Os Meios Não Justificam Os Fins

CAPÍTULO QUATORZE

As pessoas estão sempre em busca de um propósito na vida. Elas depositam sua fé em crenças, religiões, ou até mesmo no dinheiro, buscando algo que dê sentido à sua existência. Essa busca incessante pelo significado da vida é uma experiência comum a todos. Afinal, sem um propósito, sem algo que nos motive a acordar todas as manhãs, a vida pode se tornar desgastante, levando-nos a um abismo sem fundo. A queda é lenta, e o abismo parece não ter fim. Gradualmente, vamos nos afundando cada vez mais, até nos encontrarmos perdidos na escuridão da alma, imersos no vazio que nos consome.

ETHAN

A vila dos gigantes, outrora um refúgio de paz entre as montanhas majestosas, agora se encontrava em ruínas. O eco dos gritos de dor misturava-se com o lamento dos feridos, crianças desamparadas e famílias destroçadas. Em meio aos escombros, cadáveres jaziam como testemunhas mudas da tragédia que havia se abatido sobre aquele lugar outrora sereno. Caminho por entre os destroços, testemunhando a devastação e a perda que cada canto da vila expressava, meu coração se aperta. A dor é palpável, um manto pesado que envolve cada alma que lutou até o último suspiro para proteger seus entes queridos. A paz havia sido substituída pelo luto profundo que permeava o ar.

Foi então que vi Harry no céu, flanqueado por uma legião de demônios. Um arrepio de medo percorreu minha espinha ao testemunhar a transformação que ele sofrera. Seus olhos, outrora cheios de bondade e determinação, agora refletem um vazio sinistro. Ele pairou sobre a vila em silêncio, observando com uma serenidade assustadora. Não nos atacou, não proferiu palavra alguma. Apenas um olhar, carregado de uma presença maligna que arrepiava até a alma, antes de desaparecer junto aos demônios que o envolviam. Eu sabia então que Harry estava possuído por Lúcifer, uma marionete de forças além de sua própria vontade. Era doloroso testemunhar a transformação de alguém que conhecíamos tão bem, agora uma figura irreconhecível envolta nas sombras do mal.

Apesar do desespero que se instalou, eu me mantenho firme na minha missão de ajudar. Carreguei crianças feridas para um abrigo improvisado, onde pudessem encontrar algum conforto e cuidados para suas feridas físicas e emocionais. Cada passo é um lembrete doloroso da batalha que travamos, uma luta complicada que testou nossos limites e forçara-nos a enfrentar o pior da natureza humana e além dela.

A noite caía sobre os restos fumegantes da vila, enquanto eu continuava a minha tarefa, sabendo que a reconstrução física seria apenas o início de uma longa jornada para curar as feridas profundas que aquele dia havia infligido em todos nós.

Foi uma luta difícil. 

— Olha para nós! NÃO VÊ? Nossas casas destruídas, nossa gente atacada e massacrada! FOI UM ERRO TER ACEITADO VOCÊS AQUI! — um gigante fala ao se ajoelhar em frente a um corpo já sem vida.

— Desculpe-me! Não sabíamos o que viria pela frente! — Anael fala se desculpando.

— Cale a boca anjo imundo! As conversas sobre vocês são realmente verdadeiras! Anjos são corruptos, imprudentes, desleais!  — outro gigante fala ao avistar a avó de Owen chegando juntamente com seu neto.

A senhora se aproxima do conflito e fala:

— NÃO SÃO CULPADOS POR NADA! Vieram aqui para pedir ajuda! Não são culpados por um ataque de demônios e nem de outra espécie! Agora devemos unir forças, não sabemos o que vem pela frente! — a mulher fala para cada um no recinto. — Lúcifer já está solto...

— E o que vamos fazer agora? Estamos totalmente vulneráveis a qualquer outro ataque! — outro gigante fala.

— Temos que unir forças! Lúcifer guardou muito ódio nesses últimos tempos! Ele tem sede de vingança! — Anael fala amedrontado se regenerando de uma grande ferida em sua costa. — Ele pode atacar a qualquer momento, a qualquer hora! Devemos estar sempre vigilantes!