13. Passado ou não?

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Um sol radiante.
Nem havia percebido o calor que fazia em plena tarde. Sentada sobre uma pedra, olhei para o céu e me perguntei como era possível estar tão confusa, como agora. Estava a espera de Jun-ho, que me pediu para aguardar ao lado de fora da casa.
- O céu está estranhamente calmo! - Disse para mim mesma enquanto o calor ensopava a minha blusa
Já havia se passado um tempo desde as minhas últimas lembranças, reativadas pelos sinos. Os mesmos que agora balançam na janela de um lado para o outro, formando belas melodias, mas nada vinha - ainda estavam penduradas- me pergunto se a Eliza sabe o que ela causou em mim, trazendo esses sinos. E se não for o caso, deveria contar a ela?
Contar que me lembro de alguém que me abandonou, através de sinos e que iria para a China escondida, sem a certeza de nada? Balanço a cabeça de um lado para o outro na tentativa de eliminar essa possibilidade. Com certeza, ela ficaria frustrada e magoada com isso. Talvez eu devesse apenas fingir que nada aconteceu e esquecer tudo o que Choi falou - se é que eu poderia esquecer.
Jun-ho chega, me desvencilhando dos meus pensamentos, com o barulho da buzina de uma bicicleta de dois lugares. Ele bateu de leve no banco traseiro, indicando que eu subisse. Ele também subiu, colocando rapidamente os pés no pedal, faço o mesmo, fazendo as rodas girarem. Estamos em movimento, porém em silêncio. O vento sopra rápido de mais nos meus ouvidos, me impulsionando a olhar para cima. As nuvens se mexiam rapidamente, criando novas formas e buscando novos atalhos pelo céu. 
Estávamos próximos do por do sol, carregando uma vista admirável.
- Onde conseguiu essa bicicleta? - Pergunto quebrando o silêncio
- Na minha casa. Era da minha mãe.
Outro silêncio nos atravessa. Começamos a descer a rua e a velocidade da bicicleta aumenta, me fazendo envolver os braços em torno da barriga de Jun-Ho para não cair.
-Desculpe. -Sussuro meio sem jeito
Ele dá de ombros e não responde.
-Jun-Ho. -Digo
-Hum?
- Posso te fazer uma pergunta? Sobre o que você faria em uma situação.. hipotética.
-Pode fazer.
-O que você faria se alguém próximo lhe abandonasse? Iria atrás ou ...
- Deixaria o passado no passado! - Responde ele me interrompendo - Tenho tudo que preciso aqui! Não há necessidade de mexer no que já acabou!
"Mexer no que já acabou". Essas palavras vieram como uma facada!
-Bem.., mas eu ainda não falei quem era a pessoa e o que aconteceu. -Tento explicar
-Independente de quem era e do que fez, se você tem a opção de seguir em frente, porque não seguir? E se esse passado não vai te influenciar ou te prejudicar no futuro, porque se apegar?

Talvez fosse por isso que Eliza gostava e confiava na companhia Jun-Ho. Tínhamos a mesma idade, mas pensamentos diferentes. Ele é alguém que não tira conclusões precipitadas, mas também, é alguém que não se apega ao passado.
Alguém que confia mais em si, do que eu poderia confiar em mim.
Mas, talvez ele realmente estivese certo. Eu posso estar agindo como uma boba, fascinada pela ideia de ter uma mãe amorosa que irá se alegrar ao me ver.
-Eu não te respondi da forma que você queria? -Ele pergunta ao meu ver calada
-Sua resposta foi ótima. Acho que era eu que não estava preparada para ela.
O sol começou a se pôr, trazendo tons alaranjados e azuis-escuros. A bicicleta dá meia volta, voltando pelo mesmo caminho que viemos. Dessa vez mais escuro.

Sinos do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora