HARRY
Meu medo se tornou meu pulmão, meu coração. Agora estou respirando a névoa do vazio extremo junto com os monstros que me atormentam. Eles me perturbam a todo momento; não há mais escapatória do que já conseguiu me alcançar. Essa é a natureza do medo: ele me atinge até consumir completamente, me submergindo por inteiro.
Minha mente está atordoada. As lágrimas emergem sempre que penso em Ethan. É inacreditável, insuportável a ideia de nunca mais vê-lo. Estou sendo consumido por um luto profundo, mergulhando cada vez mais fundo nesse oceano de dor e vazio que Ethan deixou para trás. Estou afogado em lágrimas, incapaz de emergir à superfície.
Recordo-me do encontro com a Sra. Carter para levá-la de volta para casa, protegida antes na vila dos gigantes:
— Sra. Carter? — chamo-a ao me aproximar. — Preciso levá-la para casa. Está tudo resolvido. — Minhas palavras sairam trêmulas, gaguejadas.
— Tudo bem, Harry! — ela sorriu, um sorriso que parece ligeiramente forçado. — E Ethan? Já está em casa? Por que ele não veio com você?
Fico em silêncio. Um nó se formou na minha garganta, impedindo qualquer resposta. Permaneço ali, diante da mãe de Ethan, sem saber o que ia dizer. Então, sem emitir uma única palavra, começo a chorar. O olhar de desespero da Sra. Carter me atravessou.
— Meu filho não! Por favor, me diga que não é o que estou pensando! — ela implorou, começando a entrar em pânico enquanto me fitava. — Harry, fale alguma coisa, por favor! — Sra. Carter se juntou a mim em lágrimas.
— Eu fiz de tudo para protegê-lo, eu juro! Mas não consegui... — murmurei enquanto a abraço com força, senti sua dor transpassar para mim através daquele abraço compartilhado.
Consigo ver Ethan morrer várias vezes, aquele mesmo momento se repetindo incessantemente em minha mente. Vejo o sofrimento de Ethan, a dor estampada em seus olhos, mesmo ele tentando disfarçar. Vejo Azazel cravando sua espada profundamente, entrando lentamente no corpo do meu amigo. Não consigo tirar essa dor, ela me envolve por inteiro, como uma cobra se enrolando em sua presa até sufocá-la por completo. Já não posso mais respirar como antes, a dor já está totalmente submersa a mim. Estou com falta de ar, meu coração está acelerado, as memórias da morte de Ethan estão cada vez mais passando pelos meus olhos.
Saio da cama e abro a porta rapidamente. Vejo Alice sentada nas escadas, seu olhar de surpresa se transformando em preocupação ao me ver. Ela vem até mim rapidamente e me segura quando estou prestes a cair. Alice me envolve com os braços, me abraçando fortemente, como se sua força pudesse impedir que eu me afundasse ainda mais.
— Calma, respira. Tá tudo bem, ja passou... já passou. — Ela me segura com firmeza, tentando transmitir alguma forma de conforto, de consolo, mesmo que saiba que as palavras não têm o poder de curar uma ferida tão profunda.
*
É muito fácil falar: "Eu vou conseguir", quando na verdade você não tem ideia do que o futuro reserva. A dúvida paira sobre mim dia após dia, me fazendo questionar se alcançar meus objetivos é realmente possível, ou se são apenas sonhos inalcançáveis. Às vezes, a incerteza é avassaladora, e aceitar que algumas coisas simplesmente não estão destinadas a acontecer é uma batalha constante.
Estou voltando para a escola, retomando aos poucos minha rotina. As visitas semanais à psicóloga da escola têm sido um alento, uma luz no fim do túnel no meio do caos que se instalou semanas atrás. Aos poucos, estou me reconstruindo, me reerguendo das cinzas da devastação emocional que vivenciei. No entanto, Ethan faz uma falta imensa a cada momento. Conviver com essa ausência é uma dor que não se atenua facilmente.
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Os Meios Não Justificam Os Fins
FantasiaHarry, um adolescente de 16 anos, leva uma vida comum, repleta de sonhos e desejos. No entanto, sua existência tranquila é virada de cabeça para baixo quando descobre um segredo que pode mudar sua vida drasticamente e colocar em risco tudo o que ele...