Capítulo 23

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         Elouíse moveu-se ao homem dos olhos turquesa e colocou-se à sua frente, um pouco nervosa e receosa; nunca fizera isto — nem mesmo defronte ao espelho. Engoliu em seco pela... Vigésima vez? Perdeu-se com os números. No mesmo segundo, uma mulher a ofereceu o script e a mesma o pegou, lendo o seu texto.
         Aurora moveu-se dos corredores e surpreendeu-se ao ver Elouíse em uma posição que não lhe servia. A loura inclinou o pescoço e a olhou confusa, rindo levemente. Por fim, colocou-se ao lado do Anthony e observou a cena.

         — Está pronta pra isso? — o intérprete do Bucky a questionou, em um tom de voz onde somente ela pudesse ouvi-lo.

         A ruiva retrucou em desafio: — Você está?

         Era uma mulher segura de si independentemente de quem estivesse ao seu redor. Contudo, hoje, em uma condição onde possuía pouquíssimo entendimento, esta segurança existia somente por fora. Por dentro, a voz de sua consciência a dizia que isto tudo não teria como acabar bem.

         — Estou, faço isso há anos.

         — Não comigo.

         — Não será difícil. — ele a provocou, com um sorrisinho entre os lábios.

         — É o que eu espero, não gostaríamos de vê-lo perdendo o seu emprego. — brincou, erguendo uma dás sobrancelhas.

         A competição corria por seu corpo desde o seu nascimento. Bem, desde um pouco antes disso. Até porque, fora ela a vencedora. E hoje, ela venceria isto. Quem diria que Kevin a pediria tal coisa? Visto que sempre fora um homem muito complexo e imprevisível, nenhum deles esperou por isso. Nem mesmo a própria Elouíse.
         O homem dos olhos turquesa a olhou e esperou que a mesma desse início à cena.

         Com a postura ereta e com os seus olhos nos dele, proferiu: — Mas o Sam é o Capitão América e você é o parceiro dele...

         Aproximou-se do seu corpo e a respondeu: — Isso quer dizer que não merecemos uma vida comum?

         Elouíse leu o script brevemente tendo-o bem fresco em sua mente e voltou a olhá-lo, dizendo: — Isso quer dizer que dificilmente vocês terão uma.

         — Eu luto por isso, se for preciso. Já estive em muitas guerras e esta é uma dás poucas que valem a pena.

         — E onde eu entro nesta história?

         — Isso é você quem decide. — logo desviou os seus olhos ao fundo verde, fingindo observar a pequena vila onde Leah vivia. — Eu tenho uma sugestão.

         — Então me diga. — pediu. Os seus olhos, gestos e dizeres eram urgentes. Por um momento, Elouíse esqueceu-se de tudo e de todos ao seu redor. Àquilo era mesmo atuação?

         Sebastian a segurou por sua nuca, prendendo em seus dedos um pouco dos seus fios ruivos. Após isto, sussurrou em seu ouvido: — Nos dê uma chance.

         Elouíse estremeceu-se. A mesma fechou os olhos e soltou um longo e tortuoso fôlego. Pensou que fosse morrer. Este não era o seu emprego e a mesma não possuía nem se quer uma boba experiência de ensino médio, porém, sabia que não deveria fugir de sua personagem, mesmo sem nem conhecê-la. Kevin a convidou para dar o exemplo, então faria jus ao convite. Por este motivo, lutou com o intento de conter os seus impulsos.
         Contudo, os dizeres do Sebastian, cujo Bucky os proferiu, a açoitaram em um golpe severo. Todo o seu corpo Amoleceu-se e por um momento, Elouíse perdeu os sentidos. Perdeu os movimentos. As suas pernas ficaram bambas e a mesma esqueceu-se de respirar. Sebastian, em contrapartida, isolou a atuação há muitos segundos. Agora, não era o Bucky quem a dizia tudo àquilo. Era ele. Era o seu corpo e a sua mente a dizendo tudo o que queria dizê-la há incontáveis dias.
         Aurora sorria de orelha à orelha vendo àquilo, como uma fã número um. Não do show, não dos atores. Mas deles. De Elouíse e Sebastian juntos, proferindo doces e difinitivos dizeres um ao outro. Surtos internos a consumiam dos pés aos ouvidos. Vê-los e ouvi-los como em um filme romântico, era um colírio e uma melodia vindo dos céus a Aurora. E o mesmo ocorria com o Anthony, que o ajudou e o incentivou desde o princípio.

         — Eu já nos dei. — ela sussurrou de volta e moveu-se levemente, em busca dos seus olhos reluzentes. — Aproveite-a.

         Como resposta, Sebastian a segurou pelo rosto em um gesto gentil e repleto de afeição. Ele observou os seus lábios, sedentos pelos dele. Os seus olhos cor de mel em desejos desesperados. O seu corpo prestes a desabar em suas mãos firmes, capazes de sustentá-la como a melodia sustenta a música. Como o peito sustenta os sentimentos. Não os dele. Não os dela. Tudo transbordava; a atração, a paixão, a luxúria... Eram evidentes há quilômetros.
         De repente, Kevin uniu as mãos em palmas calorosas e os tirou do íntimo momento que por muito pouco o teriam.

         Aurora moveu o seu rosto lentamente para olhá-lo com os seus olhos verdes fumegantes. — Me segure, se não eu vôo no pescoço desse homem... — cochichou ao Anthony e o mesmo riu.

         — Olhe bem como diz... Em breve ele pode ser o seu chefe.

         Elouíse moveu-se velozmente dás garras do homem à sua frente, — um pouco desengonçada por culpa dos fraquejos do seu corpo — e ofereceu um breve sorriso ao Kevin.

         — Obrigada, Elouíse. Eu procurava por isso. — a disse com um leve sorriso e olhou Miki, que concordou gentilmente e colocou-se em sua antiga posição.

         Uma pequena tortura consumiu a mente de Elouíse. A mesma recuperou o seu fôlego e dirigiu-se à Aurora, dizendo: — Eu preciso ir... Nos vemos depois?

         — Sim... — a mesma concordou com preocupação, porém, decidiu não questioná-la.

         Elouíse observou à todos brevemente como uma espécie de agradecimento e correu levemente portão à fora. O seu peito fervia em uma mescla de sentimentos e, em meio à eles, uma mente confusa se corroía. Afinal, o que era realidade e atuação naquele momento? O seu peito continuou a descer e a subir em uma frequência veloz e, por isto, Elouíse fazia questão de ir embora depressa. A última coisa que queria era ter uma crise na frente de todos.
        Mesmo com o seu corpo querendo ficar e a sua mente querendo ir, optou pela razão e decidiu buscar um litro d'água. Ao correr rumo a sua residência, jogou a bolsa no sofá e moveu-se ao filtro do líquido incolor. O bebeu em dois goles rápidos e urgentes. Por fim, respirou fundo e permitiu que o seu corpo caísse no móvel fofo e confortável. Fitou os seus olhos em um ponto específico, com o objetivo de acalmar-se. A queria. Não era atuação e muito menos um segredo. Era óbvio, desde o primeiro momento. E Elouíse percebera. Contudo, ao tê-lo tão próximo de si a pedindo uma chance, o medo a tocou e rompeu o seu ser em um único soco.
         Fechou os olhos e mesmo tendo uma ótima noite de sono, presenteou-se com o deleite de dormir novamente. Depois do jornalismo, esta era a sua única forma de fugir de sua imprestável realidade.

The Interview; The Principle Of Our LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora