Jun-ho:
Há alguns dias atrás, Eliza me contou sobre a sua desconfiança em Stephanie, que poderia estar procurando por sua mãe. A mulher que a abandonou aos quatro anos de idade, agora, despertara o interesse nela - Sinceramente eu não entendia o porquê da fascinação pelo passado - digo isso porque entendo muito bem sobre as marcas e cicatrizes deixadas pelo tempo e prefiro evitá-las, se possível.
-Steph tem agido estranhamente nesses últimos meses, mas só obtive certeza quando Ayla me procurou e contou sobre uma viagem. -Explica
Eliza era a avó de Stephanie. Uma senhora de setenta anos, carismática e discreta. Suas olheiras denunciavam o cansaço e sua fragilidade pelo excesso de remédios tomados. Raramente se preocupava com algo e nunca pede ajuda. Porém, a procura da neta pela mãe, tem lhe afligido e muito.
-Um amigo está a ajudando! -Continua, olhando para a janela atrás de mim -Você poderia falar com ele, Jun-ho? Por favor! Isso precisa parar, antes que ela se machuque.
-Eu entendo que a senhora não concorde com isso, eu também não sou fã da ideia, mas não é o fim do mundo, é? -Pergunto
Eliza abaixa a cabeça e suspira alto, como se um fardo estivesse em suas costas.
-A mãe dela morreu ano passado, no hospital. -Diz
Eu arregalo os olhos com a informação. Steph está esperançosa atrás de alguém que já morreu? O quão terrível isso pode ser? E como ela reagiria a isso?
-A Lee Jang-me nos abandonou quando descobriu uma doença no coração. O médico disse que ela poderia morrer em menos de cinco meses. Então, ela preferiu partir e levar a Stephanie, que ainda era pequena, mas acabou a deixando na estação metrô. -Eliza se senta no sofá e faz sinal para que eu abra as janelas. O vento invade a sala, balançando os sinos que estavam presos -Ela acabou vivendo mais do que esperava. A uns quatro anos atrás, recebi uma ligação dela. Falando sobre a sua casa em Daegu, que tinha duas filhas de oito anos e que se arrependia por nos deixar. Ainda mais, depois da morte do meu filho."Como ela pode fazer isso" era a pergunta que eu gostaria de fazer, mas não garanto que faria diferente, caso alguma situação chegasse a esse nível na minha vida.
-Na verdade, eu não queria ouvir o que ela tinha a dizer, mas senti a amargura em sua voz e acabei sentindo tristeza por ela.
-Ela morreu da tal doença do coração? -Pergunto
-Sim! O hospital me ligou ano passado, pois o meu telefone estava como número de emergência no registro.
-Agora eu entendo o porquê a senhora estava tão preocupada. Sabe o nome dele? Do amigo?
-Ayla me falou que era Choi.
-Vou falar com ele. -Digo por fim
Talvez a alguns meses atrás, eu faria tal favor, por me sentir em dívida com Eliza. Ela me ajudou muito, e não só a mim, mas ao meu irmão mais velho, quando perdemos a nossa mãe. Porém, sinto que agora não há mais um sentimento de dívida, mas de preocupação. Uma pequena faísca fez a antiga amizade ressurgir, entre eu e Stephanie. Quero assegurar que ela não vá chorar no final disso tudo.
Aguardo pacientemente até as sete horas da noite. Meus olhares intercalam entre o relógio na parede e a porta de madeira branca. Ao silêncio profundo, me levanto em um impulso e seguro o meu violino, me preparando para uma nova melodia.
-Algum pedido? - Pergunto em voz alta para Eliza, que estava na cozinha fazendo chá
-Spring de Vivaldi. -Responde alto também
-Boa escolha! -Alego posicionando o arco nas cordas certas
Toco o violino todos os dias em que ficamos sozinhos. Quem poderia imaginar que uma senhora de setenta anos conheceria tantos concertos clássicos? Ficava surpreso a cada pedido dela. Sempre me esqueço de seu filho, que era pianista e escrevia canções.Ela sempre o descreveu com um fascínio pelo instrumento e amor pela filha. Um verdadeiro "herói", como ela diz. Acredito que ver a sua neta, seguindo os mesmos passo da música, a faça feliz. Mantendo a memória viva de Lee Do-yun.
Enquanto ainda tocava, passos começam a se aproximar.Paro de tocar, colocando o violino sobre a mesa e me aproximo da porta, mas ela se abre rapidamente.
Stephanie estava se despedindo de um garoto, que logo depois, olhou para mim.
Fazemos a mesma pergunta silenciosa:Quem é você?
