21. Uma nova jornada

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Começo a manhã seguinte correndo pela movimentada rua de Seul. Estávamos em uma terça ensolarada -dia de clube do livro - e me lembrava muito bem de quando Choi me avisou sobre as reuniões na livraria de sua mãe às terças. Apesar de não ter voltado à meses, sabia perfeitamente a direção.

Vire a esquerda.
Esquerda de novo.

Choi havia me enviado uma mensagem informando que iria viajar hoje a noite e eu não podeia deixar ele ir sem dar uma resposta ou até mesmo, me esconder dele. Paro de correr ao avistar a livraria no final da rua. Prendo meu cabelo em um coque, limpo o suor da testa e regularizo a respiração.
As luzes estavam acesas -significava que tinha alguém lá - com uma música clássica que soava baixa e calma. Abro a porta da livraria, onde esbarro com o irmão de Choi.
-Me desculpe! -Digo -Você é o Choi Si-Won, correto?
-Sim! Você é a amiga do meu irmão, não é?
-Sim. Ele está aqui?
-Segundo andar. -Responde apontando para cima -A escada é ali atrás.
Agradeço com uma curta reverência e vou até o pé da escada vermelha.
-Vai ficar tudo bem. -Sussurro para mim mesma e começo a subir
-Stephanie? - Choi me vê chegar, enquanto ele arrumava alguns livros nas estantes
-Tudo bem? -Pergunto tentando manter a calma 
-Eu que pergunto. Depois de tudo que aconteceu em Daegu e... a pergunta que eu fiz. Você deve ter ficado confusa. Me desculpe por tudo isso. -Ele se põe à minha frente -Não foi a intenção lhe colocar sobre pressão.
-Choi. Eu não posso aceitar. -Digo de uma vez, mas com cautela
Ele para e fica em silêncio.
-Eu pensei muito e não podia te deixar sem uma resposta.  -Começo a falar - Eu sou eternamente grata por tudo que você vez por mim. Por me encontrar naquele dia de chuva, por acreditar em mim quando falei das lembranças, por ir à China e procurar minha antiga casa. Sou tão grata por buscar sobre a minha mãe e achar a casa dela em Daegu. Eu gostaria de tê-la encontrado antes, mas o que consegui, foi graças a você.
Não quero ser egoísta e pensar só em mim, mas também quero viver o meu sonho, Choi. Eu não vou mais perseguir uma sombra do meu pai, mas vou me tornar uma pianista e me formar na faculdade que tanto me esforcei para entrar. Eu gostaria que entendesse, mesmo que seja difícil entender.
-Você não é egoísta, Stephanie. A garota que me fez sair de uma mentira e me fez perseguir um sonho que ainda estava em oculto é atenciosa e pensa nos outros, mais do que pensa nela mesma.
-Obrigada. -Mostro um sorriso amarelo
-Yong, não se esqueça das malas em casa. - O irmão de Choi grita no andar de baixo
-Tudo bem! -Ele responde
-É um adeus? -Disfarço a tristeza na voz
-Virei te visitar assim que puder. -Ele se aproxima e me abraça
Era difícil acreditar que não iria mais vê-lo, depois de tantos dias juntos pela busca do meu passado. Acredito que passei mais tempo com Choi, do que com qualquer um.
-Boa sorte! -Digo sinceramente
-Espero te ver nos grandes concertos. -Ele sorri e se afasta 

Para vivermos daquilo que amamos, as vezes é necessário nos separar, mesmo que isso possa doer. Sempre serei grata ao garoto enviado pelo vento e vou torcer para chegue à um lugar tão alto quanto eu.
Após me despedir dele e do seu irmão, volto à cidade de Busan.

Algumas semanas se passam, onde eu já me encontrava ocupada com um novo trabalho da faculdade e ao mesmo tempo, estava ajudando o Jun-ho a estudar para a prova do concurso de violinistas da Suíça. Quando ele me contou que era o seu sonho entrar para a orquestra da Europa, preciso admitir que não foi uma das melhores notícias que ouvi. Jun-ho se tornou um grande amigo, tanto de música, quanto de conselhos. Ele me ajudava quando precisava e eu o ajudava, quando ele precisava. Agora não era mais uma simples obrigação de ficar com Eliza, enquanto eu trabalhava. Independente do dia ou da semana, se eu estava de folga ou trabalhando, Jun-ho estava lá. Tocávamos juntos e estudávamos juntos.
-Onde está o campo harmônico dessa música? -Pergunto ao observar a partitura da música que ele compôs
-Está aí. Só você achar. -Ele aponta com a cabeça
-Nem Mozart teria capacidade de encontrar isso. -Zombo dele
-Você está aqui para me ajudar ou criticar minha música? -Ele ri
-Os dois. -Rio também
-Vocês dois não descansam não? -Eliza entra na sala com duas xícaras de chocolate na mão e observa a bagunça de papéis jogados pelos chão -Senhor Jesus.
-Vamos arrumar tudo. -Jun-ho alega, antes que ela comece a reclamar
-Eu não estou achando a minha música. -Digo revirando os papéis a minha volta
-No meio dessa bagunça é realmente difícil. - Eliza reprova e nos entrega o chocolate quente -Sua prova é amanhã, não é?
-É sim! -Jun-ho afirma
-E aonde será?
-Na universidade. -Digo
A Universidade Nacional de Seul -também conhecida como minha faculdade - estava concedendo o lugar para o Concurso Internacional de Musicista Europeu e Jun-ho participaria da prova prática amanhã, onde eu estarei presente para vê-lo.
-Está nervoso? -Pergunto, enquanto arrumava a sala
-Um pouco. Mas você estará lá, então vou me sair bem.
-E porque?
-Não vou desistir, se você estiver lá. Mesmo que eu fique nervoso, vou tocar até a última nota. -Ele diz e me ajuda a guardar o resto dos papéis
-Quando você for aprovado.. -Começo
-Se eu for. -Ele me interrompe
-Quando você for aprovado. -Reforço -Você vai embora, assim como o Choi foi.
-Irei te visitar. -Cochicha
-Não é tão fácil vir da Suíça até a Coreia. Você terá muito trabalho pela frente e muitos concertos para tocar. Talvez, faça até mesmo uma turnê. -Alego já imaginando a sua aprovação.
Jun-ho era incrivelmente bom no violino, um dos melhores que já ouvi e que tive o prazer de fazer um dueto. Não seria novidade nenhuma se ele fosse aprovado.
-Não importa a distância. -Ele para o que está fazendo e segura o meu pulso levemente - Te conheci na infância e éramos amigos, até que fomos separado pela morte dos nossos pais. Nos encontramos depois de exatos quinze anos e hoje você é a minha maior inspiração na música e na vida que quero seguir. Não importa o país ou a quantidade de mares que há entre a Europa e a Ásia. Eu prometo que vou vir te visitar, demore dois ou três meses.
Fico surpresa com a sua fala e sinto meu coração sair do ritmo normal e acelerar, mas acento com a cabeça.
-Tudo bem. Irei te esperar no mesmo lugar.

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