E o mundo foi libertado da ameaça dos Demônios. Muzan foi exterminado, mas levou consigo muitas vidas amigas.
Obanai voltou, muito ferido e sua marca do caçador estava sobressalente em seu rosto.
Hikari não participou das lutas finais.
Mas chorou ao ser informada da morte de Muichiro e Genya. Chorou muito, mais do que achava que poderia aguentar. Lisbeth e Shoto não tiveram um final feliz, também.
...
Após todos os cuidados e passarem por diversos tratamentos, dias e dias solitários e pensando nos cuidados e perdas, houve dias onde se acalmaram. Ainda sentiam o temor da luta final, a perda de muitos queridos ainda açoitavam suas mentes e traziam memórias que não voltariam. A dor não era opcional, era angustiante e abandonada.
Durante várias meses, Obanai e Hikari ficaram sozinhos em sua casa, desfrutando, enfim, o amor que tanto lhes custara compartir. Foram dias felizes e os aproveitaram ao máximo, conscientes de que se lembrariam daquela época enquanto vivessem.
- Case-se comigo - disse Hikari uma noite, enquanto descansava nos braços de Obanai. Sentiu-se muito ousada por ter formulado aquela proposta, não somente porque era o homem quem deveria fazê-la à sua eleita, mas também por imaginar a cara da mãe, sem falar o pai, se ela pedisse consentimento para efetuar núpcias com a rapaz.
- Eu deveria ter dito isso... antes. - Ele a apertou entre os braços.
Hikari sorriu.
- Promete que vamos ficar juntos para sempre, que nosso amor nunca acabará?
Devido a sua marca do caçador, ambos sabiam que isso não poderiam ser concretizado, mas Hikari não se importava. Nem um pouco.
- Não posso, Hikari - respondeu ele, com um gesto de tristeza que partiu o coração da mulher. - Não ficarei com você para sempre.
A ruiva fechou os olhos e suspiro.
- Não devia ter falado - murmurou ela.
Durante aqueles dias quase tinham esquecido de que sua história se aproximava do fim.
Obanai a apertou entre os braços e olhou nos olhos.
- Não posso ficar com você para sempre - disse. - Mas prometo que a amarei... sempre. Sempre.
Hikari pôs-se a chorar.
Não voltaram a falar sobre o assunto.
Uma noite, porém, Hikari acordou e não encontrou Obanai a seu lado. Levantou-se da cama de um pulo e tremeu de frio. Compreendeu que o inverno enfim chegara. Ainda tremendo, atirou uma manta sobre os ombros e correu pela casa chamando pelo rapaz.
Encontrou-o no banheiro, nu. Estava no chão, suas costas descansavam na parede e não parecia sentir o ar gélido que chegava do norte. Seus olhos amarelos e azuis olhavam para o chão, aguardando sua chegada.
- Amor... - sussurrou ela.
O rapaz inclinou a cabeça para olhá-la, e sorriu.
Era um sorriso cheio de tristeza e de felicidade ao mesmo tempo.
- Amor - respondeu ele com simplicidade. - Adeus.
- O quê?
Naquele momento, os primeiros raios da aurora surgiram pelas janelas do banheiro.
- Adeus - disse ele. - Eu te amo.
E seus olhos fecharam-se, seu corpo aliviou e sua aura estava se dissipando a cada segundo.
- Obanai... - sussurrou Hikari. - Obanai, não! - gritou, desesperada, logo compreendendo o que se passava.
Correu até ele, gritando seu nome, abraçando seu corpo frio sem deixar de repetir o nome dele e implorar que não se fosse, que não a deixasse. Mas nem suas súplicas nem suas lágrimas conseguiram deter o destino.
Com o sol brilhando intensamente no céu, Hikari se ajoelhou ao lado do túmulo de Obanai. A pedra lisa e fria era um contraste com o calor que ela sentia por ele em seu coração. Contemplou-o, com o rosto ainda úmido.
- Obrigada - disse por fim, acariciando a pedra, lembrando do que um dia fora a pele de Obanai. - Obrigada por tudo o que me deu. Obrigada por decidir ficar ao meu lado. Nunca o esquecerei. Nunca o abandonarei.
Todas as noites e pelas manhãs, porém, ela sentava-se ao pé daquela sepultura para acariciar-lhe com ternura.
E, mês após mês, o ventre de Hikari foi crescendo um pouco mais a cada lua, até que, quando chegou o momento, ela deu luz à gêmeos - uma menina e um menino. Hikari deu ao menino o nome de Muichiro e à menina o de Yuki, como sua mãe. Ambos cresceram sãos e fortes, Yuki tinha os olhos como os de seu pai, amarelo e turquesa, Muichiro puxou aos da mãe, vermelhos. Seus cabelos tinham cores distintas, Muichiro ruivo e Yuki morena.
Yuki casou-se com o primogênito de Kanroji Mitsuri, a qual, por sua vez, casara tempos atrás com o charmoso Murata.
Muichiro ficou ao lado da mãe, porém também se casou com uma moça de boa família, com quem teve filhos que herdaram os domínios Iguro.
Hikari, contudo, jamais se casou. Dizem as más-línguas que Tomioka Giyu tentou um dia cortejá-la e teve de ir embora como chegara. Mas, se assim foi, Hikari nunca contou a ninguém.
Na verdade, ambos mantiveram uma conversa longa e sincera, na qual Giyu se desculpara sem pedir a mão dela em casamento. Agora os dois estavam mais velhos e mais sábios. Podiam falar dos tempos passados sem raiva e sem dor. E continuaram sendo bons amigos.
Hikari conversava ao pé daquela sepultura todas as noites de sua vida. Contam que, até quando seus cabelos embranqueceram e a catarata cobriu-lhes os olhos, Hikari ainda visitava sua casa.
E assim a encontraram, morta, numa gélida manhã de inverno.
Fim.
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ʏᴏᴋᴜʙᴏ, ʟᴇɢᴇɴᴅ. ⸺ Obanai Iguro +18
FanfictionQuando Hikari retorna para casa tarde da noite, ela é recebida por uma cena aterrorizante: sua mãe e seu irmão estão mortos. Antes que ela possa processar a tragédia, seu irmão ressuscita como um demônio sedento por sangue. Em um momento de desespe...