Agora seremos só eu e você.
A frase dita pela minha avó a anos atrás, quando perdi os meus pais ecoa pelos meus ouvidos.
-Eu não quero isso. -A pequena Stephanie cruzava os braços e olhava para os pés
-Eu também não. -Eliza se limitava a chorar na minha frente -Mas ficaremos bem!*
A volta para casa estava fadigante. O clima de repente ficou seco, o céu não estava mais tão ensolarado e bonito como antes.
Me limito a falar. Me despeço da casa em que estava, sem ao menos olhar em seus rostos. Não queria falar e não conseguia falar. Uma mistura de raiva e tristeza se formava em mim ao olhar para Choi, que andava ao meu lado.
Ele abre a boca para falar algo, mas logo desiste. Tenta novamente, mas não consegue.
Depois de tudo que eu passei, de tantas mentiras que criei, do tanto que me preocupei, trabalhei e sonhei com esse dia, de repente tudo foi atingido por um balde de água fria.
-Por que não me contou? - Tomo coragem e paro de andar
Ele abaixa a cabeça.
-Steph...
-Se você tivesse me contado eu não teria vindo aqui e descobrir tudo dessa forma.
-Me desculpe! Achei que.., achei que era melhor saber pessoalmente.
-Eu nem consigo raciocinar direito. Tudo parece um desastre.
Ele se cala e fica parado ao meu lado.
Eu respiro fundo para não começar a chorar na sua frente, novamente.
-Eu não sabia dessas coisas. -Ele chochicha -Eu só descobri sobre o falecimento dela, recentemente.
-Entendi. Sabe Choi? Por um lado, eu estou com raiva. Com muita raiva. Eu quero ir embora, mas sem saber para onde. Não poderia nem ao menos voltar para casa assim. - Deixo uma lágrima escapar - Por outro lado, se isso não me acontecesse, ficaria sem sabe sobre a casa na China e o motivo da minha mãe ter ido em embora. E devo isso a você.
Ele me encara.
-É difícil para mim digerir tudo isso, ainda mais quando olhei aquelas meninas e entendi que éramos da mesma família, mas eu não posso esquecer de te agradecer por me apoiar desde o início. Quando falei que lembrava do passado através de sinos. Outra pessoa acharia loucura, mas você me trouxe até aqui. Sempre imaginei o meu pai como um herói. Alguém que foi injustiçado e teve um triste fim e por isso sua música permanecia comigo. Agora que descobri a verdade, não sei mais se toco por ele ou porque eu realmente amo a música. -Explico
-Já te vi tocar. E é uma das coisas mais maravilhosas de se ouvir. -Ele alega
-Nunca toquei piano com você por perto.
Ele sorri cautelosamente e se aproxima do meu ouvido -Você é a garota que eu desenhei no dia da apresentação da faculdade. Sei que viu o quadro. -Sussura
-Você.... -Fico pasma. Como eu não pensei nessa possibilidade? Ele estava bem na minha frente o tempo todo e eu não percebi. -Você é ótimo em bisbilhotar, senhor Yong Nam!
Ele coça a cabeça, um pouco constrangido, porém feliz pela minha resposta, feliz por eu não o odiá-lo.
Se não estivesse preocupada com Jun-ho, permaneceria naquele mesmo lugar, com Choi. Estar com ele, era como se não houvesse problemas, pois ele sempre tinha a solução.
Mesmo em situações difíceis, ele conseguia me deixar mais satisfeita e feliz por tê-lo perto.
-Em breve eu terei que partir. -Diz
-Partir?
Ele me mostra uma mensagem em seu celular do Estúdio de Tokio. Enviada hoje de manhã.
-Eles querem que você vá para o Japão? Isso é incrível! Eu sabia que gostariam do seu trabalho! - Digo
Era muito satisfatório saber que alguém estava seguindo os seus sonhos, quando semanas antes, estava quase desistindo. No entanto, ele não parecia feliz.
-Eu não gostaria de ir para Tokio. Não sem antes te perguntar algo. Talvez não seja o melhor momento, mas não sei exatamente por quanto tempo ainda vou ficar aqui.
-Pode perguntar! -Falo
-Quer se casar comigo?Suas palavras me atingem e permanecem na minha mente -Durante vários minutos- Essas com certeza, foram as palavras mais fortes que já ouvi na vida. Não é um "Eu te amo", nem um "namore comigo". Era simplesmente um "quer passar o resto da sua vida ao meu lado?"
Era difícil dizer qual expressão o meu rosto passava naquele momento. Daqui a dois dias eu completaria vinte anos. Seria esse o meu presente adiantado? Não que eu não gostasse de Choi. Ele foi a pessoa com quem passei mais tempo, durante todos esses meses na busca pela minha mãe. Ele é um dos únicos que conhece os meus maiores segredos e não me julgou, nem questionou os meus motivos.
Não posso dizer que não gosto dele, mas dizer que o amo e que estaria disposta a largar tudo para ficar ao seu lado? Não sei se gostava dele a esse ponto. Penso na minha avó, em Hedley e Ayla, penso no meu futuro e em Jun-ho.Jun-ho.
Nem se quer saberia o que falar para ele, quando o visse. Com certeza, ele estaria no mesmo lugar, como me prometeu.
-Eu... -Tento falar algo
-Não precisa me dar a resposta agora! Ainda tenho tempo antes de me mudar. Não se sinta precionada. -Ele sorri gentilmente - O trem virá em menos de dez minutos. É o tempo que caminhamos até a estação.
Eu concordo com a cabeça e voltamos a andar, porém a volta não é mais a mesma.
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Sinos do Vento
Teen FictionStephanie Lee, uma jovem musicista da Coreia do Sul almeja em seguir a tão sonhada carreira de seu pai. Ser uma pianista! Vivendo em sua normalidade na cidade de Busan com a sua avó, até que em um dia de chuva, o destino lhe apresenta a Choi Yong Na...