" a primeira é sempre a mais dura"

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Apesar de toda satisfação, seu estômago ainda estava embrulhado. Ela estava em uma cilada, mesmo não tendo necessariamente a obrigação de contar, sabia que precisava fazer isso. Não há pessoa melhor para contar seu trágico passado do que seu chefe italiano que é frio porém muito doce e cavalheiro quando quer. Viu que Cole também comia com certo receio, como quem não está com fome. Ok, mais uma golada no vinho, só para garantir. 

Lili- Bem, quer saber minha história e o por quê de tudo, então vou começar. 

Ponderou as palavras dentro de si, não tinha como deixar suave. 

Lili- Nasci em Cleveland, Ohio e quando tinha apenas alguns meses me mudei para a Itália. Arezzo, para ser mais específica. Fiquei alguns anos por lá, até minha mãe arrumar um marido novo, já que quando nasci, ela disse que meu pai foi embora por desgosto- mais um gole de vinho. Coragem ,Reinhart-. Quando esse homem chegou, tive os piores anos de toda minha vida. Tinha 5 anos quando ele chegou e fui embora da Itália aos 16, quando já sabia me virar. Ele nos obrigou a ir morar em uma casa no interior, longe de tudo e de todos. A escola era pequena mas me fazia bem, pelo menos, não estava em casa com aquele porco. 


Cole não tenta nem piscar, para não perder alguma coisa. Ele queria mesmo saber, mas não por fofoca ou simplesmente curiosidade, queria saber se as histórias batiam. 


Lili- Então, quando eu era criança, nossa vida parecia um mar de flores. Saíamos sempre e quase me fazia esquecer que meu pai nunca esteve presente. Porém, quando fiz 10 anos, meu corpo já havia começado a mudar e eu não tinha controle. Minhas roupas ficaram muito pequenas para o meu corpo já esguio, meus seios ficavam a mostra no meu pijama e em qualquer roupa que eu colocasse. Não gostava de pedir nada para minha mãe, porque o dinheiro estava ficando curto mas me incomodava as roupas, então tomei coragem e levei um tapa no rosto por ser ingrata. 


Uma lágrima pesada correu por sua bochecha, a primeira é sempre a mais dura. 


Lili- A partir desse momento, comecei a apanhar quase todos os dias por nada. Quando não era ela batendo, era ele, que adorava me colocar de costas em seu colo. Tirava minha saia de criança que claro, já estava muito curta e geralmente rasgava minhas calcinhas, mesmo eu não tendo quase nenhuma mais. Eu ficava roxa e ia para a escola mesmo assim, ninguém se preocupava e eu não tinha amigas como tenho agora. As surras passaram a ser carinho, mas não o tipo de carinho que eu precisava e merecia receber. Minha mãe saía para trabalhar todos os dias, pois tinha arrumado um emprego novo na cidade e ficava o dia todo fora. 


Parece que o coraçãozinho da nossa pequena vai sair pela boca, sua fala já está embolando e não sabe quanto tempo vai aguentar. 


Cole- Lili, pode parar ok? Você está muito abalada e não tem a obrigação de me dizer nem o dever. Entendo se quiser ir para casa, eu lhe levo em meu carro, não precisa se preocupar. 

Lili- Cole, você não entende, eu preciso fazer isso por mim. Enfim, vou continuar porque preciso acabar e chegar até você. 


Ele assente com a cabeça e se desloca para o lado da loira que está quase desabando, talvez por isso ele esteja ali, para segura-la e protege-la do chão. 


Lili- Eram nesses horários, que aos 13 anos, ele me prendia em casa para não ir a escola e fazia o que lhe desse na telha. Me estuprou no dia dos meus 14 anos, disse para mim que uma garota grande como eu merecia um presente especial, que só um homem como ele poderia me dar. A partir daquele dia, passei 2 anos sem sentir nada. Os sentimentos haviam corrido de mim e só conseguia chorar e dormir, além de ir a escola quando ele deixava. Na véspera dos meus 16 anos, minha mãe lembrou e quis fazer uma surpresa, chegando mais cedo com um bolo que havia comprado e um refrigerante barato. Quando chegou, sem avisar, nos pegou na cama. Ele estava encima de mim, penetrando sem parar, querendo me beijar mas como não conseguia, beijava meus seios e chupava, como se isso fosse amenizar alguma coisa. Eu só sabia gritar, porque nesse dia doeu muito mais que todos os outros. 


Sua taça de vinho acabou e ele então serve mais para a mesma, que estava incrivelmente bem controlada. Dando uma golada no vinho, mais algumas de suas pesadas lágrimas escorreram por seu rosto. 


Lili- Minha mãe surtou. Ele, claro, disse a ela que eu o havia seduzido e forçado ele a transar comigo, senão inventaria alguma mentira para ela de que ele tinha me estuprado. Ela acreditou nele sem nem me ouvir. Disse para eu pegar minhas coisas e sumir da Itália, pois ela não queria nem sonhar em cruzar comigo. Então foi o que eu fiz, peguei minhas coisas, incluindo o bolo e o refrigerante barato, sabe-se lá quanto tempo eu ficaria a deriva pela estrada. Foi nesse momento, enquanto andava em busca da cidade mais próxima que conheci o Casey, meu melhor amigo que considero como irmão. Ele me acolheu, cuidou de mim como se fosse da família e nunca me forçou a contar porque estava daquele jeito quando ele me encontrou. 


Cole vê Jules na porta da cozinha querendo sair com o jantar e lhe lança um olhar de " agora não". Ela recua devagar e sem fazer barulho. Ainda bem. 


Lili- Ele me ensinou tudo que eu sei sobre hacker hoje. Eu o ajudava consertando e invadindo computadores, para ganharmos algum dinheiro. Com 19 anos, consegui juntar dinheiro suficiente para vir aos Estados Unidos e conseguir algum estudo. Ele ficou, mas sempre está falando comigo, sinto saudades. Conseguimos me colocar como uma das aprovadas em Yale, por incrível que pareça. Sempre estudei muito, o máximo que conseguia sob todas as circunstâncias. Me esforcei e fiz o curso de verão, consegui me formar para estar aqui hoje. É nesse momento que chegamos em você, Cole. 

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