17. Voz distinta

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Choi:

Um relatório médico foi jogado sobre a mesa, na minha frente. Meu pai me olhava duvidoso, referente ao meu interesse por sua antiga paciente, que já havia falecido. Descarto o seu olhar e folheio as páginas no fino caderno. Havia uma foto 3x4 na primeira página, com o rosto de uma mulher que sorria, mas não parecia feliz. Cabelos longos e finos, olhos escuros e pele clara. Olhar para ela, era como olhar para a Stephanie, só que mais velha. Seu nome era Lee Jang-me. Nascida em dezembro de 1977. Diagnosticada ainda jovem com DRC - Doença Reumática Cardíaca. Dando 5 entradas no hospital por mês, com febre, dor no corpo, inchaço e inflamação cardíaca. Falecendo em maio do ano passado.
-Você a conhece, Yong Nam? -Ele pergunta
Meu pai estava sem falar comigo desde o dia em que lhe contei sobre a faculdade e a farsa da medicina. Minha mãe era de humanas, então para ela era bem mais fácil entender o meu lado e incentivar o eu criativo, mas meu pai não. Um médico cirurgião brilhante que teve sua expectativa no filho mais velho, que se tornou engenheiro e depois lançou todas as suas expectativas no mais novo e eu afundei o seu sonho.
Mais difícil do que dizer o meu sonho para ele, foi dizer que menti por meses.
-Não é bem isso. -Mordo o lábio
-Vai mentir de novo para mim?
-Não. Dessa vez não. - Olho para ele seriamente - Essa é a mãe de uma amiga e ela ainda não sabe desse relatório.
-Ela não sabe que a mãe faleceu? -Ele se surpreende e passa as mãos na barba
-Me pergunto como ela irá reagir a isso.
Levanto do sofá e devolvo o relatório em suas mãos. Olho para o relógio na parede que marcava 5:30 da manhã. Já estava amanhecendo e em breve partiria para Daegu.
-Preciso sair! Volto antes do jantar! -Digo colocando um casaco azul escuro e minhas luvas pretas.
-Vai contar a ela? Porque vai assumir essa responsabilidade? -Meu pai cruza os braços desconfiado
-Eu também não sei.
-É a garota do piano?
Eu não respondo.
-A única que garota que você trouxe para nos conhecer. Imagino que se importe com ela.
-Mais do que pode imaginar. -Confesso - Eu prometi encontrá-la. Preciso ir.

Retiro as chaves do bolso e vou até a porta trancada.
-A propósito. - Diz ele chamando a minha atenção - O quadro ficou muito bom! - Apontou para a pintura na parede. A mesma pintura que fiz no dia da apresentação da faculdade - Dia da visão - Onde precisávamos criar obras criativas com algum significado para nós. Me lembro de estar desesperado, pois não conseguia me inspirar.
Encontrar uma garota na sala de música foi a minha solução. Eu nunca ia lá, porém, o doce som do piano me atraiu. Ainda consigo me lembrar do seu casaco vermelho e cachecol quadriculado. A oportunidade perfeita de concluir o meu trabalho estava bem a minha frente, tendo a garota pianista como modelo. Achei que seria difícil, pois ela logo perceberia a minha presença, mas estava concentrada demais nas suas notas. E assim ficou, por horas e horas, dando tempo suficiente para que eu completasse o quadro. Quando o grande relógio da universidade tocou, recolhi os potes de tinta rapidamente, fazendo um dos meus lápis cair no chão. Percebi que a menina havia escutado o barulho, então sai antes que ela me visse. Seria mais constrangedor explicar a situação a ela do que fugir.
-Obrigado! -Agradeço. Era o primeiro elogio que ele fazia
Saio de casa e pego o primeiro taxi que vejo em direção a estação de Busan. Era mais rápido ir até Busan até Daegu, do que de Seul para Daegu. Algum tempo depois, ao chegar na plataforma do trem, ligo para Stephanie. Um celular começa a tocar ao fundo e uma garota encostada na pilastra atende. Ela se vira e sorri ao me ver. Meus olhos se espantam ao ver suas roupas.
-A garota do casaco vermelho e cachecol quadriculado. -Sussurro para mim mesmo
-Ei, Choi! -Ela acena vindo na minha direção
-É a Stephanie? -Continuo hipnotizado
Ela se aproxima rapidamente.
-O trem já está próximo!
-Acredita em destino senhorita Stephanie? -Pergunto sem acreditar na tamanha coincidência. Ainda pasmo por descobri que a pintura na parede da minha casa é dela.
-O que? -Ela ri sem entender e digita uma mensagem no celular -Eu não sei! Você acredita?
-De repente passei a acreditar!
O trem para a nossa frente.
Entramos juntos no vagão pouco movimentado e sentamos próximo as janelas. Começamos a nos mover para a próxima estação, enquanto as paisagens ao lado de fora se moldavam, conforme o sol crescia e ganhava força. Imaginando uma futura pintura de um dia ensolarado, abro a câmera do celular e capturo as melhores fotos do céu. Até que uma mensagem aparece.
(Desconhecido)- Olá, Choi Yong Nam. Somos do Estúdio de animação de Tokyo. Vimos todos os seus desenhos e achamos eles simplismente incríveis. Percebemos o seu potencial e gostaríamos muito de tê-lo em nosso estúdio. O que acha de vir trabalhar conosco?

Sinos do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora