecer do nada após o assalto, aonde eu estava. E, ter vindo da direção oposta da escola. Tudo para pegar... o relógio. Ele tramou o roubo com os amigos, para pegar o relógio.
O relógio! Eu esqueci a mochila...e só depois de um tempo ele foi me devolver. Depois de pegar o relógio... que estava lá. O tempo todo estava lá. A ficha demora a cair. Mas assim que cai, eu fico com uma inexplicável raiva do Lucas. Volto para o pátio com o diário na mão e o mostro para o Nathan, Lucas e Hugo.
– Aqui.
David já havia voltado da enfermaria, e também lê. Assim que eles acabam de ler, diz:
– Ah, fala sério! Está na cara que ela escreveu isso para ficar como inocente! Assume, vai. Que você que fez isso. Não tente incriminar os outros.
– Eu?! Incriminar os outros? – digo, desacreditando que ele falou isso. Eu que estou sendo culpada por algo que não fiz! Vou ser condenada à um lugar para o qual não mereço ir. Meus amigos não acreditam em mim. Fui traída por um deles, aliás. Meu coração dói só de pensar nisso. Eu realmente achava que ele me amava, mas na verdade, era puro interesse... Estava ali apenas pelo relógio. Ele mentiu para mim. Mentiu.
– Anna, o que o David diz de fato faz sentido... – Nathan diz.
Olho para ele, e percebo que o Lucas, que antes estava do seu lado, está a alguns passos de distância saindo do tumulto... fugindo. Fugindo da situação. Corro até ele e agarro seu braço, o obrigando a parar de andar.
– Como... você foi capaz, Lucas? – digo, olhando em seus olhos. E então percebo que não é uma boa ideia pois vejo que são exatamente como os daquele ladrão... que matou minha irmã. Solto seu braço e fito o chão. Quanto mais eu penso, mais amargamente me sinto.
– Anna... me desculpe. – diz ele pegando em minhas mãos. Mas eu as solto instantaneamente.
– Eu confiei em você! E.... você matou a minha irmã! – grito. E, tentando não chorar, suavizo minha voz. – A garota mais alegre e extrovertida que eu já conheci.
– Ela não era bem a sua irmã... e, foi preciso. Eu queria muito o Horogan...
– Eu a considerava minha irmã! – digo. – Anna, não me julgue, pois eu sei que se você precisasse, também mataria alguém para conseguir o relógio.
– Não! Eu não mataria! Você se esquece que depois que eles morrem não voltam mais? Eles não são Deuses, não são imortais. Morrer é uma coisa horrível, sabia? Ainda mais inocentemente, que nem ela.
– Anna... eu não fiz por mau. Me perdoe, por favor! Eu estou arrependido! – ele diz.
– Não fez... por mau? – digo.
A frase é tão patética que não resisto e olho em seus olhos novamente.
– Como que se mata alguém sem ser por mau? Em? – Grito. – Eu vou matar você! Matar-Você! E com os punhos cerrados, começo a espancá-lo. Mas, tendo o mesmo tipo de força que eu tenho, por ambos sermos Deuses, ele segura meus pulsos fortemente, me impedindo de prosseguir com a surra. – Foi... você.
Por mais que eu tente, ainda não consigo acreditar. As lágrimas rolam pelo meu rosto.
– Anna, eu peguei, sim, o relógio. Está guardado em casa. Não usei, e não quero mais usar. Eu vou te devolver ele, ok? E então você dá ele pro Nathan, ou leva pro Olimpo. Sei lá. Faz o que quiser. – ele diz, e sua voz soa tão atrativa que volto a olhar em seus olhos.
– Isso não vai reverter a morte da Lary... – digo. – E, se quer mesmo fazer algo por mim, diga a eles que isso e verdade. – Aponto com a cabeça para o pessoal, que ainda olha o diário atônito. – Que o que ela escreveu naquele diário é verdade. Pare de pensar tanto em você, e seja mais justo. Vá para Nevol em vez de simplesmente deixar que eu seja condenada por algo que não fiz.
– Anna, você já ouviu falar sobre aquele lugar? – diz ele me soltando e passando a mão pelos cabelos, nervosamente. – Dizem que é horrível!
– Deixe de ser tão egoísta! – grito. – Eu vou para lá! Eu! E por sua causa!
– Anna... sinto muito. Mas eu não vou me arriscar a ser condenado para Nevol... sei que quando muitas pessoas reunidas odeiam algo, a energia vai diminuindo... Eu não...
– E.... você vai deixar que isso, aconteça comigo? – digo, mostrando-lhe a minha pulseira que marca 30% e logo muda pra 29%, 28%... e vai caindo sucessivamente aos poucos. – Você é mais covarde do que eu pensava. Saio de perto dele, mas ele vem atrás de mim.
– Anna, eu te amo.
– Não. Ouse. Dizer que me ama. – digo. – Se você me amasse não faria isso.
Vou para o banheiro, e encaro meu reflexo no espelho. Enxugo as lágrimas e forço-me a pensar que tudo vai ficar bem. Que eles vão perceber que há um mal entendido. Eu não posso ir para a Cidade de Nevol... Não mereço ir. Olho minha pulseira, e nela marca 15%. Me sinto muito mais fraca. Em breve, guardiãs de Nevol virão me buscar.
Decido sair para tentar convencer aos meus amigos que isso tudo é mentira, que apesar de inicialmente querer, eu não roubei o relógio. E sim, o Lucas. Sinto desgosto ao pensar nele. Só que ao me virar em direção a porta vejo o homem que é considerado meu pai nesse mundo. Fico surpresa por ele estar ali, mas não tão surpresa quando vejo que, por detrás dele há uma outra pessoa... Laryssa.
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A Traição - Livro 1
Teen FictionA Traição é o primeiro livro de uma trilogia, que conta com fatos da vida real, mas também é relacionado a mitologia. SINOPSE: Hannah é uma garota/Deusa que busca o respeito e reconhecimento dos demais Deuses do Olimpo, pois foi condenada a solid...