20. Aniversário

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Abro os olhos. O teto de casa parecia estar mais baixo do que o de costume, onde o ventilador da sala girava sem parar, cada vez mais perto de mim.
-Eu devo estar enlouquecendo.
Chego em casa ao anoitecer. O local estava silencioso, o que me faz acreditar que não tinha ninguém ou que minha avó já estava domirmindo.
Me encosto na parede e tento raciocinar tudo que havia presenciado nas últimas horas.
Meu pai, o herói da minha história, o pianista que eu sempre quis me parecer; era um bom homem, mas responsável de causar um grande acidente. Um acidente que machucou uma criança e causou a morte dele mesmo e de uma mulher. A mulher que era a mãe de Jun-ho.
Minha mãe, a sombra do meu passado que sempre desprezei, estava doente. E permaneceu conosco, até saber da morte do seu marido e da sua melhor amiga, no acidente de carro.
Minha avó, uma senhora que carregou o fardo em silêncio por todos esses anos, para que eu tivesse esperança em algo.
A mesma que financiou os estudos e ajudou Jun-ho e o seu irmão, até que eles crescessem. Talvez por amá-los e pela consideração que tinha com a Jun Ji-hyun, ou talvez pela culpa.
Choi, um garoto que mentiu para mim, quando não me contou sobre a morte da minha mãe, mas se esforçou para me levar até a verdade, para que eu visse com os meus próprios olhos. O mesmo que me pede em casamento minutos depois e avisa que vai para Tokio, viver o seu sonho da arte.
Sentia meu estômago enjoar. Era coisa demais para mim. Era coisa demais para um único dia.
Ouço passos, quando olho para cima e vejo Jun-ho se aproximando.
Ele me olhar diferente e então percebo que estou chorando.
Não era a cena que queria passar, mas era o momento que estava vivendo.
Ele chega mais perto, sem dizer nada e me envolve em seus braços e eu desabo.
Não me lembro em toda a minha vida de ter chorando tanto como nesse momento. Ele acaricia os meus cabelos e fica ali, presente e intacto, por vários minutos até que eu me acalmasse.
Me recomponho ao poucos e seco o meu rosto na manga da blusa.
-Me desculpe. -Digo fungando o nariz
-Está melhor? -Pergunta
-Estou.
-Tudo bem. Vou ficar aqui pelo tempo que precisar.
Balanço a cabeça em sinal de afirmação.
-Tenta dormir um pouco. Você passou a noite em claro. -Ele diz
Deito no sofá e cubro os meus olhos com o braço, caso começasse uma outra onda de choro.
Jun-ho pega o cobertor que estava sobre o sofá e me cobre. Alguns momentos depois fico sonolenta e durmo.

