|| CAPÍTULO 9 ||

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10 anos atrás...

• | Jake Trevor | •

— Vamos lá filho! Mate ele. — Repetiu meu pai parado ao meu lado, enquanto eu segurava o coelhinho branco e inocente em minhas mãos, o mesmo me arranhava e se balançava desesperado querendo se soltar.

Me desculpe...

Destravei meu canivete abrindo a lâmina, cravei de uma vez o objeto cortante no pobre animal, que morreu rapidamente. Orgulhoso, meu pai passou a mão no meu cabelo, bagunçando meus fios, que passei a manhã arrumando pra nada.

— Muito bom, garoto! — Novamente falou essa maldita frase, que repetia sempre que eu matava um bicho na caçada de pai e filho. Eu não gostava de vir, mas é mil vezes melhor do que ficar em casa. Aquela maldita casa.

Me levantei e olhei para a minha blusa nova encharcada de sangue, eu tinha acabado de ganhar de presente de aniversário. Completando dez anos, meu pai sempre fala que essa é a idade de virar homem. As vezes me pergunto; O que é, exatamente virar homem?
Não iria perder meu tempo perguntando, ainda mais para o meu pai, que é extremamente rígido e autoritário, um homem completamente bruto e sem muitos neurônios na cabeça.

— Já vamos pra casa? — Resmunguei baixo, olhando suas costas largas e grande enquanto o mesmo caminhava. Em pequenos passos rápidos, eu conseguia lhe acompanhar.

— Sim. Está quase anoitecendo, daqui a pouco irei trabalhar. — Respondeu sério como sempre. O senhor Jones Trevor não é de se expressar muito, não importa qual sentimento seja. Ele diz que sentimentos só serve pra te fazer fraco, e se for ter sentimentos, que você tenha total controle sobre eles. Antes eu não entendia, mas hoje, eu entendo.

O caminho foi silenciosos, não tínhamos o que conversar e isso me tranquiliza, porém, fico em estado de alerta só de saber que eu estava voltando para casa.
Mas não tenho muito o que fazer, minha vó morreu faz dois anos, com câncer pulmonar. Eu fui o único que tentou cuidar dela, ou pelo menos tentei, nunca tive laços afetivos com ela, apenas a respeitava, coisa que ninguém da minha família fazia. Ela sabia disso, mas pouco ligava, ela dizia que não tinha nada a perder, então morreria em paz. E assim aconteceu. Ela morreu, e sou o único a visitar o túmulo dela, que é pelas redondezas, já que minha família não se importou em pagar um caixão ou escolher um cemitério.

— Bem vindos! — Escutei a voz doce e meiga da minha mãe. Olhei pra frente e vejo ela recebendo meu pai, com beijos e abraços. Sempre tão receptiva. — Como foi a caçada hoje, meu filho? — Por conta da sua altura, ela se agachou fazendo carinho no meu cabelo, com um sorriso singelo nós lábios.

— Boa. — Não tem expressão na minha face, nunca tem. Mas ela não ligava, ela nunca ligou. É mais uma relação forçada de laços afetivos, e ela acha que eu não sei disso.

Pobre mamãezinha, tão tola.

— Que bom! Então provavelmente, está com muita fome. — Ela depositou um beijo no meu rosto e se afastou um pouco, com seus olhos verdes me observando. — Vá tomar um banho, e venha comer, ok? — Afirmei com a cabeça, e sai andando querendo ficar sozinho. Subi as escadas de madeira, escutando ela ranger sobre meus pés.

O corredor estava vazio e silencioso, indicando que todo mundo estava lá embaixo. Não dei muita bola, entrando então no meu quarto.
Ele estava limpo, não tinha mais os papéis amassados dos desenhos que eu tentei fazer e falhei miserável mente. Uma delas havia limpado tudo.

— Merda. — Caminhei até a minha cama e me joguei nela, olhando os desenhos no teto que eu havia feito, usando a escada. Não era nada demais, apenas várias manchas vermelhas sem sentido, tipo rostos felizes, mãos e... Olhos, vários olhos, olhando pra direções diferentes.

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