|| CAPÍTULO 29 ||

18 4 0
                                    

• | Lindissey Walker | •

Quando acordei pela manhã, a casa estava em pleno silêncio, eu quase podia dizer que estava vazia.
Fui ao banheiro fazer minha higiene matinal, enquanto eu tentava escutar qualquer coisa que me desse uma resposta do que aconteceu após eu cair no sono.
Ninguém veio me acordar, o que é estranho, normalmente uma das empregadas faz isso para me avisar que está na hora do café, ou a minha mãe vem me arrumar. Mas depois de ontem, eu acho que ela não quer ver na frente dela nem tão cedo.
Senti uma ponta de culpa, pois se eu não tivesse arranhado seu rosto, nem chorado, minha mãe não teria me atacado, ela só queria que eu lhe encarasse nos olhos, porém eu fui medrosa demais para fazer isso.

Estou me culpando de novo, por culpa dela!

Encarei meu reflexo no espelho, sentido a raiva crescer rapidamente, como uma chama se alastrando em uma floresta de repleta de folhas secas. Desci o olhar até os meus cabelos negros, que quase chegavam na cintura, naquele momento, odiei o que eu via. Odiava a forma como eu me parecia tanto com ela, mas não queria, não mais, eu sei que ela não é uma boa pessoa, também sei que sua maldita genética era forte demais, pois até os problemas de raiva eu havia lhe puxado.
Liguei a torneira e comecei a esfregar o meu rosto, de alguma forma torcendo para que a água tirasse isso de mim, entretanto, eu sabia que não importa o quanto eu fizesse, nada irá mudar. Ou talvez pudesse...

Parei por um segundo, sai do banheiro e abri a gaveta onde eu guardava matérias pra desenho e pinturas. Gostava bastante de passar o tempo pintando minhas telinhas, mas parei quando minha mãe disse que era feio e perda de tempo. Depois de revirar a gaveta achei o que eu queria. Voltei ao banheiro e parei na frente do espelho, já pegando uma mecha do meu cabelo. Respirei fundo e aproximei a tesoura dos fios, tomada pela coragem e raiva, fechei a tesoura devagar, fazendo os pedaços do cabelo cair pouco a pouco. Fiquei triste e comecei a chorar, mas algo dentro de mim ficava mais leve, toda vez que eu via eles caído sobre a pia, liguei a torneira e olhava o cabelo escorrer pelo ralo.

Terminando de cortar, encarei o que sobrou escorrer até sumir. Desliguei a torneira e olhei meu reflexo, meu cabelo agora está um pouco acima dos ombros.
Por que você fez isso?!
Sua voz gritava na minha cabeça, é como se ela estivesse aqui, me dando sermões e dizendo que eu cometi um erro, que eu estou com a aparência horrível.
Engoli o choro e sequei meu rosto, saindo rápido do banheiro que parecia mais frio do que de costume.
A porta do quarto se abriu. Era uma das empregadas, que parecia sentir pena ao me olhar e logo arregalou os olhos, percebendo o que eu havia feito no cabelo, isso me deixou com certa raiva, mas não deixei que ela percebesse, então abaixei a cabeça.

— S-seu pai está esperando a senhorita para tomar café. — Avisou sem saber se perguntava ou não. Eu afirmei com a cabeça e ela saiu, me deixando sozinha de novo.

Respirei fundo, sentindo meus pulmões doerem um pouco, mas sem ter o que fazer. Eu já fui escolhendo uma roupa, senti um frio na espinha só de imaginar que minha mãe estivesse lá em baixo também. Olhei as várias roupas coloridas, mas peguei uma pequena, simples, toda cinza, pra que ela perceba que eu não vou mais ser uma boneca que ela fazia o que quisesse. Eu fazia tudo que ela pedia, por quê eu pensei que ela fosse me amar mais, porém, isso nunca iria acontecer e agora eu percebo isso.
Fechei a gaveta e coloquei minha calça preta, um casaco cinza e sem graça. Nem me dei o trabalho de pentear o cabelo, apenas passei os dedos, percebendo que o comprimento curto é bem útil.

Caminhei pra fora do quarto, fechando a porta com todo cuidado, com medo da minha mãe sair do quarto e me vê aqui.
Andei rápido e só faltei pular dois degraus de cada vez, para poder chegar no andar de baixo o mais rápido que eu podia.
Pareceu sair um peso das minhas costas, quando vi apenas meu pai na mesa do café. Ele tinha os olhos vermelhos, com olheiras e parecia não ter dormido a noite. Me senti culpada de novo, pois se ele estava assim, é porquê eu corri do quarto.
Eu me sentei em silêncio, sentindo meu corpo pesado, enquanto escutava o som do meu coração batendo freneticamente. Me pergunto se é pedir demais para que as coisas fiquem bem, mas parece que eu não mereço que isso aconteça.
Como minha mãe costuma dizer; Você só colhe, o que planta.

|| Não Confie Em Mim ||Onde histórias criam vida. Descubra agora