Acordo com um fio de luz sobre os meus olhos, vindo diretamente da janela do quarto. Pego o copo de água que estava em cima da cômoda ao meu lado, pois minha garganta estava seca de tanto chorar na noite anterior.
Ao redobrar a consciência por completo, percebo que não estou mais na sala, onde dormi, mas sim no meu quarto.
-Eu vim pro quarto? -Me pergunto confusa
Meu celular começa a tocar. 
"Hoje é o seu aniversário! Parabéns!!" Dizia o lembrete do calendário na tela.
-Será que hoje vai ser um daqueles dias em que se recebe café na cama? -Rio comigo mesma e esfrego a palma da mão nos olhos
Saio da cama à caminho do banheiro. Tomo um demorado banho, arrumo o cabelo, troco de roupa, escovo os dentes e pego o meu cachecol quadriculado por conta da brisa gelada da manhã.
O cachecol quadriculado.
Choi. A resposta.
-Ainda não dei a resposta a ele. -Lembro
Coloco o celular no bolso e desço para tomar o café da manhã.
Ao entrar na sala, Hedley e Ayla estavam sentadas à mesa. Elas sorriem calorosamente e vem em minha direção.
Imagino sua raiva e repressões, porém o que recebo é diferente. Hedley me abraça, vindo Ayla logo depois, gritando "feliz aniversário", enquanto tirava todo o meu ar.
-Isso é um abraço ou estão tentando me matar? -Pergunto sufocada
Elas se afastam e riem.
-Trouxemos um bolo! -Alega Ayla, alegre como de costume -Cake, cake.
-Ayla fez a massa e eu a arte dele! -Avisa Hedley, serena como sempre
-Obrigada! Mas acho que eu deveria pedir desculpas a vocês por estar tão distante esses dias. -Começo a falar
-Não estamos aqui por que queremos desculpas e sim, porque somos suas amigas. Independente das suas escolhas! -Ayla abre uma caixa com cupcake
-Também não somos perfeitas, Steph! -Hedley abre um saco de bolas -Me ajuda a encher!
-Claro! -Sorrio
Bolo, doces, bolas, chapéu de aniversariante. Elas pensaram em tudo, enquanto eu não conseguia pensar em nada. Elas são tão especiais para mim e descobri que também sou para elas. É algo na minha lista de preocupações que eu poderia riscar.
Após arrumar toda a decoração, Jun-ho entra e coloca o violino sobre a mesa.
Ao me ver, esboça um sorriso por saber que eu estava melhor.
-Devo toca uma melodia para a aniversariante? -Pergunta levantando uma de suas sobrancelhas
-Eu ficaria muito feliz! -Alego
Uma vela é acesa. Enquanto Ayla fecha as cortinas para que a sala ficasse escura.
A canção do parabéns começa, junto com as palmas. Assopro o fogo, mas não faço pedido algum.
Minha avó se junta a nós, enquanto ouvíamos uma bela melodia de violino.
Rimos e brincamos até o entardecer, me permitindo lembrar de quando éramos crianças.
-Vocês se lembram de quando a Stephanie tentou ensinar o gato dela a tocar piano? -Ayla começa
-Isso é verdade? -Jun-ho ri
-Eu tentei dizer a ela que não daria certo, mas ela estava tão empenhada. -Minha avó confessa
-Ela colocava ele em cima das teclas. O coitado ficou traumatizado com aquele som horrível. -Hedley balançava a cabeça em decepção a minha antiga eu
-Na época eu achava que os animais também podiam ser músicos. -Coço a cabeça envergonhada
Eles riem.

Após a comida acabar, as meninas se juntam para limpar a sala e Jun-ho leva os copos e os pratos para a cozinha.
-Querida, pode pegar a pá e a vassoura na cozinha? -Minha avó pede
-Claro.
Vou em direção ao armário de limpeza e pego a pá, quando vejo Jun-ho lavando a louça. Aproveito para perguntar sobre ontem.
-Jun-ho.
-Hum.
-Eu dormi na sala. -Digo -Mas acordei no quarto.
-Eu te levei. -Ele diz simplismente
-Me levou? -Fico surpresa
-Sim. Você podia ficar com dor, dormindo no sofá. Perguntei a Eliza se era melhor te levar para a sua cama e ela concordou.
-Ah..., entendi. Tudo bem.
-Vai me ajudar a lavar a louça ou vai ficar brincando com a pá? -Ele caçoa
-Não estou brincando, estou trabalhando. - Advirto
-Em que exatamente? -Ele se vira e me encara. Seus olhos têm um brilho diferente quando está descontraído.
-Não me olhe assim e continue o que está fazendo. - Molho a mão na água e jogo em seu rosto
-Ei. -Ele reclama e também joga água no meu rosto
-Eu já tomei banho hoje. -Brinco, repetindo o ato - E obrigada.
-Por? -Ele seca o rosto com o avental na frente da roupa
-Por cumprir com a sua promessa e estar aqui quando eu voltei.
-Promessas servem para serem cumpridas. -Alega
-Mesmo que você não ganhe nada com isso?
-Você sempre sai ganhando quando é fiel a alguém. Mesmo que essa pessoa ache que você não à entende. -Ele volta a lavar a louça e entendi que isso era referente a mim
-Eu achava que não, mas percebi que você me compreende muito bem e sempre diz coisas que eu não quero, mas preciso ouvir. -Pego a vassoura no armário - Vou ajudar minha avó agora.
Ele concorda e retorno a sala.

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