Stephanie:
Conversar com Jun-Ho me trouxe um pequeno conforto, no que levou a seguir em frente. Minha mente vagava pela madrugada silenciosa. Era a única hora que eu podia pensar com clareza.
Choi me avisou ontem sobre uma casa em Daegu, que possivelmente poderia ser da minha mãe. Se eu decidir ir até lá, poderia perguntar sobre a casa na China e o porquê de estarmos na Coreia.Porque nos abandonou?
Porque me abandonou?Com certeza, evitaria perguntas como essas.
E se ela tiver uma família nova?
Uma família que ela não fugiria.
Como eu reagiria se isso for verdade?
Com certeza não choraria, nem algo do tipo. Já que não temos um vínculo de mãe e filha, como o resto das pessoas.
Tudo aponta para Daegu, mas minha mente aponta para minha avó. Sinto-me ingrata por todos os anos que ela cuidou de mim. Deveria contar a verdade.
Nesse momento, meu celular começa a tocar. Olho para a tela e vejo que é o Choi.
-Choi? Aconteceu algo? -Pergunto ao atender. Parece um déjà vu. Ele me perguntou a mesma coisa, na última vez que liguei para ele de madrugada.
-Se lembra quando você me disse para fazer algo admirável, que eu me orgulhe e sinta vontade de contar aos outros? -Diz Choi, lembrando do meu conselho -Bem, eu disse a verdade aos meus pais. Meu irmão ficou pasmo quando comecei a falar. Ele sempre me encobriu e me apoiou a fazer o que eu amava. Pelo menos, agora não precisa mais arrumar desculpas, explicando o porquê de eu chegar cedo em casa. -Ele ri
-Isso é ótimo Choi! Como eles reagiram?
Ele não responde.
-Choi?
- Minha mãe reagiu melhor que o meu pai. Ela entendeu o porquê eu fiz isso e ligou para um de seus amigos desenhistas que trabalha com um estúdio de animação no Japão. Ele retornou o contato e me pediu para enviar alguns dos meus desenhos ao estúdio, e em breve enviará uma resposta.
-Com certeza ele irá gostar! Nunca vi ninguém desenhar como você!
-Me desculpe te acordar essa hora, mas precisava lhe contar. A ideia de mentir não foi uma da melhores, mas te agradeço porque me deu um ponto final.
-Tudo bem! Eu já estava acordada. É sempre um prazer poder ajudar.
-Pensando no que fazer hoje? -Pergunta
-Meu estômago está enjoado só de pensar em Daegu.
-Eu irei contigo! A hora que quiser!
-Obrigada! -Abro as cortinas para observar o céu. Não demoraria muito para o sol sugir. -Irei ao amanhecer!Ao desligar o telefone, pego dinheiro suficiente para a pequena viagem e coloco no bolso da calça. Visto o meu longo casaco vermelho, junto com o meu cachecol quadriculado. Prendo o meu cabelo em um coque e desço para a sala, fazendo o mínimo de barulho possível. Jun-ho estava dormindo em um dos sofás e eu sento no outro sofá, de frente para ele.
Então eu percebi que você só nota as coisas ao seu redor, quando você para sobre o silêncio.
Nunca havia notado no seu cabelo castanho escuro com cachos nas pontas ou até mesmo no grande corte que percorria o seu braço. Provavelmente uma cicatriz da infância. A sala estava escura, mas conseguia enxergá-lo muito bem.
Senti como se o tempo houvesse parado ali. Não havia chuva, nem ventania, nem carros na rua, nem uma pessoa sequer ao lado de fora, fazendo qualquer tipo de ruído. Era apenas eu e um garoto violinista que reapareceu na minha vida, depois de mais de quinze anos e agora me aconselhava como ninguém.Ao olhar para o celular, percebo que ainda são quatro horas da manhã.
-Você disse que estaria aqui, mesmo se eu me arrepender. -Sussurro olhando para o chão
-Vou cumprir minha promessa!
Levanto a cabeça rapidamente e vejo Jun-ho me olhando
-Você não é a única que não consegue dormir. -Diz baixo e sorri
-É. Acho que não.
-Antes de você ir. -Seu sorriso desaparece e sua expressão se torna vazia -Deixe o endereço do lugar, onde você vai. Caso algo aconteça, vou saber onde está e não deixará a Eliza preocupada.Razão.
Jun-ho é o raciocínio que sempre quer me mantém segura e evitar uma cicatriz.-Deixarei em cima da mesa. -Aviso - Você vai contar a ela?
-Contar o que? Que vai atrás de alguém importante para você? Não vou. Fique tranquila.
Ele se vira e olha para o teto. Minutos depois fecha os olhos e aparenta dormir, mas sei que está acordado por estar preocupado comigo.
-Você é uma boa pessoa Jun-ho. -Sussurro e sei que ele me ouviu
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Sinos do Vento
Fiksi RemajaStephanie Lee, uma jovem musicista da Coreia do Sul almeja em seguir a tão sonhada carreira de seu pai. Ser uma pianista! Vivendo em sua normalidade na cidade de Busan com a sua avó, até que em um dia de chuva, o destino lhe apresenta a Choi Yong Na...