-Jun-ho! Me desculpe a demora. Minha avó está bem? -Ela pergunta, aparentemente sem noção do tempo
Afirmo balançando a cabeça.
-Choi, esse é o Jun-ho! Jun-ho, esse é o Choi Yong Nam. -Apresenta
-Muito prazer! -Diz Yong Nam, esboçando um sorriso amigável
-O mesmo! -Digo não tão feliz
-Nos vemos amanhã. - Steph se vira e entra em casa
Eu ainda estava na porta, então pensei que essa seria a melhor oportunidade de falar com ele.
-Tem um minuto? -Fecho a porta atrás de mim
-Claro.
Começamos a caminhar pela rua vazia. Ele tentar parecer uma pessoa séria ou talvez seja quando está com estranhos.
-Eu sei que a Stephanie pediu a sua ajuda para encontrar a mãe dela. -Digo sendo o mais breve possível
Ele me olha surpreso, como se aquilo fosse um segredo, e logo depois faz uma expressão pensativa.
-Não. Ela não me contou. -Alego
Novamente, ele é pego desprevenido. Era muito fácil prever o que estava pensando. Era muito fácil lê-lo. Talvez seja por isso, que a Stephanie tenha pedido a sua ajuda. Ele não conseguiria mentir, sem ela saber.
-Poderia.. - Começo procurando as palavras certas -Desistir disso?
-O que? -Ele fala finalmente -Porque eu faria isso?
-Vai acabar magoando ela! -Paro de andar -Se você não sabe, a mãe dela..
-Morreu! Eu sei! -Diz me interrompendo.
Agora foi a minha vez de ficar surpreso. Não imaginava que ele soubesse. -Ela morreu ano passado, no hospital em que meu pai trabalha. Eu descobri isso ontem! Mas o que você quer que eu faça?
-Porque não contou a ela? Porque incentivar cada vez mais essa busca inútil ?
-Porque eu gosto dela! -Gritou irritado. Porém, ele ficou mais desconcertado do que eu. Nem ele mesmo sabia de seus sentimentos pela Stephanie. O clima ao nosso redor começou a ficar mais tenso e mais frio -A verdade pode machucar, mas a mentira pode destruir. Eu vou levá-la a verdade. Vou levá-la ao desfecho do seu passado. -Diz abaixando a voz -Não irei deixá-la agora!
-Lembre-se que você está mentindo para ela ao incentivar isso. Ela está crendo que a Lee Jang-me está viva. Então não me venha com essa de que: "a verdade pode machucar."
-Acho que nós nos despedimos aqui! - Ele enfia as mãos no bolso
Faço o mesmo e dou meia volta para o caminho até a casa de Eliza. Ao entrar, pego o meu violino sobre a mesa e desligo a televisão, que estava ligada no canal da previsão do tempo.
-Porque não dorme aqui? -Surgere Stephanie, que vinha secando o cabelo com uma toalha
-Posso ir pra casa. Não está tão tarde.
-Não estamos em Seul! Sabe como as ruas de Busan ficam vazias a noite. E também, tem algo que preciso falar com você! -Ela sorri gentilmente e joga a toalha no ombro, após secar parte do cabelo. Me sento no sofá, indicando que ela fale.
-Fiquei pensando sobre aquilo que você falou. Sobre eu estar tão focada em conseguir algo que esqueço de todo o resto. É verdade que eu me afastei das minhas amigas e até mesmo da minha avó. Entrei em um novo emprego para conseguir dinheiro e acabei ficando sem tempo. Tudo isso porque eu queria achar uma pessoa, mas agora, não sei mais se vale a pena. Eu realmente não.. -Ela abaixa a cabeça e suspira lentamente -Só não quero me arrepender, por ter feito algo ou por não ter feito.
No início, achava que tudo isso não passava de uma curiosidade, sobre a mãe perdida. Mas agora, vejo que isto está a sobrecarregando. Steph não pode contar com sua avó, pois teve medo da sua reprovação. Não pode contar com suas amigas, pois se afastou delas. Sua única fuga, foi Yong Nam, que esteve disposto a ajudá-la, sem criticar.
-Estarei aqui, quando tiver certeza do que fazer, mas também estarei aqui, caso se arrependa. -Digo
Ela esboça um sorriso e balança a cabeça em confirmação.
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Sinos do Vento
Teen FictionStephanie Lee, uma jovem musicista da Coreia do Sul almeja em seguir a tão sonhada carreira de seu pai. Ser uma pianista! Vivendo em sua normalidade na cidade de Busan com a sua avó, até que em um dia de chuva, o destino lhe apresenta a Choi Yong Na...