A casa pouco movimentada, o cheiro de carne recém feita, o barulhinho que saía da panela enquanto o molho fervia, aquilo invadia Hikari por inteiro. Sua boca começava a salivar ao passo em que se aproximava da cozinha e o aroma oscilava. Ali estava sua mãe, Hinata e Megumi, seu irmão.
- Oi, voltou cedo - disse a mulher enquanto se virava para olhar a alta garota que acabara de entrar no ambiente.
- Maninha, vai jogar xadrez, né? - perguntou o pequeno, andou rapidamente até Hikari, segurou um de seus braços e o sacudiu. Ela balançou a cabeça, negando. - Poxa, por que não?
- Neném, eu vou até Kenan hoje. - Sentou-se ao pé da mesa, enquanto fumegava os cabelos de Megumi. - Vou ir vender uns quadros e comprar tintas novas.
Megumi franziu o rosto e lançou um olhar desapontado.
- Hora de comer - disse Hinata à medida que colocava as comidas na mesa. - Comam antes que esfrie e, Megumi, deixe sua irmã ir, amanhã vocês brincam, tá?
- Mãe! Eu não brinco mais... nós iremos jogar, jogar - repetiu. - Entendeu? E podemos brin... jogar quando ela chegar, né, Kari-nichan?
- Sim.
Hikari suspirou, seu olhar iluminando ao ver a tigela, suas mãos agarraram os hashis rapidamente enquanto sentia o vapor quente sair do lámen. A menina levemente despenteada levou mais umas porções à boca.
- Isso é tão bom... me ensine isso, quero fazer para meus filhos um dia - disse brincalhona, colocava grande parte da comida na boca. O lámen estava tão bom que ela não poderia esperar para comer.
Megumi franziu a testa, o olhar cerrado e a boca cheia de comida.
- Ela está brincando, filho, não vai ter filhos tão cedo - disse com a voz calma, passou a mão pela cabeça do primogênito e sorriu. - Sem necessidade de ciúmes.
Ao passo em que eles terminaram a refeição, Hikari saiu para lavar as louças e Megumi foi juntar as peças de xadrez que havia organizado anteriormente acreditando que haveria uma partida, Hinata, por outro lado, foi sentar-se no jardim e contemplar o lugar vazio, os flocos de neve cobriram tudo. Os pequenos floquinhos brancos caíam sobre os cabelos tingidos de vermelho da mulher, seu olhar era intenso e buscava por qualquer sinal verde de que o jardim teria chance de sobreviver, mas não havia nada, estava tudo branco e mais branco.
- Mãe, o que faz aí? - Hikari se aproximou, já estava vestida e com a mochila nas costas. - Essa roupa que veste não é própria para o vento frio, pode pegar um resfriado.
Um nó na garganta de Hinata formou-se, os ombros caídos, a cabeça parcialmente inclinada para baixo, sua respiração era pesada. Ergueu os olhos para Hikari, seu olhar era distante, a jovem menina sentiu tristeza em sua aura.
- O que disse? - Sua voz serena, enfim, foi ouvida.
- Mãe, vai colocar uma calça... Está muito frio aqui.
- Estava apenas vendo se alguma flor tinha sobrevivido, mas não ficou nenhuma. - Ela suspirou, levantou-se e passou por Hikari. - Você já está indo, né? Não se esqueça que Megumi gosta apenas de doces sem cor marcante.
Hikari sorriu.
- Qual é, mãe? - Sorriu mais. - Não vou esquecer.
- Hika, você sempre esquece.
- Oh, mãe, tem uma florzinha ali ó. - Hikari apontou, havia restado apenas uma e ela estava tão longe de onde costumava nascer as outras da mesma espécie.
- Tenha um pouco mais de paciência filha, ame quem cuida de você, dê valor nisso - disse a mulher, estava de costas e Hikari a olhava confusa, os ombros rígidos, a aura estava pesada. Nunca esteve tão intensa.
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ʏᴏᴋᴜʙᴏ, ʟᴇɢᴇɴᴅ. ⸺ Obanai Iguro +18
FanfictionQuando Hikari retorna para casa tarde da noite, ela é recebida por uma cena aterrorizante: sua mãe e seu irmão estão mortos. Antes que ela possa processar a tragédia, seu irmão ressuscita como um demônio sedento por sangue. Em um momento de desespe...