6. Tempo ao seu lado

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- Você quer ir ver as estrelas comigo? - Perguntou Choi

Quatro meses se passaram desde o dia em que conheci Choi e por algum motivo, construímos uma extensa amizade.
Estávamos no início do verão e a estação trouxe junto a sí dias quentes e agitados para o meu coração.
Me perguntei por dias se deveria contar a ele sobre os sinos e sobre as lembranças; e mais ainda, como ele iria reagir a isso.
- Acreditaria se eu lhe dissesse que consigo lembrar de certas coisas através do som de sinos? -Arisco
- Claro! Por algum motivo os sinos foram importante para você no passado, e por isso, acabou sendo o instrumento principal para desencadear memórias antigas! - Responde com naturalidade. Como se fosse algo óbvio para ele.
-Não tinha pensado dessa forma. -Alego, surpresa
Talvez Hedley e Ayla estivessem certas ao chamá -lo de "garoto enviado pelo vento", pois nos conhecemos no momento em que a ventania começou, bagunçando os nossos papéis.
- Você ainda não me respondeu! - Observa
- Sobre ir ver as estrelas contigo? - Olho para o seu rosto - Quero sim!

Ele sorri.

Nos momentos em que me encontrava sozinha, lia um livro de poesias que peguei emprestado na livraria da mãe de Choi.
O corvo que voava só.
- "Dizem que a desfortuna ama companhia, Mas na verdade, felicidade e infelicidade são dois lados da mesma moeda. Quando alguém se encontra no fundo de um poço, o único lugar que se pode ir é para cima.
Um túnel escuro. Uma caminhada solitária. No momento em que te conheci, não sabia que decidir viver o seu sonho te tornaria tão distante. Existe lados em nós que muitas vezes não queremos mostrar, construindo vastos abrigos em nossos corações, deixando as memórias presas lá. Não revelando o quão solitário estamos."
- Isso é tão triste! -Diz Ayla quando termino de ler
- Alguns seres humanos não foram feitos para ficar sozinhos. - Hedley senta ao meu lado
- Sentir-se solitário não é o mesmo que estar sozinho. -Digo
- É verdade! A solidão é uma sensação de desconexão. De que você não é compreendido por ninguém ao seu redor e que você não possui as relações significativas de que você gostaria. - Hedley completa
-Não ser entendida por ninguém.., Acho que conheço alguém assim.

Choi ainda mentia para os seus pais na intenção de agradá-los. Quantos de nós muitas vezes não vivemos assim?
Ele estava preso em uma roda de mentiras, no qual o seu irmão era cúmplice e cada novo dia era necessário inventar novas desculpas.

- As vezes, apenas queremos estar a sós consigo mesmo, e isso é normal! O perigo é quando isso se torna algo crônico em nossas vidas. -Hedley comenta novamente
-Ou quando vivemos de uma mentira. -Penso alto
-Ou quando simplesmente não conseguirmos confiar em alguém. -Ayla termina

Isso me fez refletir sobre mim mesma, que durante quatro meses, não falei com a minha vó sobre o achado no sótão. Também não poderia admitir que estava interessada na busca da minha mãe. Eliza cuidou de mim a vida toda, não poderia simplismente revelar e desprezar o que ela fez por mim.

Dia 26 de julho

Os dias se passam, mas aquela caixa permanece embaixo da minha cama. As lembranças tem vindo até mim com mais constância, me permitindo recordar de lugares distantes, como uma casa tradicional antiga. Havia um pequeno lago a frente, rodeado por árvores e pedras escuras. Me pergunto se foi algum lugar de importância na minha infância.

28 de julho

Ao dormir, consigo não apenas ouvir, mas agora, enxergar o rosto dela. É a primeira vez que a vejo, além da foto de aniversário. Todos os dias, todas as noites parecem sonhos intermináveis.
Estava torcendo para que aquele sono escuro acabasse e eu voltasse a ver o sol brilhar pela manhã.

30 de julho

Pedi ajuda a Choi pela primeira vez para tentar encontrar o lugar das minhas lembranças. Deveria me envergonhar por falar com ele e não com as minhas duas melhores amigas, mas isso têm realmente me incomodado. A minha mente diz que elas não entenderiam a minha busca, mas sei que estou errada.
Depois de uma longa procura pela internet, com as descrições da casa que eu dei, um lugar foi encontrado pelo "garoto enviado pelo vento". Uma pequena casa no sul da China.

1 de agosto

- Ansiosa ? - Pergunta Choi se referindo a chuva de estrelas que aconteceria em poucos minutos
- Não tanto quanto você! - Ri olhando para o relógio
Estávamos a 19 metros do chão, sentados sobre a grama fofa de uma pequena montanha que havia na cidade.
Era a primeira vez que saía com ele. Tenho medo de ter vindo pelo simples motivo dele ter me ajudado. Um dos meus piores medos é o fato de não me conhecer tão bem e não saber até aonde eu estaria disposta a conhecer o meu passado.
Muitas pessoas se encontravam ao nosso redor, ansiosos pela famosa "estrela cadente".
- Irá fazer um pedido?
- Não acredito nessas coisas! - Alego
- Não custa nada! Quando a chuva de estrelas começar, pense em algo que você deseja muito.

Talvez, descobrir sobre os meus pais...

- Tudo bem!

Por cerca das dez horas da noite, a primeira chuva de meteoros do ano começa. O esperado fenômeno de corpos celestes que, ao entrarem na atmosfera da Terra, entram em combustão parcial. Deixando um perfeito céu com riscos luminosos.
- Obrigada!
- Pelo que? - Pergunta, ainda olhando para o céu
- Por me convidar. É a primeira vez que venho aqui!
- Por nada! - Sorri, finalmente olhando para mim

Quero ser sincera com você o máximo que eu puder. Mesmo quando eu não tiver mais ambições.

Sinos do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora