CAPÍTULO UM

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Olho para trás e não consigo enxergar nada; tudo está envolto na escuridão. Estou completamente paralisado, incapaz de me mover, falar ou gritar. Minha respiração está fora de controle, cada vez mais ofegante, e meu coração acelera descontroladamente. Sinto-me fraco, cada tentativa de encontrar forças me esgota ainda mais. O ar ao meu redor está denso, pesado, como se cada molécula conspirasse para me sufocar.

— A PROFECIA SERÁ CUMPRIDA! — um demônio surge ao meu lado, acorrentado por correntes brilhantes, gritando em desespero. Sua voz é um trovão de agonia, ressoando nos confins da escuridão que me cerca. Estou ofegante novamente, minha visão turva, o medo se enraizando profundamente em meu ser.

Tento gritar, mas é impossível. Minha voz está presa, sufocada por um terror que parece transcender a realidade. Tento correr, mas algo me prende ali, como se as sombras tivessem mãos invisíveis segurando meus tornozelos. Minha voz não sai, meu grito fica preso na garganta. A agonia de não poder acordar me consome a cada momento, um desespero que corrói minha alma. O demônio grita cada vez mais alto, tentando escapar das algemas luminosas que o prendem. Seu sofrimento é quase palpável, uma manifestação do tormento que sinto.

— Harry, acorda! — Alice, minha irmã, grita. Consigo ouvir seus passos se aproximando de mim enquanto ela me chama várias vezes. Droga! Eu só quero acordar!

De repente, a escuridão se desfaz, revelando a cidade de Denver em completo caos. Há demônios por toda parte, suas figuras grotescas emergindo das sombras, trazendo destruição e pavor. Chamas consomem as casas, o fogo dança em meio a dor, refletindo o desespero nos olhos dos cidadãos que correm pelas ruas em busca de salvação. O céu está tingido de vermelho, como se o próprio inferno tivesse se aberto sobre a cidade. Os gritos de pavor e dor ecoam pelo ar, misturados ao rugido das chamas e ao estrondo de estruturas desmoronando. Vejo famílias sendo separadas, crianças chorando, pais tentando proteger seus entes queridos em vão. O cheiro de fumaça e carne queimada é sufocante, invadindo minhas narinas e se instalando no fundo da minha garganta. A visão é um pesadelo vivido, um cenário de destruição que jamais poderia ter imaginado.

Cada detalhe é uma facada na minha consciência: as ruas outrora pacíficas agora cobertas de escombros e corpos, os demônios rasgando o tecido da realidade com sua presença nefasta. O sofrimento está estampado em cada rosto, a esperança despedaçada como vidro. Tudo se resume em sofrimento, tudo se resume nesta única palavra. E estou preso no meio de tudo, incapaz de fazer qualquer coisa, um espectador impotente diante do apocalipse que se desenrola diante de meus olhos.

De repente, sou despertado pela minha irmã, que me sacode, chamando meu nome repetidamente.

— Harry! — Alice balança meu corpo vigorosamente, tentando me acordar. — Harry!

— Ok, ok, estou acordado! — Desperto do sono completamente suado. Abraço Alice com força, pois apenas isso faz minha respiração voltar ao normal.

Sonhos assim são comuns para mim há muito tempo; desde os seis anos de idade. Já se tornaram uma parte normal da minha vida. São apenas os meus medos, que acabam se tornando maiores do que a minha força. É fácil quando você pode ver o que está à sua volta, mas o difícil é quando uma venda cobre seus olhos. Seus medos se tornam seu coração, seus pulmões, e você acaba inalando a neblina do vazio extremo junto com os monstros que te atormentam. Eles te perturbam dia e noite; não há como escapar do que vive te perseguindo. Essa é a natureza do medo: ele te atinge até te consumir completamente, dia após dia, até você ficar submerso.

*

Estou sentado na cama, naquele estado nebuloso entre o acordar e o dormir, quando a luz da manhã invade o quarto, suave, mas implacável. O despertador já tocou há alguns minutos, mas eu ainda estou lutando para me desprender do conforto dos sonhos e encarar a realidade de mais um dia de escola. Solto um bocejo profundo, seguido por outro e, antes que perceba, um terceiro escapa de meus lábios. Mal me despedi das férias, e já estou sendo consumido pela saudade dos dias preguiçosos e sem compromisso. 

Os Meios Não Justificam Os FinsOnde histórias criam vida. Descubra agora