Capítulo 28

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         Correr nunca fora um costume de Elouíse, contudo, entendia que esta era uma ótima forma de repreender a si mesma. Óbvio, não era como se ela tivesse culpa de algo; nenhum deles. O “problema” era que Elouíse sempre tivera muito foco e empenho sobre tudo e isto incluía o seu emprego, e a si mesma. O homem dos olhos turquesa tornou-se um alguém de muita, muita importância à ela. E por isto, a proposta que o seu chefe a oferecera se convertera em um empecilho enorme em sua vida.
         Então ela corria, corria e corria. Um, dois, três blocos. Inúmeros movimentos, diversos quilômetros. O seu peito doía, o seu fôlego diminuía, o seu corpo tremia e a sua mente rugia. Era doloroso e necessário. Por fim, a mesma encostou-se em um poste de luz, inclinou-se e contou de um até o dez, sentindo a sua frequência veloz e urgente — os seus seios subindo e descendo. Ela permitiu que a sua cabeça pendesse para trás e desejou um litro d'água. Não era para menos, afinal, correra desde às sete, e neste momento o relógio dizia ser às nove.
         Ontem Sebastian a ligou depois do seu telefonema perdido, porém, Elouíse não dissera nada à ele. Fora tola ao pensar que deveria dizê-lo por telefone, como fizera com Aurora. O tema era sério e não deveria ser discutido por breves ligações, por isto, iria em sua residência.
         Após este breve repouso, Elouíse continuou a correr, contudo, desta vez, rumo à sua casa. A mesma tomou um longo banho que à julgar pela demora, tirou o couro de sua pele ou lavou a sua alma. Vestiu-se, perfumou-se, penteou-se e dirigiu-se à residência do Sebastian.
         Logo o mesmo a recebeu com um selinho em seus lábios doces e aflitos. Um sorriso preenchia o rosto de Sebastian sempre que a via e hoje não era diferente.

         — Como você está? — ela o questionou perto o suficiente para fazê-lo perder a pose.

         — Muito bem. — ele a respondeu com um leve sorrisinho.

         Elouíse o correspondeu, porém, lembrou-se do porquê fora ao encontro dele e o sorriso fugira do seu rosto pálido no mesmo segundo. Fora automático. A mesma deu alguns passos para trás e movimentou o rosto como se estivesse à procura de algo; ninguém poderia culpá-la, de repente estava à procura de um pouco de consolo ou de um “tudo ficará bem”.

         Ele notou os seus olhos cor de mel levemente tristes e a questionou: — E você, está bem?

         Ela suspirou e o olhou. — Ontem eu te liguei por um motivo.

         — Um motivo?

         — Não foi só para ouvir essa voz rouca. — ela brincou e o mesmo sorriu, em uma timidez repentina.

         Elouíse moveu-se ao cômodo do homem e ele a seguiu, pronto para ouvir o que ela queria dizer-lhe desde o dia anterior.

         — Eu estive em home office e por isso, tive um tempo livre. Aproveitei e decidi ver alguns sites de fofoca, em busca de algo que o meu chefe fosse querer... E eu vi um artigo sobre nós dois. — Elouíse mordeu o lábio inferior, um pouco tensa.

         Ele enrugou a testa. — De nós dois?

         — Fomos fotografados aos beijos.

          Ele a olhou, perplexo. Não surpreendeu-se exageradamente, mas também não agiu com indiferença. O mesmo levou os dedos aos seus fios negros envoltos pelo gel e sentiu uma leve culpa preencher o seu ser. Não deveria beijá-la na rua, como se não houvessem pessoas ruins no mundo. Pensou que fora inconsequente, impetuoso e irresponsável. O mesmo fechou os olhos por um segundo e neste momento, Elouíse entendeu tudo; entendeu que o seu coração o traía, do mesmo modo como o dela a traiu.

         A ruiva digiriu-se à ele e envolveu o seu belo rosto esculpido com os dedos. — Eu lamento que esteja vivendo isso por m... — o mesmo começou a dizer com firmeza e fora interrompido por ela, que o respondeu:

         — Não ouse terminar essa frase.

         Ele sentiu o seu fôlego próximo ao dela e o seu peito encontrou certa tranquilidade defronte àquilo.

         — Têm outra coisa... — murmurou ela.

         — O que?

         — Algum tempo depois, o meu chefe me ligou e me pediu pra cobrir essa notícia. — ela suspirou e afastou-se dele, levemente.

         Neste momento, fora como se um vento frio e congelante o tivesse coberto com uma dor enlouquecedora e feroz. Por um segundo, ele sentiu como se a tivesse perdido.

         — Não têm como. Digo, você é a pessoa que me beijou. — respondeu ele óbvio e com os braços cruzados.

         — Sim, não têm como. — ela colocou-se de costas para o colchão e segundos depois, permitiu que o seu corpo caísse e sentisse a moleza do móvel.

         Ele a observou e sorriu levemente, contendo certa tristeza em seus lábios. Logo depois, imitou os seus movimentos e despejou o próprio corpo em sua cama.
         Ele entendeu a situação no momento em que Elouíse o dissera; era difícil. Sebastian conhecia o amor dela por seu emprego, do mesmo modo como conhecia o amor dela por ele... O sentia todos os dias, em todos os segundos e momentos. E por algum motivo, recordou-se do dia em que a conheceu; na bela e muito bem feita entrevista. Naquele mesmo momento, Sebastian vira como Elouíse amava àquele mundo ao tratá-lo tão bem — não somente ele, como todos os seus amigos. Ele concentrou os seus olhos em um ponto fixo no teto e permitiu que a sua mente voasse para ainda mais longe.

         Elouíse tocou os dedos dele e segurou a sua mão. Logo virou-se e situou o seu corpo na direção dele. — Por que está tão quieto?

         Ele a olhou. — Eu poderia fazer a mesma pergunta a você.

         Ela esboçou uma expressão surpresa, com os lábios curvados para baixo. — A resposta na ponta dá língua... Gostei.

         — A convivência com você me trouxe alguns defeitos. — brincou ele.

         Elouíse fingiu-se ofendida e com a sua mão livre, — Defeitos? — o concedeu um leve soco em um dos ombros. Um suspiro ecoou dos lábios dela. — Acho que nós dois sabemos o porquê do silêncio...

         Logo a respondeu, convicto: — Por que no fundo, você já se decidiu.

The Interview; The Principle Of Our LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora