CAPÍTULO TRÊS

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Tudo ao nosso redor está em constante mudança. Aos 11 anos, eu já sabia o que queria ser quando chegasse à vida adulta: um médico cirurgião geral. Cuidar das pessoas é o que eu desejo, é o que me faz sentir bem.

Uma vez, quando criança, um garoto que descia pelo escorregador caiu de joelhos. Corri até ele rapidamente para tentar ajudar. Peguei um band-aid e coloquei em seu joelho esquerdo, que estava totalmente ralado. Ele me agradeceu logo em seguida. Aquilo me fez sentir útil, me trouxe um calor no coração, sabe? A sensação foi de satisfação. Eu estava feliz por ter ajudado em alguma coisa, principalmente em um machucado. Pode parecer bobo, mas sempre lembro desse dia com a maior felicidade do mundo.

Aos 13 anos, ganhei um estetoscópio de presente dos meus avós. Fiquei tão feliz que o usei em toda ocasião possível, verificava os batimentos de todos da casa: Alice, minha mãe e meu pai, eles eram meus pacientes. Mas logo o estetoscópio parou de funcionar. Descanse em paz, estetoscópio.

*

Estou em choque, parado neste momento, olhando para meu reflexo. Não consigo acreditar no que vejo. O anjo já não está mais presente, mas meu corpo está totalmente modificado.

Puta merda, devo estar alucinando!

— Harry? O que foi, filho? — Minha mãe bate na porta do meu quarto. — Ouvimos o grito, está tudo bem? Se machucou?

Rapidamente, me escondo no box do banheiro. Ainda estou totalmente diferente, ofegante, meu coração acelerado.

— Não é nada! — Falo com a voz trêmula. — Só tive um susto com um guaxinim na janela. Ele tentou entrar pela abertura que esqueci de fechar mais cedo! — Estou de olhos fechados, tentando me acalmar. Deve ser apenas o cansaço, devo estar muito cansado, só isso.

— Guaxinim? — Alice fala confusa, demonstrando preocupação. Parece que todos estão na porta do quarto. — Ele já foi? — Alice pergunta, e sua voz denota sua inquietação. Afinal, ela quase foi mordida por um ano atrás.

Escuto a porta sendo aberta e logo em seguida escuto passos vindo até o banheiro.

MERDA!

Meu pai abre a porta do banheiro e logo avista minha silhueta no box, consigo ver a dele também.

— Da próxima vez, deixe-a fechada, filho. Esses bichos gostam de pegar comida à noite. — Meu pai fala enquanto abre a porta do box.

Ele sorri para mim, percebendo meu completo pânico estampado em meu rosto.

— Tudo bem, tudo bem! Ele deve ter ido embora já faz um tempo. — Ele estende a mão para eu levantar. — Tenha mais cuidado da próxima vez, filho.

Logo estou de pé novamente. Saio do box, olhando diretamente para o espelho.

Estou completamente normal. Meu corpo, meus olhos, minha cabeça, os chifres sumiram, as asas não estão mais presentes. O que está acontecendo comigo?

— Bom, voltem a dormir, amanhã é outro dia. — Minha mãe fala enquanto verifica novamente o quarto. — Boa noite, filho. — Ela sai, junto com Alice e meu pai.

Não consigo entender o que de fato aconteceu comigo. O cansaço? O pesadelo esquisito que tive? Estou tão cansado que nem me importo muito com o ocorrido. Devo estar apenas cansado mesmo.

Amanhã é outro dia.

*

— Cara, suas olheiras estão afundando seus olhos. O que andou fazendo a noite? — Ethan observa meu estado logo de manhã.

Os Meios Não Justificam Os FinsOnde histórias criam vida. Descubra agora